domingo, 23 de setembro de 2012

A classe média


Pode parecer injustiça ou falta de sensibilidade falar da classe média num país onde a pobreza aumenta a olhos vistos. Acontece que naquela a pobreza envergonhada já há muito se instalou, apesar de se falar pouco disso.
Portugal perdeu uma boa parte da sua classe média sobre a qual incidiram todas as medidas de austeridade impostas de forma tributária. De facto, o país hoje só tem ricos fechados nas suas fortalezas, pobres sem eira nem beira e remediados. É sobre estes, que trabalham por norma, por conta de outrem, que recai o grosso dos impostos.
Ora a classe média é indispensável ao movimento do país, à sua transformação e ao seu desenvolvimento. Se esta sai à procura de melhor vida e a que fica, mais velha, é sucessivamente empobrecida, isso significa que estamos a andar para trás. 
E se a este movimento juntarmos a preocupante quebra da taxa de natalidade que retrato teremos do país e da sua segurança social dentro de duas ou três décadas? Muito possivelmente ninguém terá direito a reforma e Portugal voltará a ser um país dos anos sessenta...
Parece tão evidente que não se percebe a insistência na desagregação que está a ser feita. 

HSC

21 comentários:

  1. É tão verdade o que refere que mais não consigo acrescentar.
    Mas... soluções, Helena?
    E há tantos pensadores e nenhum encontra solução!
    Vamos pensar em conjunto?
    Gosto muito do que escreve. Ajuda-me a pensar.
    Obrigado, Helena.

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  2. É curioso,
    esta semana uma grande amiga minha postou no facebook o link para uma reflexão cujo título, "Sem.abrigo dão lugar aos sem-emprego..." confesso que não li o artigo mas o título é de per si sugestivo.

    Quanto à provável ausência de reformas... o meu pai (que não é economista nem coisa que o valha) já anda a dizer isso há uns anos largos.

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  3. Admiro-a imenso, porque sim...e subscrevo totalmente o que diz porque sinto na pele que...+ que... mas ainda tenho a esperança e acredito que tudo irá passar...como nós todos estamos de passagem neste mundo...!

    Podem tirar-me tudo...menos a minha esperança, optimismo e jamais em tempo algum baixar os braços!

    Força e um abraço sincero!

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  4. Dos anos sessenta? A minha Amiga e otimista... Para os anos quarenta e que vamos!

    a) Alcipe

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  5. Caro Pedro
    Há sempre soluções. Mas é preciso ter coragem de as encarar de frente e romper com benesses instituídas. Em tempo de guerra, dizia o meu avô que era militar, "não se limpam armas, dispara-se para acertar no alvo".

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  6. Minha Cara Amiga:

    De passagem por Lisboa e com saudades do seu Blog, um sítio de franco convívio.

    O que diz é tudo verdade, como é seu costume. Eu estou reformado e conheço bem o conteúdo das suas palavras.

    Sem me querer alongar, embora me apetecesse, vou restringir-me a dois pontos.

    Primeiro: a política deve ser, do meu ponto de vista, a mesma cá e lá fora. Refiro-me ao Governo, evidentemente. Estive três semanas em casa de uma amigo nos EUA e vim mais duro, como venho sempre de lá. Não quero magoar ninguém, muito menos a si, Querida Helena!

    Segundo: num jantar social, em casa desse meu amigo, um ricalhaço, a "southener", saiu-se com esta: "I am anti-semitic, I hate jews. I am, of course, pro-Israel".

    Hoje não digo mais. Falei do Mundo. Portugal está inserido nele.

    Um Beijinho,

    Raúl.

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  7. é pena falar-se tão pouco sobre esta terrível realidade!
    e cada vez há mais receio em terem filhos...
    a classe média baixa, na qual me englobo depois de reformada por invalidez (660€s liquidos), já apanha, por tabela, com os descontos nos subsidios, e aumentos do irs... inacreditável! felizmente que os filhos (2 pela europa e um por cá) por enquanto têm trabalho!
    beijinhos cheios de carinho, e obrigado por quem é!
    lb/z

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  8. Flanei rapidamente pelo shopping (as cadelas dormitavam no carro), sobretudo para conferir uma promoção numa dada loja e pasmei: pelo final do dia, o povo amontoava-se em todo o lado; e não era num ou noutro espaço mais apelativo, não: era em todo o lado mesmo!
    E compravam.
    E atropelavam-se, como se já fosse a véspera de Natal!
    Não entendo nada...

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  9. É tão verdade, como sempre, o que diz!
    De facto, a possibilidade de não haver reformas daqui a alguns anos é preocupante com a agravante de infelizmente hoje em dia nem se conseguir poupar para constituir um pé de meia para fazer face a essa situação que espero (mas não creio)não aconteça!
    A baixa taxa de natalidade, revela em meu entender, que as pessoas revelam muita sensatez, ter filhos e logo se vê, "onde comem três comem quatro" não é de todo aceitável hoje em dia. O futuro é incerto, eu diria mesmo assustador!
    Essa sua referência com um possível país de volta aos anos sessenta, assutou-me mas é de facto a melhor comparação possível, infelizmente, só que nessa altura eram os meus pais que viviam as dificuldades e vinham do zero e foram escalando, agora fazer o percuso no sentido inverso deve ser terrível. E estes jovens, nascidos em "berço de ouro", como irão reagir?
    A ver vamos!
    FL

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  10. Cara Helena
    Nos anos sessenta nasci eu e os meus pais tiveram uma vida mais fácil do que a que eu tenho agora. E sobretudo, com mais perspectivas de futuro. Havia a esperança de mudar as coisas (o que veio a acontecer!) e a confiança que, com esforço e honestidade, se estaria de certeza bem. Agora não é assim, e esta insegurança vai-nos enchendo de medo. Sou da classe dita "média", cansada de pagar impostos a troco de cada vez menos e nem sequer confio que venha a ter um dia uma reforma condigna. Os meus filhos falam em ir trabalhar para fora, e os filhos dos meus amigos já estão a ir.
    Triste? tristíssimo. Continuar a trabalhar duramente? só porque não sei fazer mais nada, porque acreditar que isso vai compensar...já não...
    înês

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  11. Caríssima Helena:

    Sobre a importância da classe média, é só ouvir este capitalista-empreendedor americano, especialista em capital de risco.
    Ele não é nada parvo.

    O verdadeiro criador de emprego é o consumidor da classe média.

    Numa palestra TED impressionante Nick Hanauer desmonta um dos mitos mais malignos associados ao capitalismo: de que os ricos merecem ter privilégios tais como impostos reduzidos para que possam continuar a desempenhar a sua suposta função social num sistema capitalista que é a de criar postos de trabalho. Nick Hanauer é um empreendedor americano especializado em capital de risco. No dia 1 de Março de 2012 deu esta palestra numa das famosas conferências TED e os responsáveis desta organização sem fins lucrativos recusaram-se a publicá-la. Nick afirma que é falsa a ideia de que "os ricos são criadores de emprego e que por isso não devem pagar impostos". Afirma antes que o verdadeiro criador de emprego é o consumidor da classe média. Ainda que o site TED.com seja bem conhecido por difundir palestras bem provocadoras esta palestra não foi publicada no dito site.

    http://youtu.be/UrpS9zZfNbk
    (Clicar em CC na barra inferior do vídeo para ver as legendas em português)

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  12. Cara Helena
    Muito obrigado pela resposta que aqui deixou à minha pergunta.
    Fiquei sensibilizado por me responder já que no meio de tantos seguidores a Helena não terá oportunidade de o fazer a todos.
    Sábio o senhor seu avô que evocou esse princípio "Em tempo de guerra...". Seremos sábios também se soubermos aproveitar as oportunidades para mudar o nosso modo de "estar" no mundo. Se é certo que o recebemos sem o pedir deveremos devolvê-lo sem o estragar e se possível melhor. É essa a nossa obrigação.
    Penso que um princípio indispensável é a Educação.
    Obrigado mais uma vez por este seu espaço e pelas suas reflexões.
    Com muita consideração,
    Pedro

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  13. Cara Helena
    Quando as estatísticas referem que a maior preocupação dos portugueses é com o futuro dos seus filhos, estamos a chegar à triste realidade, instalada, que se resume em “falta de Esperança”, sendo que, cada vez se torna mais difícil uma sociedade sobreviver a determinada crise. Começa a ser o descalabro. Há que ter a coragem de “renascer das cinzas” em vários aspectos... E um deles, passa, certamente, pela reviravolta radical na deficiente administração pública que tem sido, ao longo destes anos, a grande causa do nosso endividamento. Se os tecnocratas não conseguem lá chegar, consultem as "mães" e "donas de casa" pois, pode ser que lhe dêem algumas dicas...
    Um enorme Abraço

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  14. Se a Dª. Helena não percebe que direi
    eu? E o que se está a preparar para
    o OE2013 ainda vai piorar a situação.
    Nos "bem ricos" não se toca...gostava
    de saber onde isso está escrito.
    E também como o PPD/PSD quer Passos
    Coelho como Primeiro-Ministro!...
    É algo que eu não compreendo.
    Bj.
    Irene Alves

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  15. O que percebo, pelo afã do actual consumismo de coisinhas – bijutarias, bibelôs, revistas, trapos, doces e outros tantos etc, é o vórtice do (des)consolo.
    O amanhã perdeu a hipótese de açular a esperança - tornou-se na certeza de tudo se agravar. Pior só a doença; e a guerra.
    Acre, de facto. A gratificação efémera, se ainda possível, converteu-se na bóia de ilusão à beira da catarata inescapável.
    E assim nos afogamos.

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  16. Amiga Helena,

    Era para vir aqui contrariá-la em diversos aspectos, mas depois soube de uma coisa que me desarmou por completo: nunca se contraria uma Mulher que detesta espartilhos... :)))

    beijos

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  17. Ó Paulo é completamente verdade e toda a gente que me conhece, sabe. Odeio tudo o que me tire naturalidade. Falta dizer que tenho um, mínimo, para quando vou ao médico. Porém, quando de lá saio já não o trago. Isto é que é o que eu chamo de pura liberdade...física!
    Mas agora andamos os dois muito discordantes. Estou preocupada.

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  18. Querida Milady, não vê, ou opta por não ver?
    :)

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  19. Ó Margarida, este, eu não percebi. Tenho óptima visão e nunca optei pela vista curta.
    Dê-me pistas, que eu vou lá ter...

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  20. Onde nos leva o capitalismo financeiro, o mais desenfreado dos capitalismos, que só consome e não produz?
    Como se sai deste tornado?
    Procuro informar-me mas é impossível abarcar toda uma realidade gigantesca e galopante.
    É o fim de uma era? Uma necessidade de retorno às origens? Sei que nunca se retorna exactamente do mesmo modo.
    Para onde vamos?
    Acreditei que no séc. XXI se trabalharia menos horas, mas teria de se investigar mais. Acreditei que se faria uma vida mais saudável, porque deitaríamos fora o que o passado pré-industrial continha de negativo (como a mão-de-obra infantil, por exemplo) e desenvolveríamos o que tinha de bom.
    Acreditei que no séc. XXI já não existiria fome.
    Não imaginei que fosse possível tal retrocesso.
    Continuo a acreditar que algo de positivo surgirá, novas maneiras de olhar e ver, de trabalhar, viver e amar.
    Mas e hoje, agora?
    MªJoão

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