"Era um
espírito lúcido, dotado de uma ironia fina e capaz de ver sempre para além da
linha do horizonte. Foi um dos melhores deputados que tive o privilégio de
conhecer durante os meus anos de repórter parlamentar na Assembleia da
República. Um verdadeiro social-democrata, de matriz nórdica, pioneiro no
processo da adesão de Portugal às instituições europeias na ressaca do processo
revolucionário. E também um socialista sempre à beira da dissidência do partido
que lhe era nuclear, tendo chegado a ser aliado estratégico de Francisco Sá
Carneiro num momento crucial do actual regime constitucional português e
participado nesse extraordinário equívoco que foi o PRD, pela amizade fraterna
que o ligava a António Ramalho Eanes. Tal como viria a apoiar a fracassada campanha
para a reeleição de Mário Soares, onde sempre pareceu um dos maiores
entusiastas contra todas as evidências.
Porque ele
era assim: apreciava cultivar amizades. Como outros cultivam um carreirismo que
nunca perfilhou. E lhe custou a possibilidade de ascender a cargos ministeriais
no PS pós-década de 70, em benefício de algumas mediocridades ululantes.
Apesar
do preço que pagou pela independência de espírito, nas saborosas conversas que
travámos nos corredores parlamentares e na sua casa de Lisboa, na Calçada
Miguel Pais, nunca lhe ouvi uma palavra desprimorosa em relação aos tiranetes
de turno que lhe foram cortando o passo nos meandros partidários.
Era
um cavalheiro à moda antiga.
E também
um observador acutilante da realidade portuguesa sem nunca perder uma certa
fleuma que lhe vinha do berço nas brumas atlânticas. Na televisão, na rádio,
nos jornais, na blogosfera (e também aqui no DELITO escreveu).
Um
senhor, em suma.
Acabo
de saber que partiu. Com o mesmo desprendimento, a mesma
fleuma, a mesma suavidade com que viveu e marcou as vidas de tantos de nós.
Inclino-me
perante a memória de José Medeiros Ferreira. Açoriano de gema, resistente à
ditadura, exilado político, democrata por convicção, um espírito livre de todas
as horas. Encarnando, em suma, o melhor da alma portuguesa: foi um patriota de
raiz sem deixar de ser cidadão do mundo."
(Pedro Correia no blog Delito de
Opinião)
Este texto lindíssimo é um retrato
fiel de Medeiros Ferreira. Tudo o que eu pudesse escrever se-lo-ia menos.
HSC
Partiu, que descanse em paz. Homem realmente de ABRIL.
ResponderEliminarBeijinhos, Zia
Concordo consigo, HSC.
ResponderEliminarMelhores cumprimentos.
Um Senhor, em suma!
ResponderEliminarIsto diz tudo. Paz à sua alma.
Um verdadeiro SENHOR.
ResponderEliminarDescanse em Paz.
Isabel BP