Durante longos meses, no Fio de prumo, coluna semanal que, por alguns anos, mantive no Diário de Notícias, era frequente ocupar-me do "inefável Louçã". O meu filho Miguel sempre respeitou este meu enjeite de estimação e apenas um dia, de raspão, a rir, sussurrou que eu escrevia e ele, à segunda feira, ouvia...
Não era tanto o conteúdo do que Louçã afirmava. Era a forma como o afirmava. Havia um qualquer rasto de seminarista naquele seu jeito de se expressar que em mim devia desafinar alguma corda.
Porém, devo ter sido das pessoas que mais e melhor acompanhou a sua carreira porque, de algum modo, era também acompanhar o meu infante.
Nas aulas e porque os seus livros são bons, muitas vezes os seus discursos foram tema de conversa e os textos leitura obrigatória. Confesso que o fiz só por ter uma noção muito apurada de que os meus gostos pessoais nada tinham a ver com o que eu entendia que devia ensinar.
Depois fui-me habituando, embora continuasse discordando. É um tribuno de um certo género que eu conheço bem. E julgo que essa espécie de inflexibilidade do seu discurso terá feito com que muita gente mais velha se tenha afastado de o escutar.
A doença do meu filho Miguel fez-me olhar o BE com outro respeito. E, nesse campo, Francisco Louçã soube conquistar o meu coração. Discordavam muitas vezes, zangavam-se outras tantas mas, sei-o hoje, eram, de facto, amigos. Descobri, afinal, em Louçã uma humanidade escondida que, julgo, cativou a minha estima. Como também acabei por descobrir naquele grupo, mais três outros seres especiais: a Mariza Matias, o João Semedo e a Paulette.
A política portuguesa precisa de oposição lúcida. E não se pode dar ao luxo de dispensar quem sabe pensar. Mesmo que eu não concorde com ele, entendo que pode e deve continuar a ser ouvido.
É por essa herança que Louçã deixa, que eu não posso deixar de desejar ao meu estimado João Semedo, sucesso na metade da bicefalia directiva que lhe vai competir.
HSC
Excelente texto, de uma sensibilidade que me emocionou.
ResponderEliminarUm beijinho para si
BE
Mas será que ele acredita que as suas soluções nos salvariam? Ou o que ele diz é meramente "coreografia política"?
ResponderEliminarPara além da politica existe sempre o ser humano...e pena é que a maioria só conheça esse lado (não falo da vida privada) depois de saírem e ou partirem!
ResponderEliminarGostei do que li!
Um abraço
Tenho um grande apreço por Louça, sempre o escuto,Tal como o fazia por o seu filho Miguel.
ResponderEliminarBeij Manuela
Cara senhora,
ResponderEliminartenho um pé atrás com pessoas que passam uma imagem de fanatismo!!!!
Corro léguas.....
E como a imagem que nos é passada é a do político irredutível, que algumas vezes dá "bom dia à cavalo" e "pisa na bola", de forma feia,
mantenho a minha opinião a respeito dele: quero distância!
obrigada pelas suas tão lúcidas análises.
ResponderEliminaro seu miguel e o louçã faziam um dupla que se completava.
espero que o joão semedo e a sua camarada de direcção saibam manter vivo o espírito que herdaram, mas ...
um abraço e continue que nos ensina a pensar (pelo menos a mim),
lb/zia
Compreendo o que quer dizer, mas não consigo concordar, a não ser com duas frases:"A política portuguesa precisa de oposição lúcida" e "Havia um qualquer jeito de seminarista no seu jeito de se expressar que em mim devia desafinar alguma corda". Só que eu conjugo os verbos no presente, porque continuo a não apreciar aquele estilo.
ResponderEliminarPercebo, no entanto, que motivos afectivos a tenham feito vê-lo com outros olhos.
Beijinho
Isabel Mouzinho
Caros comentadores
ResponderEliminarTodos nós temos dos políticos uma "imagem". A que eles nos dão e a que nós fazemos. Esta última é o resultado da simpatia, da antipatia ou da indiferença que a primeira nos provoca.
Todavia, por detrás da imagem existe uma "pessoa" que nós não conhecemos. Por isso, imagem e pessoa confundem-se numa só.
A oportunidade que eu tive foi de conhecer Louçã pessoa. E foi dele que falei.
Quanto ao político com quem não concordo, prefiro pensar no que ele diz, a ouvir certos políticos que por aí andam a autoproclamar-se...
Tem toda a razão, Helena!
ResponderEliminarO que eu conheço é o Louçã político e desse não gosto, definitivamente.É só desse que falo, subjectivamente, como é natural.
Beijinho :)