sábado, 23 de fevereiro de 2013

Amour fou


Por uma estranha contradição, gosto de ler biografias, pese embora a vida dos outros, enquanto rendilhado de factos, me interesse muito pouco. O que, sim, me estimula, é perceber quem é que se esconde por detrás do personagem, já que todos somos um pouco actores.
Já aqui falei, por mais de uma vez, de DSK, ou seja de Dominique Strauss-Kahn, o ex Presidente do Fundo Monetário Internacional, que tem estado no centro de um furacão de escândalos sexuais. Embora o tema atinja hoje até as instituições religiosas, a verdade é que, neste caso, houve um lado quase rocambolesco - não encontro outra expressão - a envolver todos os acontecimentos. Os quais, ainda não esclarecidos nem julgados, acabaram não só por dar origem à dissolução de um dos casais mais mediáticos da França, como serviram de tema de literatura.
Com efeito, acaba de sair em França, na editora Stock, um livro explosivo, intitulado "Belle et Bête", de autoria de Marcela Iacub, que conta o seu relacionamento com DSK, durante sete meses, de Janeiro a Agosto de 2012.
A autora não é uma qualquer arrivista, mas é uma figura controversa. Nascida na Argentina em 1964, chegou a França em 1989, estudou filosofia e direito, entrou para o CNRS - Centre National de la Recherche Scientifique – do qual se veio a tornar directora de investigação, em 2010. É também cronista do jornal Liberation.
Convenhamos, pois, que decerto terá medido bem as consequências da publicação da obra, dado que o envolvimento de ambos data de um período em que já eram públicas as potenciais acusações.
No último Nouvel Observateur são dados a conhecer excertos do livro em questão. O que li deixou-me algo surpreendida. Não pelas revelações, mas pela interpretação que Marcela – uma bela mulher – dá aos seus sentimentos e, sobretudo, à forma como “vê” o homem a quem se entregou. Parece-me uma história de paixão fulminante, mas em que um dos intervenientes foi capaz de, em simultâneo, actuar e se analisar, quase como se de um desdobramento de personalidade se tratasse.
Confesso que fiquei curiosa, porque ainda hoje continuo a pensar que a história da França e, muito possivelmente a da Europa, seria outra se DSK tivesse chegado, como queria, a Presidente da República.

HSC

4 comentários:

  1. Tambem acho que as biografias,sim mesmo de pessoas ainda vivas, podem entreter e educar.
    Acabei de ler uma sobre o cientista ingles que escreveu o livro Gaia, muitissimo interessante porque nos mostra a sua vida e carreira pessoal entremeada de teorias e conhecimentos cientificos que se tornam mais faceis de abranger e digerir.
    Escreva as biografias que entender HSC e nunca ligue aos preconceitos de quem afirma que se deve deixar os vivos de fora!

    ResponderEliminar
  2. Who's was afraid of the big bad (?) wolf?

    Raúl.

    ResponderEliminar

  3. Sobre a senhora em questão não me pronuncio muito , o que tenho lido nos jornais franceses on-line sobre ela e sobre o livro - bem como as entrevistas disponíveis – não me entusiasmaram , no mínimo .
    Claro que isso obriga a enquadrar cada notícia no tipo de escolha editorial que cada um deles faz ; mas como os “folheio” todos os dias é mais fácil , já dou a cada um o devido desconto.

    Mas que a história da França e até da Europa seria outra , aí poucas dúvidas tenho e as que tivesse vão-se esbatendo com o que (não) vai acontecendo por lá , a 2ª economia europeia.
    Até a “nossa” história , a que vivemos aqui e agora , seria outra mesmo que ele só tivesse continuado no FMI .

    RuiMG

    ResponderEliminar
  4. Ouvi na rádio e também fiquei com curiosidade sobre esta biografia que deve ser bem interessante.

    Partilho da mesma opinião, independentemente das "taras" (que não é o único!), não dúvido que montaram uma cilada ao DSK.

    Isabel BP

    ResponderEliminar