sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Medo de ter medo

Henrique Cymerman nasceu em 1959, no Porto e tem raízes judaicas de um pai português e de uma mãe espanhola. Embora tivesse começado aqui a sua educação, aos 16 anos decide ir para Israel e será em Telavive, onde continua a viver, que se formará em Ciências Políticas e Sociologia. É pai de três filhos, correspondente da SIC e da espanhola Antena 3. Trabalha ainda para o jornal La Vanguardia e é o mais premiado repórter português.
Muito respeitado por judeus e palestinos concede esta semana uma longa e interessante entrevista à Notícias TV, que a titula " Tenho medo de voltar a ter medo". A frase é dita no contexto do actual momento que vive, em que há acções militares a opor Israel e a Palestina.
Foi esta frase que eu registei que acabou por servir de mote para o post de hoje.
Em Portugal e por razões diferentes - que têm mais a ver com uma guerra psicológica espoletada pela crise -, começa a haver um sentimento generalizado de insegurança que provoca medo. Não de armas ou de guerras. Mas medo de não ter futuro. Sobretudo entre aqueles que já deixaram de trabalhar e aqueles que ainda não conseguem arranjar trabalho. Os outros - os que laboram - perderam benefícios e salários, mas, por muito pouco que seja, trazem para casa uma remuneração e podem ter uma qualquer esperança no futuro.
De um lado estão os velhos, reformados e pensionistas, que entregaram ao Estado o dinheiro que havia de garantir o seu futuro, perdidos num estado social para o qual representam apenas um número fiscal e, quando muito, um encargo que se deseja curto.
Do outro estão os jovens, saídos de estudos sem saída, que só poderão sonhar, se esse sonho se corporizar fora da terra natal e da família. E é por essa rota que vão saindo e pondo ao serviço de estranhos aquilo que todos nós investimos neles.
Face a este quadro há - começa a haver -, um sentimento forte de medo. Medo do que pode acontecer, medo de perder mais do que até aqui perdemos, medo de não termos saída, enfim, medo de não ter vida nem rumo. Ou seja, como  Cymerman, começamos a ter medo de ter medo...

HSC 

15 comentários:

  1. Eu tenho é medo de falhar, de errar, mas já percebi que tenho de mudar de atitude ou não vou a lugar algum.

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  2. Muito bem observado!
    Está instalado o medo de não termos futuro, vida, nem rumo... E, não é psicológico, para mim, a realidade é essa, vivida e constatada. Acredito que vamos sair desta crise, desta péssima fase das nossas vidas, mas, quando?? É isso que me aterroriza e que nos leva a corporalizar o medo.
    Levei anos a ouvir: “morte aos patrões”; “exploradores”...!! Personalizavam, sempre, uma “raça” a abater...
    Agora, sem as pequenas e médias empresas, que empregavam a maior parte da população, como vamos (o Estado) sustentar os desempregados, aqueles que já estão reformados ou que vão atingindo a idade da reforma, e ainda, aqueles que acabam os seus estudos e não têm emprego. O Estado é um “poço sem fundo”!
    É assim, que o medo é despoletado, e continua, no “medo de ter medo” que esta Economia decadente, sem realidades produtivas, não permita o vislumbre de nenhumas melhorias...
    Apesar de tudo, daqui para aí, irá sempre,
    Um Abraço positivo.

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  3. Pois é Drª Helena tenho 57 anos trabalho desde os 15 anos e estou desempregada do comercio há dois e nada......

    Filho engenheiro civil IST e nada...
    Abraço, mas continue com a sua alegria a escrever textos lindos, sérios e engraçados para pelo menos a mim me levantar o ego.

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  4. Muito acertiva como sempre e eu há muito que sinto medo, não por mim, mas pelos meus...talvez por já ter passado por tanta coisa ruim...porque hoje dá-se valor a quem tem pilares cimentados de hipocrisia/política/amigaços e que não fazem pivea e despedem sem peia nem meia quem realmente sabe mais do que eles, com reconhecimento internacional, prémios etc. etc. graças aos cortes quando sabemos que existem, que são necessários para sairmos da crise...mas não desta forma cega em que se olha para tudo menos para o povo que os alimenta!!! (há excepções)

    Cada dia que passa Portugal afunda-se e não há uma única palavra de esperança ao povo mas sim palavra de ordem: EMIGREM!


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  5. A velha senhora bebeu de mais e ficou épica patética:

    mas não há porra que ter medo de ter medo
    tudo o que há é que acabar com este enredo
    pois somos muitos não nos vamos abaixar
    que temos vida e é nosso o amor e é nosso o mar
    o mar nos fez nós o fizemos com coragem
    não é o fim é o princípio da viagem
    há que pôr fora quem nos trouxe a tempestade
    e continuar a construir nossa cidade
    co'o povo todo em paz amor e liberdade

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  6. Ao tempo do fado de Luiz Goes, cuja letra dizia "é preciso acreditar", nêsses tempos ainda se acreditava, mas nos dias de hoje?...

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  7. Quando se tinha medo de morrer porque se tinha pavor de ir parar ao Inferno, ainda era bem pior
    Ter medo faz parte de se ser humano, sem ele arriscamos perigos nocivos. Tambem conquistamos vidas mais plenas e justas no dia em que perdemos de vez certos medos com os quais nos controlam e dividem para conseguirem reinar

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  8. medo do futuro, medo de não haver futuro...

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  9. "Velha senhora"... "bebeu de mais"... "ficou épica patética"... mas que modos são esses caro anónimo?

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  10. PS: anónimo das 00:23 (24/11/2012)

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  11. Cara Helena,
    Muito bem analisado como sempre.
    O medo de existir está a ser muito bem manipulado, e é uma realidade que veio para ficar. Quanto ao HC é um dos jornalistas mais conceituados e cujos documentários assertivos aprecio bastante.
    Sempre com amizade.

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  12. Cara Vânia
    A Velha Senhora é uma comentadora assídua deste blogue e de outros por onde me passeio. Tem tendência para a bebida e, por causa disso, de quando em vez, a língua solta-se-lhe. Mas tem uma enorme capacidade de poetar e já temos tido aqui algumas desgarradas.
    Acho-lhe piada e nunca tive de a censurar, porque comigo sempre se portou bem.
    Há tempos desconfiei de quem fosse, mas enganei-me.
    Diz-se médica aposentada e mulher de muitos amores!

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  13. muito bem descrito o medo que tão incentivado é... tenho medo do medo que nos metem que seja feito para nos paralisar, mas isso não! já bastaram 40 anos de ditadura, ou será que a ditadura agora além de ser financeira também será politíca e cultural?
    forte abraço e cabeça erguida,
    lb/zia

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  14. A velha senhora agradece as explicações dadas á cara Vânja Batista e explica-se um pouco mais (por especial consideração, eufemismei os palavrões da senhora):

    minha helena preferida
    nunca eu mal me comportei
    com ninguém na minha vida
    'nunca' é trop dire? não sei

    sei que quando fui querida
    mal portar-me era de lei
    e a censura proibida
    bem gozei e muito amei

    a censura essa é ridícula
    num país em liberdade
    muito mais que o palavrão

    se ele ofende é só a aurícula
    e ela ofende a dignidade
    ele é digno e ela não

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  15. É ainda a nossa comum amiga 'rimalhadeira', a velha senhora, que insiste em explicar-se-lhe sobre isso da 'enorme capacidade de poetar':

    eu tenho que lhe dizer
    lá tenho que repetir
    não é poeta quem quer
    e eu nem quero deixo-me ir

    rimalho sempre que posso
    trabalho co'um certo afinco
    na métrica assim por grosso
    mas não poeto só brinco

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