"Para lá das múltiplas especulações que se disseminam na
esfera pública, umas sobre os reais motivos de renúncia do Papa e
outras sobre os cardeais em melhor posição para lhe suceder, o gesto de
Ratzinger tem um interesse especial para o exercício futuro do poder no
Vaticano, que é, como se sabe, uma espécie de monarquia electiva. Apesar de
haver outros casos de renúncia (cinco segundo o Expresso), a
prática consolidada ao longo da História da Igreja Católica não é a de Bento
XVI. O último caso de renúncia foi há 600 anos. O gesto do actual Papa abre o
caminho para que questões de eficiência e eficácia política (na gestão dos
assuntos da Igreja, claro) sejam tidas em consideração por aquele que ocupa o
lugar de Pedro.
O que merece relevo é
a novidade (embora não inédita) introduzida. E a novidade introduzida
é a de uma outra atenção ao kairos, ao tempo propício, e ao papel da
consciência de si. Qual é a hora em que um Papa deverá dar lugar a outro? Qual
o tempo certo? Uma instituição como a Igreja Católica rege-se por uma longa
tradição. Para ela, o ensinamento de Tomasi di Lampedusa, em O Leopardo, é
fundamental. É preciso que tudo mude para que tudo se mantenha. Ora
Ratzinger, com o seu gesto, sublinha que o tempo da natureza (o tempo da morte
natural de um Papa) e o tempo da Igreja não são os mesmos.
No actual estado da cultura
humana e perante os desafios que a humanidade e a Igreja Católica defrontam, a
necessidade de mudança, para que o essencial permaneça, é muito mais rápida do
que outrora. A vida pode prolongar-se por muito tempo num corpo e numa mente
debilitados, e a acção governativa da Igreja pode perder eficácia. De uma forma
mais teológica, o que Bento XVI, com o seu gesto de renúncia, sublinhou foi que
a acção do Espírito Santo pode ser deslocada da esfera da natureza para esfera
da consciência de si e do exame crítico das suas possibilidades e limitações
(pode ser que alguém veja nisto uma concessão ao livre-exame protestante, mas a
verdade é que este auto-exame crítico do Papa se inscreve na sua
infalibilidade). Tudo isto era já conhecido em potência, agora tornou-se
conhecido e vivificado em acto. O gesto do Papa é importante por isso e,
também, porque abre um precedente que pesará sobre os vindouros, que
serão confrontados, na liberdade da sua consciência, com a eficácia da sua
presença, a partir de determinada altura, na cadeira de S. Pedro. Um gesto
seminal." (in KyrieEleyson-jcm.blogspot.pt)
Tinha muita vontade de escrever sobre a renúncia de Bento XVI para mim muito clara numa pessoa com o seu percurso, a sua nacionalidade de origem e os seus 85 anos.
O actual representante de Pedro é um filósofo, germânico e pragmático, que herdou e atravessou um período muito difícil para a Igreja e que tem consciência das limitações físicas que a idade impõe ao duro combate que está para vir. O qual exige forças que muito provavelmente ele já não terá. Eu, no meu modesto critério, creio que fez bem. Pela Igreja e pelos seus sucessores.
O texto que reproduzo acima tem uma visão próxima que merece atenção.
O actual representante de Pedro é um filósofo, germânico e pragmático, que herdou e atravessou um período muito difícil para a Igreja e que tem consciência das limitações físicas que a idade impõe ao duro combate que está para vir. O qual exige forças que muito provavelmente ele já não terá. Eu, no meu modesto critério, creio que fez bem. Pela Igreja e pelos seus sucessores.
O texto que reproduzo acima tem uma visão próxima que merece atenção.
HSC
Sim, realmente 85a já é muito para governar a "nau tormentosa" que é o Vaticano! O seu aspecto é bem frágil...
ResponderEliminarJá agora a Queen ElizabethII com 87 (mais dois do que ele) parece que ainda aguenta firme no seu posto de rainha dos britânicos e não só...
Esta é uma grande lição do Papa, que só demonstra inteligencia e grandesa. Reconhecer que as suas forças já não são suficientes para enfrentrar os desafios que a Igreja Católica, nos dias de hoje, exige só de um grande Homem. Oxalá que oss políticos por esse mmundo fora aprendam esta lição!...para bem de todos.
ResponderEliminarEu tinha (e continuo a ter) um carinho muito grande pelo Papa João Paulo II, agora Beato e a quem gosto de chamar "o meu santo".
ResponderEliminarPessoalmente, o Papa Bento XVI nunca me despertou grande interesse ou simpatia.
Não que não tenha o seu valor, mas acho que para os jovens da minha idade, que nasceram e cresceram durante o pontificado de João Paulo II, o meu santo será sempre: "O Santo dos Jovens".
Bento XVI teve sérios motivos para tomar a decisão de renúnciar não me atrevo a julgar.
ResponderEliminarA vontade de Deus é simples, mas para a seguir, no mundo actual, torna-a confusa, racionaliza-se demasiadamente.
Que Deus ilumine os homens!
Beijinhos cheios de carinho,
lb/zia
E era este o Papa que iria fazer a Igreja recuar......
ResponderEliminarAcho que esta decisão foi um grande passo para a abertura da Igreja aos tempos modernos.
Pensando, com o coração para mim também João Paulo II foi o "meu Papa", com a razão foi o Papa mediático a quem sucedeu o Papa pragmático.
Penso que ter consciência das limitações a ponto de concluir que elas poderão pôr em causa o eficaz desempenho da missão que se assume, será sempre sinal de inteligência, humildade e também, amor à Igreja. O mundo está a mudar, as formas de cultura, as manifestações de fé e, se nada disso deverá retirar à Igreja a sua força e santidade, é inegável também que exigirão vigor físico, vitalidade e força para acompanhar da melhor forma tudo isso.
ResponderEliminarPAULA FERRINHO
Querida helena!
ResponderEliminarNao sei se teve oportunidade de ver a imagem tirada por um fotografo, em que aparece um raio sobre a basílica de S. Pedro minutos depois da sua resignação. Nao achou extraordinário ?
ResponderEliminarAdmiro a renuncia do Papa, tendo em conta, as razões que o mesmo refere.
Comparando o final deste pontificado com o anterior, considero, também, “na minha modesta opinião”, que ambos os Papas tiveram, como fundamento, uma atitude de humildade e grandeza. A diferença reside apenas, na forma como encararam a situação, uma mais moderna (Papa actual) e a outra mais conservadora (Papa anterior). O que, de certa forma, contradiz aquilo que imaginei, desde o inicio do pontificado do Papa Bento XVI.
João Paulo II, ao levar a sua Cruz da Paixão até ao fim, demonstra, igualmente, coragem, humildade e grandeza. Desta maneira, cada um a seu modo, nos testemunham o quanto são grandes “os desígnios de Deus”, adaptados às necessidades da própria Igreja...
Um enorme abraço
Resignou, senão era "o raio que o partia"...
ResponderEliminarGrandes tempestades se avizinham mais uma vez, e, como alemão, precisava de pedalada que não tinha.
A.Maria
Fui um pouco céptica com a escolha do Cardeal Ratzinger para suceder a João Paulo II... Era o papa que sempre me habituei a ver e, portanto, o "meu" Papa.
ResponderEliminarQuando Bento XVI veio a Portugal, fui vê-lo à Av. da República e o sorriso e a serenidade dele conquistaram-me... E com esta atitude, ainda, mais!
Se ter uma atitude que já não acontecia há 600 anos não é ser progressista, então não sei o que será!
Viva o Papa Bento XVI!
Isabel BP
Na visão da Vânia e com certeza não só, o papa João Paulo II era o "Papa dos Jovens" nunca percebi bem porquê.
ResponderEliminarEra contra o uso de preservativo (!!!!) mesmo que consciente da proliferação do HIV, contra a ordenação das mulheres (??) serão elas menos puras do que os homens? etc.etc. e assim sendo pergunto-me será que esses jovens que o idolatravam, não pensam?? Será que o iam às concentrações onde Ele aparecia como quem ia a um concerto rock?
Perdoe-me a Vânia se esta minha racionalidade a ofende. Mas estes são os meus pontos nos iii...
Voltei a passar por aqui para ler com mais atenção os comentários que fizeram ao seu "post" e apetecia-me comentar mais alguns pois não foi só o da Vânia que me merecia o comentário que fiz, mas por respeito ao seu espaço não o faço.
ResponderEliminar