sexta-feira, 14 de março de 2014

O insulto como norma


Vivemos numa época e num país a preto e branco. Só há uma verdade, só um lado é que tem razão, e tudo ou todos que saiam fora deste esquema são mimoseados com palavrões dignos de latrina.
É surpreendente como gente educada, instruída, ocupando lugares importantes na hierarquia profissional e fazendo parte de famílias tidas por normais, bolsa uma catadupa de expressões que serão tudo menos a representação dos lugares que ocupam no mundo a que pertencem.
Pode-se discordar, pode-se argumentar, pode defender-se o indefensável, desde que haja cordialidade. Mas em Portugal não se sabe discutir serenamente. Sabe-se difamar. De "besta" para baixo usa-se tudo. E se isso me não surpreende em gente sem instrução, deixa-me completamente abismada relativamente àqueles que a possuem e de quem se espera, pelo menos, algum exemplo.
Ainda há bem pouco tempo li um texto de uma directora de recursos humanos de uma grande empresa que usava tais termos que mais parecia um recruta de caserna a expressar-se. Eu só me perguntava qual seria a reacção de um neto que a lesse ou ouvisse.
Pertenço a uma família onde houve presos políticos e onde o espectro ideológico era o mais amplo. Como seria possível convivermos, se todos se insultassem?! 
Portugal levou anos e anos sem abrir a boca. Dá-se aos portugueses liberdade de expressão e uma parte significativa deles usa-a para o insulto. É uma pena!

HSC

21 comentários:

  1. Não se sabe discutir porque não estão habituados, desde cedo, a argumentar.

    Refletimos isto numa das aulas da faculdade e a conclusão a que chegamos é que (salvo raras exceções, haverá sempre quem promova estas atitudes) os professores não ensinam os seus alunos a debater e demonstrar o seu ponto-de-vista, quando crescidos, não vêem outra escapatoria senão o insulto.

    Um beijinho,
    Bom fim-de-semana,
    Vânia Batista

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  2. Só envereda por esse quem não sabe argumentar!

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  3. Tem graça de ainda se surpreender com a baixeza a que chegam certas pessoas, supostamente educadas.
    Um forte abraço e feliz fim de semana,
    Zia

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  4. E, se fosse só insulto!.. O propósito é ferir. Como animais predadores na própria selva... A "liberdade de expressão" ultrapassa os limites dos básicos direitos humanos... Como a Helena diz: "uma pena!!"

    (Hoje, desci à terra e, qual não foi o meu espanto, quando percebi, através daquilo que li e ouvi, que continua a existir pouco respeito e educação para com os "outros")

    Abraço grande Helena e bom fim de semana.

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  5. A tal parte significativa é, infelizmente, a maioria. É pena que nunca lhes tivessem ensinado a diferença entre liberdade e libertinagem.

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  6. Sabe, Helena, esta crise, para muita gente, tem costas largas; respalda a intransigência, a crispação e a má-criação. Quarenta anos após Abril, há quem não saiba que Liberdade não é apenas um direito, ou melhor, é um direito que arrasta consigo inúmeras obrigações - a de saber respeitar, saber ouvir, saber tolerar. Se palavras acusatórias e sentenciais como mentiroso e ignorante são amiúde utilizadas na AR, outras, as tais de latrina, são seguidas por muitos mais. A instrução pode ser um meio de atingir conhecimento, mas só isso. É na educação que se encontra o cerne deste mal. Costumo dizer que quem não tomou chá de pequenino tem toda uma vida para o fazer, nem que seja em doses profiláticas. A grande cisão não está entre a esquerda e a direita ou entre o conservador e o liberal. A grande diferença nos dias de hoje está em quem sabe respeitar todos em liberdade e em quem não respeita o outro sob a capa da "frontalidade". Nas pessoas de bem e nas restantes. Quanto ao exemplo que refere, olhe, aprendi consigo: ignorar, ignorar... - o histriónico é ridículo e este acaba sempre por definhar sozinho.

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  7. Há gente sem instrução que é muito bem educada. A má educação surpreende-me em qualquer pessoa. Os instruídos abusam do desdém, por exemplo, que eu considero falta de educação e que fica mal a qualquer um.

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  8. Deu um exemplo fundamental, a questão do neto. Sempre me lembro de por uma questão de educação, ser balizada por alguns limites. Hoje, sou eu própria que os imponho a mim mesma. A questão reside muito na política do vale tudo, até porque é bem e bonito ter qualquer coisa a dizer, ainda para mais se causar impacto. Não há vergonha nem limite para as audiências, todos sabemos disso... E nada te a ver com instrução ou mesmo até, em muitos casos, possível educação. Tem muito mais a ver com objectivos pessoais...

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  9. Totalmente de acordo com este seu
    texto. Mas começa no nosso PM
    que chama "essas pessoas"...por
    exemplo a um Dr. Adriano Moreira...
    Se soubessem 1% do que ele sabe,
    e dessem ao país 1% do que ele deu.
    Será que já leram algum dos seus
    livros?
    Bom fim de semana.
    Bj.
    Irene Alves

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  10. Senhora!
    Para a sua tensão arterial um elixir em dose qb com um cavaquinho ou ukelele para dançar e relaxar no seu terraço ao sol.

    http://youtu.be/xMQbExk7-zY

    Aloha dra e bom fim‑de‑semana com Hula-Hula e um colar de flores.

    Ambrósio

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  11. Ambrósio
    Aqui vai para troca
    https://www.youtube.com/watch?v=ACSQQFU1Drc
    com uma caixa de Ferrero Rocher
    :-))

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  12. Obrigado Senhora!
    Estou encantado.
    Vou a caminho com um Mai Tai e um Blue Hawaii á sua escolha.

    http://youtu.be/sE9V-9lQC0A

    Ambrósio

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  13. Totalmente pertinente o seu post, Helena . Eu também leio pessoas que, fazendo questão de elucidar o povo sobre a sua excelência e sucesso profissionais, bem como sobre o seu irretocável caracter, generosidade e sensibilidades várias, rondando a perfeição, actuam depois com um nível de intolerância absolutamente inusitado e primário contra quem pensa e faz diferente daquilo que elas gostam. Como é possível alguém com obrigação de ser razoavelmente civilizado, usar uma linguagem tão degradante e maniqueísta - bons e maus, burros e inteligentes, patriotas e traidores, decentes e desprezíveis, belos e horrendos (!) - e tudo sempre à beira de um ataque de nervos ... chocante. Apetece dizer, oi, pessoas, vamos lá, vamos segurar um pouco a arrogância … vamos elaborar um pouco mais o debate … vamos fazer melhor do que isso …

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  14. E se há quem insulte e atire pedras também há quem elogie e ofereça flores.
    Para que Portugal ganhe cor e não seja a preto e branco aqui fica para uma Milady Especial.
    Flores de todas as cores.
    http://youtu.be/GuTS5nG-HfU

    MFK

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  15. Helena, ao que escreveu acrescento o uso do "palavrâo" gratuito a propósito de tudo e de nada e em qualquer lugar. Após tantos anos de liberdades, ainda se esquecem os deveres e é pena. Boa semana! Beijinho

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  16. Portugal é pobre, terrivelmente pobre. E com os pobres não se negocia: exige-se! Falar de dívida é um meio que serve para descrever relações desiguais. Os mafiosos compreenderam isso : utilizam frequentemente o termo de dívida, mesmo se aquilo que eles fazem é na realidade uma extorsão! Quando eles anulam ou estendem os prazos de pagamento da divida isso passa por ser considerado como generosidade.

    Em contrapartida, os ricos podem ser incrivelmente compreensivos no que respeita a dívida dos outros ricos : os bancos americanos Goldman Sachs e Lehman Brothers podem fazer-se concorrência, mas quando algo ameaça a sua posição geral de classe, de repente, podem esquecer todas as dívidas contraídas se eles quiserem.

    Recordem-se : Foi em 2008. Triliões de dólares de dívidas desapareceram, porque isso convinha aos poderosos. Da mesma maneira os pobres vão ser compreensivos uns para os outros. Eventualmente, um empréstimo a um próximo pode transformar-se em presente, ou perdão.

    Mas quando existem estruturas de desigualdades, a divida , de repente, é uma obrigação moral absoluta. Em muitas línguas, dívida, culpabilidade e pecado são a mesma palavra ou têm a mesma raiz. A divida aos ricos é a única verdadeiramente "sagrada". Como explicar que quando Madagáscar deve dinheiro aos EUA se encontra em dificuldade, mas que quando são os EUA que devem dinheiro ao Japão, é o Japão que está em dificuldade.

    E fascinante de ver a ligação entre a noção de dívida e o vocabulário religioso, de constatar como as primeiras religiões começaram com a linguagem da dívida : a vossa vida é uma dívida a Deus. A Bíblia fala-nos de pagar os nossos pecados... Dogma moral, a dívida justifica as dominações mais terríveis. Li algumas frases do Cardeal D. José Policarpo sobre a dívida soberana portuguesa: Não há duvida nenhuma : Os Portugueses têm de aguentar... e pagar.
    A linguagem da dívida permite de justificar uma relação de poder arbitrário.

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  17. Peço desculpa: Inseri aqui um comentário que se destinava ao "post" : "A quem pode interessar" .

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  18. Bom dia
    A vindica, os insultos, os nomes de pássaros, as pequenas frases assassinas, as cascas de banana, as provocações de todos os géneros, não são mais que o reconhecimento das pessoas que não têm mais argumentos a apresentar para defender a sua politica, as suas proposições ou simplesmente as suas opiniões.
    Aquelas ou aqueles que têm ideias claras a defender não têm necessidade de insultar quem quer que seja, que se esteja ou não de acordo com eles ou com elas.
    E não é só problema da educação de base da grande massa que está em causa, porque entre aqueles que tiveram a possibilidade de se educar e cultivar o problema é o mesmo.
    E o espectáculo , por vezes, na Assembleia Nacional , é o grau "0" da politica !

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  19. A culpa é SEMPRE dos professores!!!

    Vânia Batista, a EDUCAÇÃO é dada em casa. Os princípios e os bons valores vêm de casa. Em matéria de educação a escola só tem que ser um complemento.

    Uma boa noite!

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  20. Não sei se a Cara Isabel ainda me lerá , porque a lista dos comentários vai longe. Tem razão: a boa educação aprende-se em casa. Os professores trazem-nos o saber. Mas imaginemos as condições de vida de tantas e tantas famílias no nosso pais, onde a luta pela vida do dia a dia comporta um mínimo de regras de saber viver, que a educação passa pela rua. Os pais já há muito que abdicaram do papel preponderante que devia ser o deles: por ignorância e por falta de educação deles mesmos. E tudo isto num contexto generalizado de mediocridade que não poupa os governantes nem o sistema .

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  21. Defreitas
    li o seu comentário. Eu sei tudo isso e tem toda a razão. Hoje a escola debate-se com o problema da desresponsabilização das famílias, por variados motivos. E o peso da responsabilidade da escola cresce, na proporção da desautorização dos professores.
    Os professores são desautorizados, mas tudo lhes é exigido.
    É uma profissão extremamente desgastante.

    Não concordo que assim seja e irrita-me quando fazem comentários como o que fez a Vânia, porque os professores trabalham imenso e não podem mudar sozinhos um mundo que está a apodrecer.
    Enfim, vamos ver o que o futuro nos reserva, como serão as novas gerações. Posso dizer-lhe que pela minha parte esforço-me imenso nas questões da educação, mas é como lhe digo: os professores só complementam. Muitas vezes dizemos uma coisa na escola e em casa dizem outra e vêem fazer outra. É muito difícil...

    Boa noite.
    (Obrigada HSC por permitir aqui este diálogo)

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