quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A triste solidão e a pobreza envergonhada

Leio nos jornais e oiço no noticiário. A triste realidade está aí. Existem quinze mil idosos à espera de um lugar num lar e há um milhão e trezentos e cinquenta mil que vivem com uma pensão mínima que não atinge os 420 euros. A juntar ao rol o país regista, anualmente, setecentos funerais para indigentes.
O Banco Alimentar Contra a Fome alimenta e apoia quase cem mil idosos, através de cabazes mensais ou refeições servidas nas instituições.
Por outro lado estão a surgir os chamados "novos pobres" que ainda têm casa para viver, mas cujos donos não têm dinheiro para comer. Estes, que outrora constituiram uma classe média, talvez baixa, talvez remediada, que vivia do seu trabalho, passou ao grupo daqueles que tendo perdido o emprego, não perderam a vergonha. O que faz com que nem amigos nem familiares saibam da miséria que atravessam. Pertencem ao grupo dos pobres envergonhados.
Fico gelada enquanto ser humano e, pior, enquanto economista face a este quadro deprimente.
Sento-me à mesa onde não tenho luxos, mas tenho o suficiente. Há quem se sente e seja servido de iguarias. Há quem tenha lucros e não reparta. Há quem governe e não "obrigue" quem tem muito, a dispensar um pouco desse muito, para que os que nada têm possam ter alguma coisa. Há quem nem sequer saiba o que é a palavra solidariedade.
O que é que nos aconteceu? Em que país vivemos nós? Que governos permitiram que isto fosse sucedendo? Quem tolera tudo isto? Quem os salva?
Antes, a ditadura escondia. Hoje, a democracia mostra. Mas com 35 anos deste regime, que fazem os democratas responsáveis para resolver o que agora está à vista?!

HSC

14 comentários:

  1. Querida Helena,

    Que consciencialização tão profunda...
    Tantos porquês e com tanta razão. Os afectados nem sabem o que lhes aconteceu... ainda estão a pensar, porque lhes aconteceu tanta desgraça, sem nada terem feito para isso a não ser trabalhar, trabalhar e sonhar...
    Lido com esse sufoco e penso o que é o ser humano, com tanto poder nas mãos?... Um monstro.
    A solidariedade está a deixar de existir.
    A comparação com a ditadura foi pertinente, da vez que nos vamos apercebendo cada vez com mais profundidade que vivemos uma ditadura mundial, provocada pelos Chefes de Estado e Banqueiros
    Quase 50 anos para prepararem este desfecho. Não foi pela força... foi pela artimanha com a participação activa da ciência e da tecnologia. A bola de neve ainda está no começo.

    Penso que está aqui a resposta para as minhas perguntas:

    http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=24634&catogory=Opini%E3o

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  2. Minha Cara Amiga

    para quem vive naquela parte vulgarmente conhecida por Interior, e tecnicamente, penso, NUTS III, a novidade há muito que se esbateu, e filtrada a "inocência" de quem vive num mundo aparte, lá longe nos gabinetes, o consolo lá vem de quando em vez, por meio de discursos e raramente por agilidades. Citando o Presidente da nossa República, há dias "Tempos difíceis são tempos de maior exigência e de elevada responsabilidade. Para todos, é certo, mas ainda de maior exigência e responsabilidade para os detentores de cargos públicos.

    O EXEMPLO DEVE VIR DE CIMA.

    O País real, que quer trabalhar, que quer uma vida melhor, espera que os agentes políticos deixem de lado as querelas artificiais, que em nada resolvem os verdadeiros problemas das pessoas."

    Não faz sentido a preocupação do comum cidadão, que ao invés de se sentir representado por uma nobre classe, em situações "de crise" como a que atravessamos há muito mais anos que a chamada crise do sub-prime, ainda se dá ao luxo de propor referendos ou outros actos cívicos (lícitos, se pertinentes) que custam aos (eventualmente...) nossos cofres cerca de 35 Milhões de Euros, tendo em conta que os três actos eleitorais do ano anterior custaram 116 Milhões... ora, no meio de tanta "abundância", esta pobreza até pode ser virtual... assim queira Bruxelas, assim se faça!

    um imenso abraço

    Leonardo B.

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  3. Há quem não tenha e gasta mesmo assim, e depois é o crédito pessoal que provoca a falência das famílias, e depois é preciso criar estruturas para resolver esse problema. Não deixa de ser digno de comiseração, mas também revolta a quem com cuidado e dificuldade governa o seu dia-a-dia sem extravagâncias.

    É verdade, antes a ditadura escondia, hoje a democracia mostra. Sempre paus de dois bicos. Mostra, informa, banaliza... (eu sei, também desperta algumas consciências)

    parabéns pela forma e pelo que escreve.

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  4. CARA HELENA,

    Atente-se a essa loucura.
    A mim toca-me particularmente uma vez que tenho um projecto na gaveta de instalação de um lar de idosos.
    Sinto uma revolta por toda esta falta de solidariedade humana.
    Deprimente para uns indiferença para outros...
    Pobreza de espirito essa assim deveras insuportável.

    Com admiração

    Alguém que muito a aprecia.

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  5. Quanto à resposta sobre os governos fica aqui
    Infelizmente olhando para o passado, e para o presente, não consigo visualizar um futuro, nem sequer suficiente, para Portugal... é triste? É... mas é a realidade... sem paninhos quentes.

    Quanto à parte da democracia... isto mais parece, pelo link que atrás refiro, um monarquia apenas com roupa menos faustosa, e sem coroas, claro!

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  6. Nem imagina o quanto concordo consigo, Voz 0 db... isto mais parece o feudalismo.
    Já tinha visto esse seu post e realmente dá para ficar bem esclarecida... andam a ver quem consegue roubar mais, mas o Pinto Balsemão... tenham dó!
    Por isso ele é o donos dos Media... de tanto "amealhar", rápido e eficiente... fora o BPN. conquistou um lugar ao sol no Clube Bilderberg, os mandantes da Nova Ordem. Ali Baba e os 600 e tal ladrões... só de topo!
    Roubar compensa!

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  7. Sempre que me desloco casa trabalho, encontro senhoras idosas que fazem o percurso a pé até Chaves, cerca de 3 Km,a quem ofereço quase sempre boleia, o quase refere-se a quem me olha com alguma desconfiança e não aceita, deduzo por algum tipo de receio que suscita o meu sentido de autocrítica e me leva a crer que não tenho por si só uma cara credível...

    Após o obrigadinha Menina/Minha Senhora a conversa desenrola-se normalmente por assuntos 99% relacionados com o binómio saúde /doença, normalmente o destino é o centro hospitalar, o centro de saúde, as clínicas de exames complementares de diagnóstico e também o naturista que tem uma maquina miraculosa que até detecta, para além de visualizar todo o organismo, Depressões e esquizofrenia.

    Todas as Senhoras têm uma comunalidade...O dinheiro da reforma não dá sequer para o autocarro que aliás passa longe... E espaçadamente...
    Isabel Seixas

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  8. Ai Isabel, não calcula quanto me tocou o seu texto.
    No Alentejo e na Beira temos o mesmo problema. E todos os dias me pergunto como podem certas pessoas dormir descansadas perante a situação que nos criaram ou permitiram que fosse criada.
    Sabe? Quanto mais velha fico, mais exigente me torno a pedir responsabilidades.
    Dei explicações desde os 13 anos para satisfazer o que não queria pedir aos pais, estudei com bolsa e para isso tive de estar entre os melhores, tenho idade para descansar e continuo a trabalhar, fiz um doutoramento quando outros pensavam na reforma, disponho de uma noite por semana para ensinar quem não tem possibilidades de estudar e acho que não fiz nem faço mais que a minha obrigação. Por tudo isto dói-me o coração pensar que exportamos massa cinzenta e os meus netos um dia vão herdar os erros de quem, durante anos, tão mal nos governou!
    Que pena tenho dos velhos e das crianças deste país que tanto amo.

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  9. Helena, guardadas as devidas distâncias ( de $), sabe que a própria Princess Marie Louise, neta da Rainha Victória, se descreveu a si mesma como "a new poor"? A expressão, seja qual for o grau de pobreza, magoa. Perder-se o muito ou o pouco que se teve e ter vergonha de mostrar, por up-bringing, é horrível! Aconselho, se permite, o livro " My Mémoirs of six Rigns", da Princesa Marie Louise (que, se calhar, já leu.) Lembrei-me dela por causa da expressão "novos pobres" e só por isso, mas o livro é muuuuuuuito interessante!

    Voltando à dura realidade dos não-príncipes com casa, com fome e com vergonha, creia-me, fico muito magoado. Quero participar, mas como, quando existe "vergonha disfarçada", escondida? Também lhe digo que me impressionam muito mais os chamados idosos do que as crianças porque a estas há sempre alguém que lhe dê a mão. Sabe, melhor do que eu, que esta "nova miséria" não exsite só cá, mas tem toda a razão, por aqui, é ultrajante. Sei de senhorias que querem pôr velhos na rua porque com uma pintura e uns arranjos na casa de banho e na cozinha, podiam aumentar a renda. Sei que muitos senhorios também não são ricos, mas, se o Estado não contribui, não podem estes tentar um compromisso, especialmente quando são tão devotos (sic)? Os tartufos outra vez. Falar, aconselhar e rezar é fácil... Raúl.

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  10. Raúl "devotos" aqui...só de votos!
    Um dia destes ainda escrevo um post sobre estas novas devoções...

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  11. Isso mesmo, Helena: de votos! Fico ansiosamente à espera do artigo.Voltamos à questão de ontem: por aqui, e por outras bandas também, diga-se em abono da verdade, não há noção de Estado! Aproveito para corrigir o nome do livro de memórias da Princesa Marie Louise "My Memoirs of Six Reigns". Raúl

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  12. Isso mesmo, Helena: de votos! Fico ansiosamente à espera do artigo.Voltamos à questão de ontem: por aqui, e por outras bandas também, diga-se em abono da verdade, não há noção de Estado! Aproveito para corrigir o nome do livro de memórias da Princesa Marie Louise "My Memoirs of Six Reigns". Raúl

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  13. Só agora pude passar por cá e comprovar que aderiu consensualmente ao meu comentário, verdadeiro aliás...Do qual também acho que não operacionalizo a essência sem fazer mais que a obrigação... Limito-me a dar boleia a Senhoras porque o Meu Marido como forma de me demonstrar a sua preocupação com o que me chama
    "Tens a mania que és a Sra. da Aparecida, qualquer dia vais ver..."

    Mas a sério que me sinto como se o privilégio fosse Meu... E é ...

    Quanto ao Meu doutoramento Mais uma vez está após a fase curricular... na prateleira... Com a consciência que como docente do Ensino Superior é inevitável, sem coragem Já , por impotência, sequer de balbuciar mesmo em murmúrio, desculpa esfarrapada...

    Mas confessando a inveja de Si neste contexto, com mérito Seu Claro e no bom sentido...Quem sabe não me empurra...

    Como Enfermeira Mulher Filha Mãe irmã cuido do meu Pai com uma demência acerca de 10 anos, com a colaboração directa da minha Mãe e das minhas irmãs retribuindo algo que nem sequer é profissional... ternura, carinho, compreensão incondicional, evicção a todo o custo de agredir o meu Pai com a violência de recorrer ao serviço de urgência
    ( Sei do que falo, para chegar a corroborar a necessidade do acto, aos meus Pares ainda por cima, tenho que aclamar o critério de emergência a colegas de trabalho com o pavor de não despoletar o neuroticismo sempre latente, eu sei por excesso de trabalho e Burnout, mas que fragiliza , adultera o sentido do preocupar-se com, do partilhar angustias e sofrimentos visando a luz do atenuar dores, mas que culmina em olhares, ás vezes, só de alguns, não se assuste, "Lá vêm despejar o velho" Meu Deus que humilhação a contrabalançar a obrigação de Bom acolhimento equitativo, o tal dos Juramentos, por alguns Mercenários esquecidos deliberadamente, a favor de um poder insidioso em detrimento da humanização )
    Daí que aqui...

    A realidade sem querer ser Lamechas ou ter o protagonismo da desgraça, fado, e...

    É de facto mais difícil, pela castradora interioridade que amordaça á nascença a capacidade de defesa e argumento em reivindicar direitos inalienáveis como o direito á saúde ...

    Já vi ... exerci funções no serviço de urgência durante quatro anos como Enfermeira 86/90 e continuo a ver felizmente excelentes profissionais e profissionais de excelência focalizados perpétuamente nos juramentos de Hipócrates e Nightingale que é como quem diz na consciência e dever profissional, a sério... são 99% (Claro que tenho noção, Lecciono investigação, e essencialmente sou optimista) , Mas também tenho o azar, de ás vezes, me calharem os filhos da Mãe dos 1%... Mesmo sendo Enfermeira, Santos da Casa...
    Isabel Seixas

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  14. palavras tão sábias...

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