sábado, 9 de fevereiro de 2013

Um certo Abraham Lincoln

Devo confessar que me não entusiasmava muito ir ver o Lincoln. Mas como todos estavam interessados e eu adoro estas deslocações em bando familiar lá fui, depois de comer, à pressa, com a cunhada e o sobrinho um triângulo de piza. Juntamo-nos ao meu filho que, coisa inaudita, já estava à nossa espera.
O filme, baseado no romance "Team of Rivals: The political genius of Abraham Lincoln", de Doris Goodwin, é realizado por Spielberg e centra-se nos últimos quatro meses de vida do Presidente, nomeadamente na sua luta pela 13ª Emenda que ilegaliza a escravatura e fim da Guerra Civil Americana.
Conta com um belíssimo naipe de actores de que destaco em particular uma Sally Fields espantosa, um Tommy Lee Jones no seu melhor e um David Strathairn impecável. Qualquer destas interpretações, sendo embora secundárias, emprestam ao filme uma aurea muito particular.
Resta o inglês David Day-Lewis, um grande actor, com quem não simpatizo porque "absorve" todos os papéis que desempenha. Ora aqui é, de novo, isso que sinto. Ele cola-se de tal modo a Lincoln que é impossível dissociar um do outro. Trata-se de um desempenho fora de série, mas para mim é excessivo. Não sei dizer melhor!
A história remete-nos para a luta que permite que a América tenha, hoje, um Presidente como Obama e ajuda-nos a compreender - sobretudo àqueles que como eu, assistiram à marcha do Black Power - as razões pelas quais isso se tornou possível.
Duas notas finais importantes. Uma, a de Spielberg não esconder que para a escravatura acabar, houve que corromper. Outra, a estranha coincidência de, naquele país, os presidentes mais progressistas acabarem assassinados...
É necessário ver o filme e é possível que ganhe vários Óscares de interpretação. Duvido que ganhe na realização. Gostei de ter ido, mas algo gorou as minhas expectativas. O mais certo é que tenha sido o facto de ali se perceber muito bem como funciona a máquina do poder político. E de ela me desagradar profundamente...

HSC

12 comentários:

  1. Cara Helena:

    A sua crítica é rigorosíssima, muito melhor do que a dos "críticos oficiais" . Não vou. Além disso, não gosto do Spielberg. Faz filmes muito "grandes", comerciais, disfarçados de cinema de autor, como se diz agora.

    Curiosamente, o outro dia fui ver um filme menos baladado, "Amor", que ganhou prémios europeus, os mais fidedignos, do meu ponto de vista, um filme "pequeno" por contraponto. Esperava maravilhas. Era bom, mas "sans plus"! Está tudo, mesmo todo o cinema, em crise? No cinema, o último filme recente bom que vi foi "The best Marrigold Hotel".

    Raúl.

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  2. Mas todo o poder político, seja ele qual for tem sempre por de trás essa "máquina" que lhe desagrada!
    Talvez seja excepção a Anarquia...

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  3. Conseguiu suportar 150 minutos de filme, cara Helena?
    Bravo!!!

    Cumprimentos

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  4. Caro Observador
    Quando hoje estava a escrever o post, dei-me conta disso mesmo, desses longos 150 minutos. Mas acredita que estou a ler um livro de história política que tem 879 páginas de texto?
    Não sou masoquista, mas há sacrifícios que importa fazer. Até para poder não gostar. Sou uma boa alma, está de ver! :-))

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  5. Olá Helena, também fui ver e deixe-me dizer-lhe que o meu rabiosque estava quase a não aguentar; então e os meus joelhos quando tive de me pôr de pé?
    Bom, mas quanto ao filme deixa-nos, como muito bem diz, "perceber muito bem como funciona a máquina do poder político". Foi e será sempre igual.
    Abraço

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  6. Obrigada Drª Helena pela análise clara do filme Lincoln que nos oferece.
    Nos USA a escravatura foi extinta mas o racismo ainda mantem muitas raízes, Obama é o retrato daquilo que é um "mal" necessário...
    Um grande abraço,
    lb/zia

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  7. Cara Helena,

    Ainda não vi o filme, espero fazê-lo nos próximos dias... Sou admiradora da Sally Fields e, principalmente, do Tommy Lee Jones e do David Day-Lewis desde os meus tempos de juventude.

    “A Insustentável Leveza do Ser”, o “Meu Pé Esquerdo”, a “Idade da Inocência” ou o “Gangs of New York” estão na lista dos meus filmes favoritos. No entanto, concordo que o David Day-Lewis “absorbe” os papéis até à exaustão, mas é isso que aprecio na sua capacidade de representação.

    Aos comentadores que possam não ter visto o “Gangs of New York” (realizado pelo Martin Scorsese e com um elenco notável), aconselho vivamente este filme que foca a imigração irlandesa para a cidade e o início da Guerra Civil Americana.

    Quanto ao Steven Spielberg, é um realizador que tem tido a preocupação de retratar as questões relacionadas com a escravatura – um grande exemplo é o filme “A Cor Púrpura”. Outro dos meus realizadores de eleição... A infância e a juventude “moldam” os nossos gostos :))

    P.S. Cara “Ib/Zia” não percebi a sua frase “Obama é o retrato daquilo que é um "mal" necessário...” Não será antes um “bem” necessário?

    Isabel BP

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  8. Bem...além de "Lincoln", filmes longos não têm faltado esta época ! " Os Miseráveis", "Vida de Pi", "Django Libertado"... Até já voltaram os intervalos !

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  9. É verdade Altere, voltaram os intervalos.
    Está a voltar tudo...

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  10. Mas estes intervalos não têm graça ! Já não vamos ao "foyer encontrar amigos e conhecidos, tomar um café ( porque o tempo é mais curto - presumo que seja só para pôr um 2º DVD )... Ficamos só ali em frente a uma imagem em que as letras de "intervalo" se vão virando sobre um mar de pipocas ! (quem as trinca durante a sessão não precisa de lembrete ... )
    Ai, e já nem nos "aperaltamos" para ir ao cinema,não é ? MªAugusta Alves

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  11. Mais um filme longo por aí ( com intervalo ) : "O Mentor".O tema esteve-me longe... Mas dois colossos em representação como J.Phoenix e Philip Seymour Hoffman não gostaria de ter perdido !

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  12. Cara Helena:
    Associei este seu blog, há pouco tempo, à minha muito recente também vida de blogosfera!! Como gosto de lê-la!!! Tenho lido todos os seus livros e não me pergunte porquê há qq coisa em si que me atrai, e até faz com que me sinta identificada, sei lá...
    Esta crítica que faz ao filme, é exatamente aquilo que sinto também, à exeção da referência que faz ao Day Lewis que é dos meus atores preferidos. De resto, o "miolo" da política, tão bem retratado.
    Bem haja, muito, muito... Se quiser e tiver tempo, "espreite" o meu blog (agridoceedoce@blogsot.com)... será um prazer tê-la como leitora.
    Um beijinho
    PAULA FERRINHO

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