quinta-feira, 19 de setembro de 2013

As pontas...

Jantei ontem com um querida amigo que se radicou em França há muito tempo. É um homem com 66 anos, uma bela figura, e uns olhos verdes mar que ainda hoje fazem razias nos corações femininos. Felizmente, estou imune a estes predicados.
Rimo-nos sempre quando ele vem a Portugal, ou quando eu vou a França e temos uma cumplicidade que suscita muitas invejas porque, de facto, o que nos liga é decididamente especial e "só para consumo da casa", como costumamos dizer.
Desta feita o repasto foi num restaurante cuja existência desconhecia e que é um soberbo terraço sobre Lisboa. Julgo que pertence ao grupo Visabeira. Estava pejado de estrangeiros e de jovens, cujo poder de compra sempre me surpreende.
Foi justamente sobre a juventude que a conversa começou. E por uma afirmação que, a propósito, me fez. Dizia ele que Portugal era desgraçadamente um país sem pontas.
Perante a minha surpresa, explicou-me que, aqui, os jovens e os velhos eram muito maltratados, quando afinal eles constituíam as "pontas" de que qualquer sociedade carece para, por um lado, progredir e para, por outro, transmitir conhecimentos e valores.
A noite terminou bem tarde e eram duas da madrugada quando me deitei. Mas tive dificuldade em adormecer porque fiquei a matutar no que ele me dissera. Concluí que tinha toda a razão: se não conseguirmos inverter esta situação, o caminho não será só de pedras. Pode mesmo não haver caminho...

HSC

13 comentários:


  1. Nunca me tinha ocorrido, mas na verdade é uma bela afirmação. Quem nos governa devia matutar como a Doutora Helena porque de facto é preocupante.

    Boa noite

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  2. Já estive mais optimista.

    Melhores cumprimentos.

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  3. As carências dos velhos em Portugal ainda derivam ( para utilizar um verbo muito em voga) do reinado salazarento, do tempo em que não havia reformas ou estas eram uma miséria. A minha sogra pediatra durante 40 anos no Instituto maternal do Porto ficou com uma reforma de 140 contos, apesar de estar lá das 9 às 5 e não ter consultório particular por razões de ética e crença na medicina para o povo ( bem se arrependeu anos mais tarde).
    Os velhos na sua maioria são pobres em Portugal. Faz impressão vê-los ao Domingo todos contentes no autocarro para a Foz...aqueles que conseguem ir...vivem mal, não têm apoios sociais nenhuns e os jovens parece que lhes têm asco só porque conseguiram andar na escola e podem comprar telemóveis.
    Quanto aos jovens portugueses, lidei com eles 37 anos e há de tudo: muito bons, medianos e maus. Só os muito bons conseguem sobreviver neste momento, a não ser que pertençam a famílias que os apoiam fortemente. Os meus dois filhos tiveram que estudar e lutar anos e anos para terem empregos que me orgulham muito. Não havia cunhas nem partidos, mas felizmente eles sabiam isso.
    Há ainda uma geração dos 50, que eu defino como os abrileiros, que se agarraram aos tachos da FP ( função publica....não confundir com outras palavras), que passaram administrativamente a muitas cadeiras, não fizeram estágios a sério e ocupam neste momento os lugares cimeiros nas escolas, nos ministérios, nas DRELS e DRENs, enfim, são umas nulidades, mas estão fixos como lapas e só darão lugar aos novos daqui a muitos anos, pois a reforma está ainda longe.
    Uma injustiça não se poder despedir quem é mediocre...

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  4. Cara Isabel
    Tem toda a razão e a proposta do nosso comentador é muito curiosa.
    Tenciono publicar aqui o vídeo mas antes quero saber mais qualquer coisa.
    Quando me baptizei - aos 19 anos - era muito devota de Santa Teresa. Depois, as minhas relações religiosas foram-se estreitando e, hoje, para além de S. José, meu padrinho e de N. Senhora de Fátima - onde casei gosto muito de ir- limitam-se ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo!

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  5. Se todos tivessem dificuldades em adormecer e a matutar como a Dª. Helena o fez...talvez já tivessem invertido o rumo do caminho que teimosamente nos obrigaram a percorrer; "as pontas" que se se lixem, como se nunca tivessem feito parte de jovens, mas acredito que a maioria dos que nos governam e dos que já governaram mas que vivem com reformas intocáveis e bem douradas, não chegará a "transmitir conhecimentos e valores morais (há excepções)", porque olhando para muitos, já devem andar à custa de muita medicação.

    Não sei se a vontade é de inverter a situação ou se já não temos caminho e apenas aguardar que a crise passe...porque irá passar...mas tenho imensa pena de terem condenado uma ou duas gerações futuras e eu já nãoirei assistir ao renascer das cinzas.

    Assim não vamos lá!

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  6. " Poderá não haver caminho" Esta situação vai levar duas gerações para que se possa inverter. No mais, concordo em absoluto com a argumentação lúcida e pragmática da Virgínia.

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  7. Minha querida Helenamiga

    Belo amigo; belíssimo. Aqui, realmente faltam essas pontas; mas senhores em pontas dos pés é o que falta. Por isso há que avisar a malta.

    Qjs

    Henrique, o aniversariante

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  8. Apetecia-me perguntar-lhe uma coisa, mas não o faço para não me tornar chata!

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  9. Bom dia,
    quanto a este tema, se calhar , por um lado, porque também sou aqui do Norte e vejo o que a Vírgínia vê e, por outro lado, porque também já estive ligada ao ensino, encontro-me em sintonia com ela.
    Cumprimentos,
    Cláuda

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  10. Pertenço à "ponta" dos mais velhos e por eles vou falar: Em Portugal os velhos são colocados no lixo, isto é, ninguém lhe facilita a vida, a todo o momento são desprestigiados. Tenho um familiar no Brasil que pertence a essa "ponta", pois lá os idosos tem muito mais regalias do que aqui, tais como ter prioridade nas filas de transportes públicos, bancos, correios, repartições públicas, viajam gratuitamente nos transportes públicos da cidade, etc.. Isto no Brasil, que é um país do 3º. mundo. Em tempo de eleições, não há por cá nenhum partido que tenha a lembrança de jogar com este tema, em termos de propaganda eleitoral. Dir-se-ia que os nossos políticos nem copiar sabem!...

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  11. Cara Drª Helena,
    lindo o espaço.Bonita fotografia.
    Zambeze,se é este,tem um serviço de qualidade e de facto uma vista soberba,e sim é do grupo Visabeira.
    Boa escolha,eu vou lá algumas vezes.
    A última foi no nosso Sto António.
    A inauguração foi o ano passado,onde esteve representada a classe política e empresarial portuguesa na Cotec.

    A vida é bela,e podia ser bem melhor se "as pontas" se unissem,como já vai aconteçendo.
    O importante é que teve uma bela noite,num belo espaço,com um belo amigo e uma bela conversa.
    Bem haja,e volte que o espaço agradeçe!

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  12. Olhe Dra Helena, não pode postar a foto do mocinho? :-) deve ser giro!!!

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  13. Até porque as "pontas", Helena, podem servir também para "segurar" o resto que possa andar perdido... Fazem falta sim, senhora!!!
    Beijinhos!!!

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