O facto de uma pessoa estar anos sem pagar impostos, é que me surpreende, nesta época e no país. Então os nossos diligentes cobradores de receita, aceitam que um pacato cidadão esteja tantos anos sem satisfazer as suas obrigações fiscais e nem sequer vão a sua casa penhorar-lhe a dita? Bem me parecia que este eficaz sistema de cobrança havia de ter falhas. Tem, está à vista. A solução é morrer sem dizer nada, sem avisar...
Enfim, muitas lições haveria a tirar de casos destes, nomeadamente, no que respeita à forma como o progresso, ao fim e ao cabo, acabou por determinar que evoluissem as relações familiares e de amizade. Não se trata apenas de solidão. Trata-se de indiferença pelo semelhante, pelo vizinho, pelo colega, pelo amigo.
Hoje ninguem sabe de ninguém. Ou antes, todos sabem de alguém, aquilo que, justamente, não interessa saber.
HSC
Drª. Helena,
ResponderEliminarAinda ontem à tarde, conversando com uma grande amiga com mais 20 anos que eu, no café onde nos encontramos diáriamente, para tertuliarmos, com mais companheiros de jornada, chegamos à idiota conclusão de que nós, vivendo assim sós, sem ninguém sob o mesmo tecto, nunca desejámos dar conta de que algum mal nos possa acontecer. Isto é, se durante dois dias, ou mesmo mais, algum de nós não aparece, também não nos ralamos muito, porque desenvolvemos aquele mecanismo, oriundo do submundo do medo, inexplicável, de defesa, de que certos males, àquele pequeno grupo de sexa, septa, octa, nonagenários, nada poderá acontecer...
Reinadios, vivemos todos sós, autónomos e independentes, sem vontade alguma de pensar que a nossa vez de partir, poderá chegar a qualquer momento.
Há cerca de dois anos, estava em casa a fazer qualquer coisa, e pensei fortemente num amigo de 99 anos. Não o havia visitado, como foi sempre meu hábito, no anterior fim-de-semana. Meti-me nos transportes públicos e lá fui dar com ele meio desmotivado, sem grande vontade para se lavar e vestir. Ajudei-o e, a dada altura, perguntei-lhe: O que lhe deu hoje?
Respondeu-me vagamente que «ela está quase a visitar-me». Dei-lhe banho, vesti-o e coloquei-o na sala de estar para ali almoçar e ficar a ver Tv. Perguntou-me insistentemente, pela filha mais nova, uma médica já reformada... Resolvi pô-los em contacto telefónico e ela acedeu passar lá por casa mais cedo que o habitual. Depois de dado o almoço ao meu velho amigo, disse-me que poderia ir embora porque se sentia bem melhor e com mais forças. Já a noite estava a dar sinais da sua presença, a filha mais nova deste amigo, telefonou-me dando-me conta de que o Pai havia falecido, na sua presença, dizendo prazenteiramente: Ainda bem que vieste mais cedo!
Drª.Helena, sei que pederei ter sido muito macabro mas, as nossas vidas dão que pensar e, quanto menos pensarmos, mais galhofeiros seremos...!
Cumprimentos
MO
Um Post oportuno.
ResponderEliminarMas, se se verificar com mais atenção, são fenómenos que sucedem, sobretudo nas grandes cidades, Lisboa em primeiro lugar, depois Porto, etc.
É mais difícil nas aldeias, ou até nas pequenas Vilas. Existe, por lá, maior solidariedade. Apesar de tudo.
Muito sinceramente, não tenho pena das misérias da cidade. Nenhuma. A sua desumanidade tem um preço, quase sempre elevado. As pessoas na vida fazem opções. Entre outras, a de viver na cidade. É certo que, às vezes, não têm outra opção. Mas muitas vezes têm.
Por mim, optei, há muito, por deixar de viver na cidade. Mas uma larga maioria das pessoas sente essa atracção, pelas grandes urbes. Onde ninguém se importa com elas. Uma pessoa, numa grande cidade, é um número, entre os muitos que nela habitam.
Onde vivo, por saudável opção - deixei Lisboa sem nenhuma saudade, aqui há uns anos atrás - somos pouco mais de 25 habitantes, preocupamo-nos com todos, se a chave de casa ficou na porta, se alguém estranho “andou por ali”, se o vizinho está doente, se precisamos de algo, de falta alguma coisa, etc. E conhecemo-nos, sem termos de partilhar intimidades. Respeitamo-nos, cumprimentamo-nos, discutimos coisas comuns do interesse da Localidade, falamos e rimo-nos e, importante, interessamo-nos pelo que de mal nos possa acontecer. Existe solidariedade, sem intromissão na vida privada.
Por vezes, a opção viver na cidade chega a extremos. Como – casos que conheço – de pessoas, na maioria entre os 25 e 40, dos exemplos que se me depararam, que, tendo hipóteses de emprego no Interior, preferiram mendigar nas suas famílias, pais, e ficar pela cidade, em vez de rumarem ao tal Interior, em busca de um emprego, um trabalho, que lhes permitiria mais dignidade e, acima de tudo, mais independência económica.
Mas, sejamos justos. Também há, felizmente, o inverso, ainda que exemplos minoritários. Ainda bem.
Resumindo, o que aqui este Post, atento, nos diz, no fim de contas não é mais do que a progressiva desumanidade das grandes cidades. Em toda a parte, não só por cá.
É tempo de se reinventar, quem sabe, o conceito de solidariedade. Entre cidadãos. Sobretudo nas grandes urbes. Urge!
P.Rufino
A solidão preocupa-me... mas a velhice aliada à solidão entristece-me!
ResponderEliminarIsabel BP
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaros amigos
ResponderEliminarMais uma vez o meu internet explorer "comeu" um comentário. Julgo que foi um da Isabel BP. Estava a lê-lo e de repente quando carreguei no publicar desapareceu. Reclamei para a Zon mas informaram-me que não havia constrangimento, pelo que se admitia fosse um qualquer virus. Acho estranho porque isto só acontece quando abro os comentários. Por isso pergunto se alguem já teve algum problema quando entra no meu blogue.
Cara Helena,
ResponderEliminarNos últimos dias, tive dificuldade em enviar os comentários.
Ao submeter apareceram uns procedimentos diferentes. Como fiquei na dúvida se foram enviados... Escrevi novos!
Isabel BP
Obrigada Isabel. Já fiz download do Google Chrome para durante uns dias abrir com ele.O inconveniente é que neste último não consigo alterar o tamanho da letra. Vejo bem felizmente, mas costumo usar os 125% que oferece letras maiores!
ResponderEliminarBem O blogue a mim não me sufragou nenhum comentário...
ResponderEliminarQuanto à morte sozinhos ...Já era muito antes de ser...
E a pena é tão displicente...
Morrer também pode ser passar do estado físico já sem viabilidade digna a um estado volátil de preservação da identidade indivisível pela diferença de ser cada um e igual a Si só a Si...
E aí a morte é o renascer...
De Nós para os outros, e isto só pode Ser...
Uma Nova dimensão de Amar...
Isabel Seixas