terça-feira, 17 de maio de 2011

Os Cuidados Paliativos


Vai decorrer em Lisboa nos próximos dias 18 a 21 de Maio o 12º Congresso da Associação Europeia de Cuidados Paliativos. É importante para o país e para a Associação Nacional que, mesmo em tempos de crise, se consiga reunir cerca de 2500 profissionais que se dedicam a esta área da saúde, com "craques" de diferentes origens.
O Congresso pode parecer, em si, irrelevante para a sociedade civil, mas é seguramente uma oportunidade para "agitar águas" e clarificar, mais uma vez, a desinformação, os mitos, os preconceitos e o desinvestimento que existe nesta área da saúde que, lamentavelmente, se esquece, porque continua associada aos temas tabús do fim da vida e da morte.
No entanto, tal realidade chega, um dia, a todas as famílias. Se estas possuirem mais e melhor informação, poderão alterar o panorama actual e ter menos gente em sofrimento.
Os cuidados paliativos respondem aos problemas que decorrem da doença avançada, prolongada, incurável e progressiva, e tentam prevenir o sofrimento que ela gera, proporcionando a máxima qualidade de vida possível a estes doentes e às suas famílias.
Baseiam-se no controlo activo dos sintomas, na comunicação eficaz com o doente e famíliares e num trabalho em equipa interdisciplinar.
Podem durar semanas, meses e mais raramente anos e até prolongar-se pelo período do luto. Não se restringem aos últimos dias de vida. Trata-se de cuidados preventivos, que pretendem antecipar-se ao sofrimento desnecessário associado à doença avançada e incurável, não permitindo nunca que ele se torne intolerável. Destinam-se a pessoas de todas as idades, tenham ou não doença oncológica.
São rigorosos, científicos e humanizados e prestados por equipas que, idealmente, integram médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, entre outros profissionais que, para o efeito, possuem formação específica prévia neste âmbito, como aliás recomendam quer a Associação Europeia de Cuidados Paliativos, quer as Directivas da Comunidade Europeia sobre o assunto.
Infelizmente, por desconhecimento desta informação, por preconceitos que ainda persistem e por falta de empenhamento na operacionalização das políticas de saúde, estes Cuidados continuam a não estar acessíveis aos que deles carecem – e são muitos - de forma alargada e sistematizada.
E todos sabemos que ninguém reclama aquilo que não conhece!

HSC

9 comentários:

  1. Olá,
    De facto é um problema enorme no nosso país a falta de cuidados paliativos e tendo já conhecido alguns casos que deles necessitaram gostei de ler o seu post.
    Não concordo porém que haja falta de conhecimento da parte de quem deles precisa. O que há é falta de dinheiros para conseguir proporcionar aos familiares os cuidados necessários. É que "vagas" para quem precisa é coisa que escasseia (a não ser para quem pode pagar - e muito- por tais cuidados).
    cmptos
    Patrícia

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  2. Helena ainda bem que fala deste tema pois é um tema muito importante para a nossa sociedade pois fala nos cuidados de pessoas não só idosas que precisam de cuidados constantes pois já não conseguem fazer a sua vida normal mas também de pessoas com deficiências que não podem fazer coisas como por exemplo calçar um sapato ou sequer comer sozinhos.
    Mas também pessoas que estão a morrer e que merecem todos os cuidados para terem um final de vida em paz e com boas condições.
    Mas também á o problema que a blogger anterior fala a falta de vagas pois nos hospitais publicos não á vagas já quem tem dinheiro vão para um privado e aí assim têm os melhores cuidados que existem neste país quem tem dinheiro está bem servido quem não tem não tem direito a quase cuidados ninhuns.
    Mas este congresso é muito importante pois pode ajudar as familias desses doentes a prestar-lhes melhores cuidados.

    Beijinhos

    Mariana

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  3. Por questões pessoais sei bem o que são cuidados paliativos, ou melhor, a ausência deles neste país que nem é para velhos nem para doentes...
    Sim, é preciso alargar o debate em torno deste tema.

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  4. De facto é pena que estes cuidados não estejam disponíveis para todos os que deles precisam.
    Mais um sector onde os nossos impostos seriam bem úteis.
    Mesmo assim é justo referir aqui a luta da Drª Isabel G.Neto que tem dado a sua inesgotável energia a esta causa.

    Há poucos dias tive oportunidade de conhecer melhor estes cuidados e percebi o profissionalismo e o carinho que dedicam aos seus doentes. De referir também uma jovem médica, Drª Rita Abril, o pessoal de enfermagem, auxiliar e administrativo que no Hospital da Luz, dão todo o seu saber para cuidar dos nossos familiares.

    Que bom seria se um dia...todos nós pudéssemos ter direito a esta dignidade nos dias mais difíceis.Então sim, seremos um país desenvolvido

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  5. Drª.Helena.
    Gostei deste seu artigo, apenas lhe acrescentaria algo de muito importante: Os Cuidados Paliativos não podem ser direccionados apenas para uma dada elite, eles têm que ser para todo a povo português, sem qualquer excepção!
    Cumprimentos
    MO

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  6. Caro Marcolino
    Não leu bem o meu post. O que defendo é justamente que esse tipo de cuidados seja generalizado a todos. E essa tem sido a luta incansável da Dra Isabel Galriça Neto!

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  7. Estimada Helena,
    Penitencio-me...!
    Sou daqueles que vão pugnando anóninamente pelo apoio aos doentes graves, fazendo parte de um pequeno grupo de séniores, visitadores voluntários, a doentes terminais do foro oncológico. Quando em 2009 necessitei de alguém, para me ajudar nas minhas deslocações, para a quimioterapia, tive que fazer das tripas, coração coragem, apanhar um autocarro que me levasse de minha casa, ao Santa Maria. No final de cada sessão, lá regressava a casa, mais enjoado que o enjôo, cansado, e com algum receio de desmaiar pelo caminho. Uma vez em casa, tratava de mim, com aquela Força que Deus sempre me deu, até melhorar. Não tive qualquer apoio, por falta de verbas para tal, e pela intensa burocracia por parte de quem deveria solucionar a questão, em vez de a complicar. Vivo sózinho, sem familia, filhos, netos e irmãos. Deveriamos ser olhados com mais carinho. Em jovem, entre 63 e 65, também dei o corpo ao manifesto na guerra colonial. Sempre paguei atempadamente os meus impostos. Depois de tanto dever cumprido, porque não um pouquinho de comodidade e afectos, quando o corpo já não reage como aos 25 anitos...!? Tenho a benesse de Deus, de ainda poder ser independente e autónomo. Mas isso só durará enquanto o corpo puder. Depois, que Deus me conceda morrer repentinamente, para não ser pesado nem ao Estado, nem à Sociedade.
    Cumprimentos
    MO

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  8. Caro Marcolino
    É justamente para que pessoas como o Marcolino possam usufruir de uma velhice mais serena que eu coloquei este post.
    E se só nos comentários é que falei da Isabel Galriça Neto foi para que não dissessem que estava a elogiar o braço direito de um dos meus filhos na área da saúde.
    Como houve quem o referisse agora estou à vontade. É uma pessoa de uma dedicação total à causa.

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  9. Estimada Helena,
    Esta nossa conversa levou-me a olhar lá para trás e ver que desde muito jovem fui sempre dado ao bem-fazer. Ainda no final do Liceu pertenci, como voluntário, à JOC, onde vi dramas humanos que me assustaram, mas ajudaram amadurar os meus verdes anos. Volvidos cerca de 50 anos, os mesmissimos dramas, vestidos de roupagens mais modernas, teimam em continuar a existir. Vi pobres a pedir por necessidade, em que o excesso que angariavam, era partilhado, com outros pobres, do seu gheto, porque esses novos pobres, do mesmo gheto, ainda tinham vergonha de dar a cara, para ir pedir auxilio. Aí aprendi o que era saber Partilhar. Anos mais tarde fui convidado a ingressar num dos primeiros movimentos, em Lisboa, de apopio aos Sem Abrigo. Eram noites inteiras no voluntariado de auxilio a quem padecia ao relento. De poucos passamos a muitos, assim já nos podiamos revezar, e fazer por nós nos nossos empregos, com menor esforço. Mais tarde convidaram-me para ingressar num grupo de visitadores voluntários de uma das cadeias civis de Lsboa. Confesso que esta fase de abordagem a um social bem difernte do meu, me custou deveras. Andei por lá cerca de 4 anos. Os dramas eram infindos, e a inerente violencia psicológica, desmesurada. Repentinamente, numa fortuita ocsião social, surgiu por parte de dois antigos colegas, velhos amigos, da faculdade de Medicina, «curso que não consegui ir além do 2ª ano, porque me foi negada a vantagem do Adiamento, para partir de imediato para Angola. Castigo este, por ter tomado parte no movimento estudantil de 1962», o convite para ingressar num grupo de Séniores, como visitador Voluntário a Doentes Terminais, do foro Oncológico. Ainda hoje, dada a minha falta de visão, reduzida em 85%, e os achaques próprios, num corpo de um antigo desportista federado, ainda teimo e doar-me, uma vez por semana, a todos aqueles que necessitam de se sorrir, no meio dos seus dolorosos males. É uma enorme felicidade interior, conseguir que alguém, sofrendo de dores fisicas, e com medo de morrer, se sorria para mim, só porque lhe disse algo que o fez sentir-se assim! Então, digo cá para comigo: Já ganhei o dia, tornei o medo deste ser humano, menos medo, a sua solidão bem menos solidão, e as suas dores fisicas quase esquecidas...!
    Descrevi-lhe isto porque, o social, desde o pós-guerra, refiro-me à 2ª guerra mundial, manteém-se gélido, continua-se a fomentar a existencia do Vale dos Leprosos, para onde eram lançados esses pobres seres humanos. Quanto Vale de Leprosos, prolifera por aí, e os seres humanos, deshumanizados com o odor do consumismo em vez de se harmonizarem, tornam-se cada vez mais, mas muitissimo mais, frios, carrascos, de um mundo em que os ideais cristãos deixaram de ter terreno propício, quase que comparo a um pedaço de terra, outrora arável, onde hoje, a planta do tremoço não consegue medrar...
    Dia feliz para si
    MO

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