AMAR A VIDA era o título que deveria ter tido o meu último livro, que sairá, espero, dentro de dias. Por razões diversas, tal não foi possível, e acabou por se chamar VIDA E ALMA.
Porque é que o refiro aqui? Porque parece não haver coincidências, como diria a Margarida Rebelo Pinto. Se não, vejamos. Este meu livro é dedicado ao Padre José Tolentino de Mendonça que, este fim de semana, assina no Expresso, a crónica AMADA VIDA. Não pude deixar de sorrir...
Com efeito, acredito que não foi por acaso que conheci este pastor de almas, a quem pessoalmente tanto devo. Por surpreendente que pareça foi a morte do meu filho Miguel que o permitiu. E, quanto mais tempo passa sobre esse encontro, mais confirmo que há, de facto, pessoas que têm o condão de deixar uma marca na nossa existência. Não pela frequência da sua presença, mas pelos grãos que semeiam nas nossas vidas.
Nesta crónica fala-se da dor e da necessidade de nos não instalarmos nela, como se ela fosse uma espécie de exibição do nosso heroísmo, no qual a listagem dos nossos achaques e traições tivesse que ser sempre maior do que a do nosso vizinho.
Este texto tocou-me particularmente, porque fui educada no estrito princípio de que as dores devem ser consumidas e as alegrias partilhadas.
Mas também se fala do perdão, não no sentido vulgar do termo, mas na perspectiva de que o "outro", aquele que faz de nós vítimas, pode também ter sido, ele próprio, uma vítima . Não se trata de "desculpabilizar", mas sim de tentar perceber que a ferida que muitas vezes nos provocam, pode ter razões noutras que foram infligidas ao nosso algoz.
E aqui reside, basicamente, a necessidade do perdão. Aos outros e a nós próprios, nessa que é a expressão de verdadeiro amor à vida.
HSC
Muito bom, Helena, o seu comentário, aliàs, as usual.
ResponderEliminarBom sentir a sua sensibilidade e delicadeza para com as fragilidades (chamemos-lhe assim ...) do outro, não obstante a firmeza das suas convicções (quem dera eu ...). Sempre aprendo quando a leio. Sempre me conforta a sua tão lúcida e feliz maturidade. Como dizia alguém: faça o favor de continuar assim ...
Ainda ontem, num jantar de amigas, falei nesta crónica que, também a mim, me tocou de maneira especial. A necessidade de não assumir o papel de vítima e saber perdoar, são duas directrizes necessárias, na construção de uma vida feliz, a nível pessoal e colectivo. A simplicidade da explicação do Padre Tolentino de Mendonça chega a todos e, de maneira especial. É, na verdade, um ser, muito, muito especial.... Aqui, também, nada é por acaso; Identificações entre comentadores e comentados...
ResponderEliminarAguardo directrizes, em relação ao lançamento do livro.
Um enorme abraço.
Vu procurar não esquecer esta sua frase :
ResponderEliminaras dores devem ser consumidas e as alegrias partilhadas.
É de capital importância, sobretudo nos tempos que correm tão madrastos.
Melhores cumprimentos.
ResponderEliminarSe me ferem sem importancia, esqueço.
Se a ferida deixar uma enorme cicatriz, digo : que Deus lhe perdoe se for possível porque eu não. Depois arrumo o assunto na gaveta do fundo, mas não esqueço.Sei que é um grande defeito,mas não consigo corrigir.
Também gostei do texto,mas mexe muito comigo
Muito bonito este post, Helena! Concordo consigo: há pessoas que marcam profundamente a nossa vida, mesmo que tenham nela uma passagem fugaz.
ResponderEliminarQuanto ao Padre Tolentino de Mendonça, ouvi-o uma vez apenas, e impressinou-me de maneira muito particular o modo simples, suave e despretensioso como diz coisas "grandes".
Entretanto cá esperamos o seu: Vida e Alma.
Beijinho
Isabel M.
Na minha opinião AMAR A VIDA seria mais restritivo do que ALMA E VIDA.
ResponderEliminarAmar a vida remete-nos para os conceitos de felicidade, de prazer, de hedonismo, de bon vivant.
Alma e Vida é um título mais denso, mais misterioso, mais filosófico, a alma para muitos seria o elo entre o espírito e o corpo, a alma é vista por muitos como a essência imortal, a vida acaba (ou não) na morte.
Alma mais etéreo, vida mais terreno- conceitos que parecem ser opostos mas se complementam. O que seria de uma vida sem alma!
Tmbém acho que muitas vezes se trata do pardão a nós próprios ao que nao aceitamos em nós e que está cá dentro das nossas profundezas, ou algo que o nosso algoz, como tão bem refere, precisa de ser perdoado...
ResponderEliminarDe facto, é muito difícil perdoar!
ResponderEliminarTodos conhecemos "... Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido...". É partindo deste princípio que eu tento perdoar, ser melhor... por vezes sem qualquer êxito. Mas tenho a certeza de que é este o caminho e que vale a pena tentar.
Obrigada pelo seu post!
É assim, uns tocam-nos por dentro, outros apenas de raspão!
ResponderEliminarHá necessidades que são difíceis. Dolorosamente difíceis. A gente sabe o que DEVE ser feito, mas custa fazer...
ResponderEliminarLuísa Moreira
De todas as vezes que lhe oiço esta frase, fico sempre a pensar nela.
ResponderEliminarConcordo consigo muitas vezes e admiro o seu estar, a sua lucidez e o seu espirito. Contudo esta sua frase deixa-me sempre preplexa.
Não sou capaz de esconder de uma amiga(tambem nunca o faria em praça publica claro)uma preocupação, um desgosto.
Partilhar as nossas dores com os amigos para mim é uma questão de fidelidade de sinceridade, até mesmo de cumplicidade.
Penso sempre o que é que me faltará para entender esta sua "lei".
Cumprimentos e muita admiração
O meu ex- dizia que eu era hipocondríaca da saúde - ou seja, tinha a obsessão de que era saudável , de que tudo estava bem comigo e nada me podia abalar. Nunca me queixava, mesmo quando tinha problemas sérios de saúde.
ResponderEliminarBons tempos.
Mas concordo que devemos sofrer sozinhos e alegrarmo-nos sempre com aqueles que mais amamos.
Esquecer, sim, que é difícil. Olhando o outro como um irmão em Cristo, «perdoar» nem chega a pertencer ao léxico.
ResponderEliminarDiscordo, em absoluto, do «sofrer sozinho» por dever, por obrigação. Na minha família_clã, aí residindo a sua principal força e coesão, dividimos, sem espaventos,com amoroso respeito pelo tempo de que o outro precisa, tristezas e alegrias. Nada de heroísmos solitários, é, há gerações, o lema.
Tolentino de Mendonça, que magnífica Palavra, que Poeta!
A.S.
Não nos instalarmos na dor não significa, muito pelo contrário, que não possamos desabafar com alguém.
ResponderEliminarA primeira coisa que temos de dizer a uma criança, a um jovem, a um adulto, a um idoso, é que não se isole com os seus problemas, que não tenha pudor em falar com alguém, que é importante que não fique calado.
Mas aquilo de que fala HSC, creio, é sobre a exibicionismo da dor, do choradinho, para obter pena dos outros e ganhar com isso.
Todos nós já assistimos a situações em que as pessoas falam ao despique sobre os seus males, mas ninguém ouve ninguém. Terá isso alguma função social?
Será isso uma forma de escapar à tão falada inveja dos portuguesa, que não suportam, diz-se, ver alguém feliz e bem sucedido.
Caros comentadores, em particular anónimos das 20:23, A.S e Por do Sol
ResponderEliminarTodos nós somos diferentes. Uns precisam de partilhar dores e alegrias. Outros nem tanto. Eu pertenço a estas últimas. Não porque seja solitária, mas porque entendo que a partilha da dor me não alivia.
Quando a dor é imensa, até falar dela, dói. Já tive, ao longo da vida, perdas irreparáveis. Elas foram ultrapassadas de modo silencioso, porque "os meus" precisam da minha força.
Tenho bons amigos. Mas há dores - como a morte de um ente querido - que não são partilháveis. Seria impossível, pelo menos para mim, falar delas. Vivem-se, mas não se partilham tal a intimidade de que se revestem. E a intimidade não é algo, creio, de que se fale com amigos.
Mas este é o meu caminho e vale tanto como qualquer outro. Não pretendo convencer ninguém a seguir os meus passos!
ResponderEliminarNuma altura muito dolorosa da minha vida, um dia os meus filhos chegaram do colegio com uma amiguinha que gostava muito de ir para minha casa. A garota viu-me a chorar e não disse nada. No dia seguinte a minha filha trazia um envelope que a amiga tinha escrito para mim.Abri, e numa folha rasgada do caderno, com uma letra de final de 1ª classe (hoje 1º ano)dizia assim
ISABEL
SOFRE
SEMPRE
SORRINDO
És a mãe mais bonita que eu conheço.
Não sei se a ideia foi dela ou de outra pessoa, mas talvez dela, porque era filha de pais muito ricos,muito ausentes e de quem ela gostava era de mim.
De facto as lágrimas de riso correm pela cara e as de tristeza só caem na alma. De facto são as que doem mais, mas ninguem vê.