terça-feira, 30 de março de 2010

Fascínio das alturas

Tinha prometido contar a "estória" destas imensas "plataformas", a que se ousa dar o nome de sapatos. Aqui vai ela, no resumo de um artigo sobre o tema, publicado na revista espanhola EPOCA, de 16 deste mês.
Sociólogos afirmam que as mulheres, por norma, têm três ou quatro vezes mais sapatos do que os homens e, nos EUA, onde o estudo foi feito, a média feminina situa-se nos vinte modelitos...
A ideia dos estudiosos desta matéria é a de que o uso deste tipo de calçado é tido como um símbolo de poder.
A obcessão pelo salto alto vem, já, de Isaias, que no Antigo Testamento, "ameaçava" as mulheres que fazim ondas no cabelo e caminhavam sobre plataformas, porque chamavam a atenção dos homens.
Curiosamente a origem deste tipo de vestuário leva-nos, contudo, ao sexo oposto. Com efeito,
os saltos altos começaram com as botas de montar a cavalo - arte eminentemente masculina - pois seguravam melhor o pé no estribo. E, foram crescendo em altura, com o passar dos anos.
Na Idade Média, o calçado com sola de varios centímetros permitia fugir à sujidade dos solos das ruas e das praças. Mas a sua moda data de Luis XIV, o rei sol, que encarregou o mestre Nicolas Lestage - criador das primeiras botas sem costura - de lhe fazer calçado que lhe compensasse a falta da estatura desejada. O resultado foi tão fascinannte que determinou a pena de morte para quem copiasse o seus modelos.
Durante o sec XVII as botas continuaram altas, mas as mulheres assenhoriaram-se das alturas, para o dia a dia. A partir daí a ideia foi exportada par o resto do mundo. Tal facto iria, aliás, ajudar a tornar conhecidos alguns criadores como Ferragamo, Dior, Chanel, Louboutin, Yves Saint Laurent, Alexander McQueen e, sobretudo, Manolo Blahnick, filho de mãe espanhola e pai polaco, que elevou a sapataria à categoria de arte. Quem não se lembra de Sarah Jessica Parker e dos seus "manolos" na série o Sexo e a Cidade?
A moda actual propõe, mesmo, calçado com formas esculturais, decorações profusas, materiais inovadores e...saltos a partir de 16 cm! Os de Mc Queen, os chamados sitting shoes, têm 30,5 cm e, claro, não são para caminhar. Servem, apenas, para ir de porta a porta...
Os médicos consideram que as sabrinas, totalmente rasas, também não são adequadas. O pé está preparado para suportar 70% do peso corporal na zona do salto e 30% na zona palmar, com saltos que oscilem entre os 4 e os 5 cm. Qualquer alteração a isto, provoca o inverso, ou seja 70% na zona palmar e 30% na zona do tacão, com consequências que vão do joanete, à artrose, a problemas circulatórios e, até, à celulite.
Há, porem, uma postura que permite usá-los. É a famosa tecnica Alexander, um método que pretende corrigir padrôes de movimento e de que é fã, Vitória Beckham.
Satisfeitos? Espero que sim. Mas aqui a autora destas linhas, como não quer partir as pernas, nem ser ridícula, vai ficar pelo meio, que é onde se diz que está a virtude...

HSC

10 comentários:

  1. Que Post mais interessante e engraçado! Na verdade, as mulheres “batem-nos” aos pontos quanto ao número de “faluas” que possuem. Mas é que não há qualquer comparação. E não é preciso ser Imelda Marcos (tive ocasião de ver o “Palácio Museu” dos Marcos, em Manila, isto há umas duas décadas, e a colecção de sapatos da “D.Imelda” era de arrepiar! Cerca de 5.000! a par dos inúmeros perfumes, cerca de 4.000 e coisa! – outra “fetiche” de muita mulher - o perfume).
    Mas essa explicação do salto é interessante, pois julgo ter “compreendido” uma razão suplementar para não me ter dado muito bem com as “famosas” botas alentejanas, de “salto de prateleira” que aqui em tempos comprei na “Malveira dos bois”, como é conhecida pelos “saloios” (não é pejorativo, é a designação daquelas gentes simpáticas da região) aquela Malveira, e assim se distinguir da outra, pertencente a Cascais, Malveira da Serra. Eu andava com uma mania – coisas que de quando em quando me passam pela cabeça, para grande “maçada” de quem compartilha estas “aventuras” comigo – de comprar umas botas daquelas e de caminho um capote e até o “famoso” boné inclinado, numa de “passar por alentejano, ou trajar como tal”. Tendo sido frustrado (com alguns “remoques” de permeio: “que disparate, desde quando és um alentejano?” e por aí) a adquirir estes dois últimos “itens”, consegui, pelo menos, levar avante a compra das “botifarras”. E lá regressei a casa contente. Mas a casa, para meu “esquecimento” não ficava no Alentejo, onde a terra é plana e…chove pouco (este ano foi uma excepção). Ficava perto de Cascais, num sítio com imensa inclinação, muita rocha, ruas com calçada portuguesa que se associarmos tudo isto uma pluviosidade razoável, requer muito cuidado e…”sapatilhas” adequadas. Pois em duas ou três ocasiões, passeando o meu Timóteo (o cachorro), fui parar ao chão, tropecei nas rochas, fui para o hospital com uma mão num frangalho, voltei a cair, rolando rua abaixo, etc. Isto tudo porque com ou sem chuva aqueles “botins” não eram, de facto, os ideais para por ali andar. E desisti, com mágoa, delas. Estão à porta de casa, a enfeitar a entrada. Passei a usar para o campo (dali) um calçado mais adequado, não fosse ainda ir parar ao Guincho!
    Mas voltando aos saltos, nem tudo corre mal. Uma vez, em Lisboa, uma “gentil senhora”, em cima de uns “saltões”, enfiou o tacão altíssimo entre o empedrado desta “encantador” calçada lisboeta e ficando com o sapato preso, caiu, ou antes, cairia, não fosse eu, que seguia atrás divertido, a ver como se “sustinha” em cima “daquilo”, tê-la amparado, no exacto momento em que “desfalecia” em direcção ao “rés-do-chão”, ou seja, o passeio. Pior visão foi numa ocasião, numa dessas esplanadas do Chiado, ver uma corpulenta dama, sentada, que tinha nos pés umas “faluas” bastante altas também, mas com a “frente” dos sapatos bem dilatada, devido aos tais joanetes. Como é possível tal sofrimento, magiquei comigo!
    A terminar este já demasiado longo comentário, recordaria que algumas das mais famosas e belíssimas “cortesãs” e “demi-monde”dos Séculos XVII e sobretudo XVIII usaram sapatos, ou botins, elegantíssimos de salto alto. Laura Bell (“the toast of London”), Cora Pearl, Tullia d’Aragona, Léonic Leblanc, Harriet Wilson, Perdita Robinson, Valerie Marneffe, Ninon l’Enclos, La Barucci (que se punha despedida diante do espelho dizendo: “oh Gran Dio, que je suis belle!”), Marie Duplessis, etc, etc.
    P.Rufino

    ResponderEliminar
  2. Ó P. Rufino, o que eu me ri com este seu comentário.
    Lembrou-me uma história passada com meu Pai e também no Chiado. Eu, de mão dada ao ascendente. À nossa frente uma senhora, bem nutrida, levava um chapéu que tinha um passarinho.
    Eu, enfeitiçada, só olhava o chapeu e não via os joanetes da dita que eram confrangedores e estavam apertados nuns sapatos de saltos fininhos. Junto à Bertrand a senhora desequilibra-se e meu Pai, sem conseguir travar o passo, estatela-se em cima da senhora. Eu, ligeira, em lugar de os ajudar, nada. Só queria correr atrás do chapéu que voava calçada abaixo.
    Esta história ainda hoje me faz rir, porque o meu querido Pai atraía este tipo de situações.
    Noutra vez, no eléctrico, ao dar lugar a uma senhora viúva que usava um chapéu com um logo veu preto, ia atabafando a senhora porque perdeu o equilibrio e não hesitou. Deita a mão ao veu da viuva, que tendo o chapeu pregado ao cabelo, ficou com ele à altura do nariz e não conseguia pô-lo no lugar, porque o meu Pai continuava agarrado ao pano ... Enfim, aí não fugi mas fiquei, especada, a rir. Levei depois uma boa descompostura!

    ResponderEliminar
  3. Cara Helena
    Gostei do post bastante ilucidativo por sinal, porém a simples visão da foto dos ditos sapatos....Taquicardia-me.
    Pensar em calçar sapatos do tipo destes equivale para mim, a uma sortida de alpinista. Mas sei que não sou a unica. Tenho uma amiga que diz e comprova-o, que em cima de uns sapatos com mais de 4 cm de salto, ensurdece. Numa ocasião em que de saltos altos o marido a convidou pra dançar, em casa de terceiras pessoas, acabaram ambos no chão, porque segundo ela tinha que prestar tanta atenção ao seu equilibrio nos sapatos, que não conseguia ouvir a musica e e daí pro chão foi um rápido e mau passo.
    Adorei o comentário com a história do chapeu com passarinho (O que é a moda, o que são os tempos!) mailos juanetes encarcerados num qualquer sapato de infinito salto, a queda em dominó e aí continuo a pensar nos pobres dos juanetes que com a queda, não lhes restava outra solução senão enviarem dores, se possivel lancinantes, ao cerebro da portadora. Enfim uma cena digna de filme. E como já não bastasse, uma criança indiferente a todo este infortunio dos adultos, correndo atrás do chapeu, não fosse o pássaro bater asas e voar.
    Quanto à viuva quase morta por gentil sofocamento no electrico... Acho que é caso pra dizer:
    - Ele há dias de azar!

    Aidet Santa-Maria

    ResponderEliminar
  4. Olá, bom dia, cara Helena

    Ora agora fiquei a saber a história das "alturas" do calçado: é para mim totalmente novidade (sou mesmo leiga)!
    Eu gosto de uns tacões aí com uns 4-5 cm no dia a dia, não me sinto bem com calçado raso, e até aguento uns 7 cm, no máximo, desde que com base de apoio generosa. Mais do que isso... :(
    É para mim um mistério como se consegue andar com tacões de 12 ou 16 cm, ou mais, ainda por cima com tacão em "agulha"! Quando era criança e andava nas "andas" era bem mais fácil!
    Acho bem um pouco de vaidade, mas sacrificar a saúde, animais (caso das peles), ou o ambiente (caso da compra excessiva de artigos de moda) por causa disso, parece-me um erro muito grande.
    Sapatos com 30,5 cm ???? Isso já náo é só mistério, deve ser transcedência mesmo! Ando mesmo desfazada da moda :)))
    Aliás, a obsessão pela moda parece-me uma grave doença do nosso tempo, embora já venha de outros séculos, nunca atingiu as proporções actuais...
    Às vezes parece-me que a "moda" é uma alternativa à religião ou a valores éticos...

    Beijinhos e obrigada pelo "post"

    ResponderEliminar
  5. Adoro sapatos. São sublimes formas de flutuar. Aqueles que não entendem o que está além dos passos - o que nem sempre combina conforto e beleza - perdem.
    Ah, perdem...

    ResponderEliminar
  6. Un vrai délice, tanto o Post como os comentários! Fartei-me de rir. Mas que os sapatos são um fetiche, isso são, nem é preciso recorrer aos psicanalistas (que, entre nós, e sem querer ofender ninguém, também não são garantia de boa análise...) Saltos muito altos, nas senhoras, sapatos de futebolista, fetiche de muitos homens... Enfim, quanto aos modelos de sapatos: "sic transit Gloria Mundi!) Raúl.

    ResponderEliminar
  7. Maggie esta foto é a meter-me consigo e com a fotografia que tinha anteriormente no seu blogue, lembra-se?!
    Como eu a entendo no que a sapatos diz respeito. Se não me refreasse...seria dona duma sapataria. Sapatos e relógios, são uma perdição.Às vezes cedo. Às vezes não.
    Continuo a olhar para os dois que comprei e ainda não os calcei...
    Aidet
    Tem toda a razão. Por isso no primeiro post eu falava de "debilidade feminina"!
    Raul
    Fetiche são, de facto. Uma vez discuti isso com um analista. Tem que ver com simbolos fálicos. Mas certo, certo, é que serão mais elegantes. E muito mais incómodos, também.

    ResponderEliminar
  8. Helena,
    Quando tinha quatorze anos lembro-me que calçava as sandalias de salto alto da minha mae para ir para o Liceu de Queluz. Com 19 anos fui a uma festa numa discoteca em Lisboa com uns sapatos pretos elegantissimos com um salto de 10 cm (vendo a historia hoje à distância nao sei se precisava mesmo naquela noite de medir 1,78 cm...) so que no dia seguinte nao me dava arrojada com dores nos "costureiros".

    Hoje abdiquei dos saltos altos no dia a dia (e isto apesar de ter um marido que mede 1,90) nao tenho a vida "qui va avec". Reservo os saltos no maximo de 7cm para as saidas glamour.

    Hoje morro de amores pour um sapato : o "Dorothy" da Joana Vasconcelos. Fabricado com 280 tachos.
    Transformando as tampas dos tachos em "lantejoulas" para uma festa cheia de glamour, Joana Vasconcelos pretendeu chamar a atenção para a ambiguidade da vida da mulher contemporânea, que é activa, trabalha e anda de salto alto, mas ao mesmo tempo tem uma vida privada à volta dos tachos". Dorothy é, no fundo, uma mistura de Feiticeiro de Oz e Gata Borralheira.

    http://4.bp.blogspot.com/_-RaUPLSop8c/RwjWeNwxh9I/AAAAAAAAA9Y/3Lq5TT_ic7Y/s1600/Dorothy.jpg

    Helena, aqui so para nos aquilo "dos vinte modelitos" contabiliza os de verao e os de inverno ? ou sao 20 + 20 ? Sera que estou a ficar AMARICANA ? Helena, vou ter que a deixar...vou fazer a auditoria da minha sapateira.

    Pascoa Feliz. Com muitas amêndoas nos sapatinhos ; )

    PS E se alguém me souber dizer onde posso encontrar uma foto do Dorothy (sim do sapato, nao da Judy Garland) agradeço-lhe eternamente é que quero emoldura-lo e pô-lo na minha cozinha.

    ResponderEliminar
  9. Minha querida Julia
    O post de hoje é-lhe dedicado. E pode ver o sapato na net procurando no Google em "Sapato de Joana Vasconcelos"

    SantaPáscoa!

    ResponderEliminar
  10. Eu gostei eu queria usar um desse apesar de que ei sou homen eu usaria esse sapato alto

    ResponderEliminar