Análise séria e acutilante, humorada ou entristecida, do Portugal dos nossos dias, da cidadania nacional e do modo como somos governados e conduzidos. Mas também, um local onde se faz o retrato do mundo em que vivemos e que muitos bem gostariam que fosse melhor!
terça-feira, 24 de maio de 2011
Setenta anos
Robert Allen Zimmerman, ou seja Bob Dylan, faz hoje setenta anos. Representa um tempo em que fui muito feliz. E não sabia.
Querida Helena, Por este "não sabia" e por tantas outras coisas que hoje sabemos, penso que temos, além do nome, outras coisas em comum. Ouso dizer isto sem qualquer pretenção mas com uma certa vaidade:)!
Tenho visto umas reportagens sobre Bob Dylan num canal inglês, muito interessantes, mas abrangendo o período do princípio dos anos 60, onde aliás se refere o seu acidente violento de motorizada que o ia vitimando. Impressionante ver a fila de pessoas, quarteirão atrás de quarteirão, que ali se encontrava, ansiosa por saber notícias sobre Dylan. Sou de uma geração que “vem a conhecer” Bob Dylan já no final dos nos 60 e sobretudo durante a década de 70, mas, tal como a autora deste Blogue, também fui feliz durante essa época. A par de Dylan, nessa extraordinária época, destacaram-se outros excelentes cantores, num género de música semelhante, como Joan Baez (que tantas vezes o acompanhou nos diversos concertos), Johnny Cash, Judy Collins (quem não se lembra de “Send in The Clowns” e “Amazing Grace”?), Joni Mitchell (uma voz igualmente belíssima) e ainda o eterno Leonard Cohen, Melanie Safka, Woody Guthrie, para só mencionar estes, que em comum conjugavam uma qualidade musical excelente a par de uma poesia de igual qualidade. Foi de facto uma época que me deixou muita saudade. Ainda hoje possuo e ouço muitas dessas músicas, que me fazem recuar no tempo, um tempo que vivi intensamente. Depois, foi igualmente uma época de protesto, quer contra a guerra do Vietname, quer nas universidades, enfim, contestava-se, de algum modo, certos aspectos do sistema (político), sem necessariamente o pôr em causa, mas exigindo mudanças. A ideia que me fica era que, no geral (por cá e lá por fora), as pessoas e sobretudo os mais jovens não eram conformistas, eram mais exigentes social e politicamente, mais interessados pelo que se passava à sua volta, mais audazes, mais interventores, talvez até mais cultos e como não havia esse vírus que é a informática (por muito útil que hoje seja), a informação circulava de outra forma, incluindo o recurso à leitura, que tanto jovem hoje passa ao lado. Fica-me a impressão, pelos exemplos que vou observando, que as sociedades hoje são muito menos ousadas, muito mais conformistas, menos cultas, mais oportunistas e calculistas, mais implacáveis, menos solidárias, pró-sistema. Hoje, como naquela altura, já não se consegue deitar um Presidente abaixo (como sucedeu com Nixon), já não se consegue acabar com guerras (como sucedeu com a do Vietname), a própria imprensa é diferente, mais conciliadora com o Poder (em todo o lado), as universidades deixaram, gradualmente, de ser capazes de reinventar o sistema político, enfim, as sociedades já não surpreendem. Vive-se sob outros parâmetros, os convencionais. As ideias políticas são como velhos pneus, recauchutados (à esquerda e à direita). Voltando a Dylan, sinto uma imensa saudade daquele tempo e tenho uma enorme admiração por ele (e os outros e outras que aqui igualmente referi). Fica-me, pelo menos isso, a memória inolvidável daquela época, que agora recordo ouvindo as suas músicas. Bem-haja Helena por me recordar Bob Dylan! P.Rufino
Querida Helena,
ResponderEliminarPor este "não sabia" e por tantas outras coisas que hoje sabemos, penso que temos, além do nome, outras coisas em comum. Ouso dizer isto sem qualquer pretenção mas com uma certa vaidade:)!
Já?! Como é possível o Bob Dylan "já" ter 70??
ResponderEliminarTenho visto umas reportagens sobre Bob Dylan num canal inglês, muito interessantes, mas abrangendo o período do princípio dos anos 60, onde aliás se refere o seu acidente violento de motorizada que o ia vitimando. Impressionante ver a fila de pessoas, quarteirão atrás de quarteirão, que ali se encontrava, ansiosa por saber notícias sobre Dylan. Sou de uma geração que “vem a conhecer” Bob Dylan já no final dos nos 60 e sobretudo durante a década de 70, mas, tal como a autora deste Blogue, também fui feliz durante essa época. A par de Dylan, nessa extraordinária época, destacaram-se outros excelentes cantores, num género de música semelhante, como Joan Baez (que tantas vezes o acompanhou nos diversos concertos), Johnny Cash, Judy Collins (quem não se lembra de “Send in The Clowns” e “Amazing Grace”?), Joni Mitchell (uma voz igualmente belíssima) e ainda o eterno Leonard Cohen, Melanie Safka, Woody Guthrie, para só mencionar estes, que em comum conjugavam uma qualidade musical excelente a par de uma poesia de igual qualidade. Foi de facto uma época que me deixou muita saudade. Ainda hoje possuo e ouço muitas dessas músicas, que me fazem recuar no tempo, um tempo que vivi intensamente. Depois, foi igualmente uma época de protesto, quer contra a guerra do Vietname, quer nas universidades, enfim, contestava-se, de algum modo, certos aspectos do sistema (político), sem necessariamente o pôr em causa, mas exigindo mudanças. A ideia que me fica era que, no geral (por cá e lá por fora), as pessoas e sobretudo os mais jovens não eram conformistas, eram mais exigentes social e politicamente, mais interessados pelo que se passava à sua volta, mais audazes, mais interventores, talvez até mais cultos e como não havia esse vírus que é a informática (por muito útil que hoje seja), a informação circulava de outra forma, incluindo o recurso à leitura, que tanto jovem hoje passa ao lado. Fica-me a impressão, pelos exemplos que vou observando, que as sociedades hoje são muito menos ousadas, muito mais conformistas, menos cultas, mais oportunistas e calculistas, mais implacáveis, menos solidárias, pró-sistema. Hoje, como naquela altura, já não se consegue deitar um Presidente abaixo (como sucedeu com Nixon), já não se consegue acabar com guerras (como sucedeu com a do Vietname), a própria imprensa é diferente, mais conciliadora com o Poder (em todo o lado), as universidades deixaram, gradualmente, de ser capazes de reinventar o sistema político, enfim, as sociedades já não surpreendem. Vive-se sob outros parâmetros, os convencionais. As ideias políticas são como velhos pneus, recauchutados (à esquerda e à direita). Voltando a Dylan, sinto uma imensa saudade daquele tempo e tenho uma enorme admiração por ele (e os outros e outras que aqui igualmente referi). Fica-me, pelo menos isso, a memória inolvidável daquela época, que agora recordo ouvindo as suas músicas.
ResponderEliminarBem-haja Helena por me recordar Bob Dylan!
P.Rufino
Excelente comentario de P. Rufino!
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