quarta-feira, 6 de abril de 2011

Já aconteceu

Rompo momentaneamente a promessa de não falar deles. O Primeiro Ministro acaba de anunciar que Portugal vai pedir ajuda externa. Disse aqui, há três meses, que isso aconteceria no fim de Abril. Aconteceu já, infelizmente. Não me interessam culpas. Interessa-me o país e os portugueses. Quero continuar a orgulhar-me de Portugal e que os meus concidadãos que podem menos do que eu, não sejam espoliados do que já não têm. José Socrates nem neste derradeiro momento deixou de alijar culpas. Nem se dignou informar o líder do maior partido da oposição, que soube pela comunicação social. Agora deixa o caso nas mãos do Presidente da República. A todos os níveis lamentável.
Sobre o estado em que nos encontramos aconselho a leitura da entrevista dada pelo Professor Sobrinho Simões, Professor Catedrático de Medicina e Prémio Pessoa, que pode ser lida na íntegra no blogue da Ana Mesquita.
Contudo o diálogo que se segue é a reprodução do post de Pinho Cardão em 29 /3/11 no 4R - Quarta República (www.quartarepublica.blogspot.com)

Jornalista: Pensa que esta crise vai ser pior do que as outras? -
Penso, infelizmente sim. E quando ouço os economistas falarem ainda fico espantado. Como é que eles não se aperceberam de que aumentando progressivamente o défice tínhamos uma receita para o desastre?

Jornalista: Afirmou várias vezes que o que de melhor nos aconteceu foi a entrada no euro. Foi uma oportunidade perdida?
Foi uma oportunidade muito mal aproveitada, mas teria sido muito pior para o país e para os portugueses se não tivéssemos entrado...Prefiro ficar sob o domínio da Europa do que ficar apenas entregue aos jogos políticos portugueses.

Jornalista: Os portugueses são condescendentes?
Pior, nós admiramos o sucesso do aldrabão. Em Portugal não há censura social para a esperteza saloia nem para a corrupção a que passámos a chamar informalidade. Pelo contrário, admiramos os esquemas, os expedientes. Vivemos deles.

HSC

9 comentários:

  1. Bom dia Helana (e permita-me que a trate assim)
    Pronto: confesso: sou sua fã.
    Adoro a sua escrita, a sua maneira de estar na vida, o seu amor pela família e amigos,as suas receitas, e sobretudo o seu riso.
    A vida não é fácil, e ouvi-la rir é uma terapia.
    Vivemos num pais de faz de conta, em que a maior parte das coisas é arteficial.
    Somos um país ainda com a mentalidade do "parece mal", mas mal parece o que este PM tem feito, e isso ninguém vê.
    Somos um país que não reage enquanto "fôr dando".
    Enfim, hoje é só para lhe dar os parabéns pelos seus blogs e pedir-lhe que continue assim, a dar-nos uma lufada de ar fresco.
    Prometo continuar a espreitar e a deliciar-me com a sua escrita: umas vezes mais prfunda, outras sentidas e ainda outras mais mundanas.
    Um abraço
    Benedita

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  2. Li na íntegra intervista do Professor Sobrinho Simões no Blog da Ana Mesquita e felicito-a pela escolha da passagem que aqui reproduziu. Não pode ser mais adequada ao momento.
    Realmente o que me preocupa, muito, é a aludida admiração dos portugueses pelos "espertalhoões". Só espero que o dia 5 de Junho não nos traga mais do mesmo.
    Obrigada por partilhar as suas ideias e permitir que possamos também fazê-lo.

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  3. Eduardo Prado Coelho, antes de falecer (25/08/2007)
    teve a lucidez de nos deixar esta reflexão, sobre nós todos!

    Precisa-se de matéria prima para construir um País

    A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia,
    bem como Cavaco, Durão e Guterres.
    Agora dizemos que Sócrates não serve.
    E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.
    Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão
    que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.
    O problema está em nós. Nós como povo.
    Nós como matéria prima de um país.
    Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda
    sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.
    Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude
    mais apreciada do que formar uma família
    baseada em valores e respeito aos demais.
    Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais
    poderão ser vendidos como em outros países, isto é,
    pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal
    E SE TIRA UM SÓ JORNAL,
    DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
    Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares
    dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa,
    como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil
    para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.
    Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque
    conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo,
    onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
    Pertenço a um país:
    -Onde a falta de pontualidade é um hábito;
    -Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
    -Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois,
    reclamam do governo por não limpar os esgotos.
    -Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
    -Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que
    é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memória
    política, histórica nem económica.
    -Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis
    que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média
    e beneficiar alguns.
    Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas
    podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.
    -Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços,
    ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada
    finge que dorme para não lhe dar o lugar.
    -Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro
    e não para o peão.
    -Um país onde fazemos muitas coisas erradas,
    mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
    Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates,
    melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem
    corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.

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  4. Continuação:
    Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português,
    apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim,
    o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
    Não. Não. Não. Já basta.
    Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas,
    mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.
    Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA' congénita,
    essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui
    até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana,
    mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates,
    é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós,
    ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte...
    Fico triste.
    Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje,
    o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima
    defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.
    E não poderá fazer nada...
    Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor,
    mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a
    erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
    Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco,
    nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.
    Qual é a alternativa ?
    Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei
    com a força e por meio do terror ?
    Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece
    a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados,
    ou como queiram, seguiremos igualmente condenados,
    igualmente estancados... igualmente abusados !
    É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa
    a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento
    como Nação, então tudo muda...
    Não esperemos acender uma vela a todos os santos,
    a ver se nos mandam um messias.
    Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses
    nada poderá fazer.
    Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.
    Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:
    Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e,
    francamente, somos tolerantes com o fracasso.
    É a indústria da desculpa e da estupidez.
    Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável,
    não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir)
    que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco,
    de desentendido.
    Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI
    QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.
    AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.
    E você, o que pensa ?... MEDITE !

    Agora, digo eu que só enfia a carapuça, quem não colocou os Valores da Cidadania e da Étida em 1º lugar.

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  5. Cara Helena,

    Sou optimista por natureza, mas estou muito pessimista em relação ao estado a que o país chegou.

    Os sacríficios vão continuar a ser apenas para alguns.

    Será que os "salvadores" da ajuda externa vão acabar com os ordenados megalómanos dos gestores públicos para gerir mal e acumular dívidas de milhões?

    Será que as obras megalómanas vão parar? Não há vários países da UE com melhor nível económico e que, ainda, não têm TGV e os aeroportos são bem menos modernos que o de Lisboa?

    Até o maior leigo sabe ver onde estão as derrapagens públicas culpa de sucessivos governos compostos por alguns "patos bravos" que chegam ao poder e têm medo que o mundo acabe (isto é válido para o poder local).

    É esta pequenez e deslumbramento do poder que não nos deixa evoluir!

    Isabel BP

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  6. É esta pequenez e deslumbramento do poder que não nos deixa evoluir!
    (isto é válido para o poder local).

    Isabel BP

    Permita-me que a subscreva.
    Isabel seixas

    Ainda bem que quebra promessas,essa de se indignar é fundamental, a nossa Helena Oneto infiltrou-me a certeza de que quando as pessoas se calam as insidiosas ditaduras se instalam.

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  7. DrªHelena,
    Tenho pela frente mais uma crise feita pelas doutorices dos politicos deste pais. As duas primeiras, 78 e 83, vivi-as calmamente porque nunca fui de grandes consumos. Nosso agregado de 4 pessoas, tinha por hábito a prática da frugalidade real, nunca a fingida.
    Em 83 minha filha mais velha tinha 8 anitos e a mais nova cerca de 1 anito.
    Em 1983 o nosso televisor era a preto e branco.
    Soubemos sempre ser resilientes em relação às infuencias do exterior que nos rodeava. Eramos bem felizes porque na fartura a frugalidade também foi sempre o nosso lema de vida.
    Hoje, sou um velhote simpático que vive sózinho, mais por opção de vida, do que por isolamento. Sei que existe crise porque escuto as conversas à minha volta. Sei que os produtos sobem de preço porque quem faz as compras sou eu.
    Se existe alguma coisa a ser corrigida, que esteja a causar-me dificuldades, então tomo a dianteira e corrijo-a para poder continuar a ser feliz. Mas a única coisa que me pode causar problemas, 24 sobre 24 horas, é deixar-me influenciar, pelos ditos e mexericos à minha volta, por isso fui sempre, desde que me conheço, um resiliente!
    Cumprimentos
    MO

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  8. "Vivemos deles".
    Eu não vivo! Alias preferiria ser um mestre sem abrigo do que ofender as minhas convicções na ética e na correcção.
    Obviamente quando digo isto fico sempre à mercê dos cada vez mais eternamente cínicos, que desconfiam de quem aspira à humildade e à santidade de carácter, não de um Deus maior, mas de um humilde Adão.

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  9. P.A.S.
    Desculpe dirigir-me assim, directamente a si, mas é claro que tem toda a razão! Sabemos que quando o regra existe, por consequência existe a excepção, mas tem toda a razão em indignar-se... imagino, ou tenho a certeza absoluta que não foi o único, pois aconteceu-me o mesmo e penso que outras pessoas de Princípios e Valores, já o sentiram ao ler estas linhas, caso da Drª Helena... por exemplo, onde vigora a rectidão de palavras e actos. Mas é como diz, ficamos à mercê dos cínicos pois não sabem o que é a humildade, nem acreditam que outros saibam e infelizmente, neste "Paraíso à beira mar plantado", como lhe chamam, mas que mais se parece com o Inferno de Dante...
    Aqui, dizem eles, não há lugar para humildades... mas Dante foi ao Inferno acompanhado por um justo, segundo ele... Às vezes também lá aparecem (os justos).
    Boa achega!

    Saudações.

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