sexta-feira, 21 de maio de 2010

A salgalhada

Ao ouvir o noticiário da hora do almoço, pensei que tinha percebido mal o que fora dito. As novas medidas fiscais entravam hoje mesmo em vigor, sem passar pelo crivo do Parlamento, porque os dois santos da nossa política - S. Bento e S. Caetano - tinham chegado a um acordo sobre a matéria. Acordo que, diga-se de passagem, ninguém conhece nem irá conhecer.
Tentei repetir a notícia noutro canal. Afinal tinha ouvido e entendido tudo bem. O aviso referia-se a um assalto não autorizado, retrospectivo, descarado, vergonhoso, aos bolsos daqueles que trabalham e não se podem dar ao luxo de ter offshores, porque o que ganham mal lhes dá para comer. Quando podem comer, claro.
Há muitos anos, confesso, que não assistia a um saque deste tipo. Isto, tendo atravessado as piores crises do século XX e XXI. E não me venham com as tretas do costume. A lei existe para ser cumprida e se é o Estado o primeiro a não a cumprir, então é porque o país se transformou em tudo menos num Estado de direito. Que envergonhados se devem sentir os verdadeiros socialistas...
Gostava muito de saber o que é que o Dr Jorge Sampaio, tão expedito a destituir governos, faria num caso destes e surpreende-me a bonomia da nossa comunicação social, que nem sequer se lembrou de questionar tamanho perito sobre esta manhosa salgalhada...
Há esquecimentos muitíssimo oportunos. Nomeadamente, quando Mário Soares até elogia Passos Coelho. E, também, claro, muito esclarecedores!

HSC

7 comentários:

  1. Creio que se chegou a um tal estado de coisas, que as pessoas estão entorpecidas com a sucessão de malfeitorias.
    Apegam-se à distracção mais próxima, seja a telenovela, o jogo de futebol ou o último crime.
    Tudo o que de manhoso tem vindo a lume é adornado com o queixume do complot, lança-se a dúvida sobre a suspeita e passa tudo em brancas nuvens. Poeira, areia, peneira, enfim, o povo vai aturando, por apatia ou fatalismo.
    Os discursos pomposos são de uma falácia até à náusea, as afirmações peremptórias desdizem-se logo a seguir.
    Isto é tão mau, mas tão mau, que nos está a tirar a capacidade de raciocínio.
    Manietam-nos com um manto de vergonha.
    Cansaço.
    Descrença até em nós mesmos.
    Que situação!

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  2. Estimada Helena,
    Estive a ler os últimos blogues e, modéstia àparte, considero-os tão bons como os meus, também diários.
    Vejo que os teus peferidos não incluem o que me diz respeito. Efui ver alguns dos indicados. Canfesseo que não são comparáveis qos que são diariamente da minha autoria.
    Pronto. Disse o que pensava, o que põe a Filipa furiosa, que é uma simpática profissional, ao contrário de mim, que sempre, desde os bancos da escola, sempre deixei os professores atrapalhados porque lhes dizia na cara que não tinha entendido nada do que tinha querido explicar.

    Um forte abraço,

    J.V.

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  3. Sempre achei, talvez por ter vivido num país Ocidental numa das épocas mais risonhas da história mundial, época pós-guerra que reconduz os sobreviventes à necessidade do apagamento de todos os males, que as mudanças deveriam ser operadas num ambiente de racionalidade e de paz.
    Mas a realidade suplanta a mais tenebrosa das fantasias e o tempo pós-guerra vai-se esgotando levado pelo esquecimento do pior de nós.
    Os ciclos de guerra e paz fecham-se. O ciclo da paz, numa época de globalização, parece novamente estar a fechar-se abrindo caminho ao pior que há em nós.
    A ganância, o desrespeito pelo outro, a desumanidade, a desigualdade crescente parecem novamente desabrochar forte e feio.
    Ao ver CR, o futebolista, chegar num helicóptero ao seu estágio, qual vedeta de Hollywood, pensei nos homens bons que se quedam despojados de tudo.
    Para quando a próxima guerra, que dos despojos criará um homem novo?
    Estranho e perturbante este desespero que se vai apossando de nós!

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  4. Cara Helena:

    Tenho uma ideologia, mas não pertenço a partidos políticos, não gosto de receber ordens (essa coisa da "disciplina partidária" irrita-me particularmente.) Democeracia, "my foot"! O PCP inventou-a, à disciplina..., e todos, mas todos os partidos, copiaram. Por que será? Não quero de todo atingir pessoas da sua Família em particular, mas falo dos mecanismos da política portuguesa em geral, que são perversos, na minha opinião. Acredito que uma solução melhor para os mais pobres (ou mais desfavorecidos, como se diz agora) está à esquerda, mas tem de haver honestidade em tudo. E ainda creio que há pessoas honestas em Portugal, muito poucas, mas em todos os quadrantes políticos.

    Raúl.

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  5. Regressei agora a Portugal pensando, ignorante, que só me iriam aos bolsos nnaquele "lá mais para a frente" que pensamos sempre. Afinal, o lá mais para a frente, é agora e já. Eu detesto despotismos e mais abomino ter de pagar a crise. Estou tão farta destes saques constantes à minha carteira. Aliás, na minha carreira contributiva, em toda ela, tenho tido a enorme sorte de ser sempre contemplada com crises e roubos. Adoro isto, não haja dúvida!

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  6. Dear Helena,
    Por favor, faça rapidamente outro post e TIRE-NOS ESTE HOMEM DA FRENTE !!!!! Tenha do ! Ja basta o que basta !

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  7. Num determinado país, segundo me disseram aqui há tempos, um tipo inventou um “brinquedo” engraçado, que consiste numa bola de futebol…com a cara da pessoa a quem gostaríamos de dar um pontapé. É feito por encomenda. Já virão se a moda pega aqui? Dá para todos os tipos de “gostos”, ou “desgostos”, melhor dizendo.
    P.Rufino

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