Na YO DONA, a revista do jornal El Mundo, de 12 de Dezembro, vinha publicado um artigo algo arrepiante que referia o último grande "negócio" em matéria de procriação, o qual envolve, já, 400 milhões de euros.
De que se trata, então? Apenas de bebés espanhois made in India. Exactamente. Leram bem. Os genes são espanhóis mas chegam ao mundo em ventres indianos. Dados os competitivos preços praticados nas clínicas deste país pelo aluguer de ventres maternos, são cada vez mais numerosos os casais que a eles recorrem. Trata-se de um trafego internacional florescente, que uns consideram exploração e outros vêem como esperança. São as chamadas "fábricas de bébés"...
As mães de aluguer não podem, durante a gravidez, sair à rua e só se lhes permite receber uma visita de familiares por semana. Têm de obedecer a condições prévias de saúde bastante exigentes e recebem por cada contrato quantias que se situam entre os 3500 e os 4500 euros, o que corresponde, aproximadamente, a dez anos de trabalho no campo ou a uma casa modesta numa zona rural.
Estas clínicas multiplicam-se e os ventres disponíveis também, sobretudo, longe das zonas urbanas. E como os preços na Índia se situam em cerca de metade dos mais baixos praticados nos Estados Unidos, o negócio floresce.
Outros pormenores não cabem no espaço de um post. Tão pouco sei se tal tipo de transação já terá chegado a Portugal. Mas, depois de todas as transformações por que as sociedades actuais têm passado, será que este novo comportamento ainda consegue espantar alguém? Possivelmente, só a mim!
HSC
Análise séria e acutilante, humorada ou entristecida, do Portugal dos nossos dias, da cidadania nacional e do modo como somos governados e conduzidos. Mas também, um local onde se faz o retrato do mundo em que vivemos e que muitos bem gostariam que fosse melhor!
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
E cá vamos nós...
O país vive em permanente agitação. É a Assembleia que não se entende, o governo a fingir de vítima, o Presidente a pensar em 2011, os cidadãos a serem ludibriados pela banca, a criminalidade violenta a aumentar, o desemprego a crescer e... nós a pagar. Os que pagam, claro!
Eu sei que já passámos por períodos semelhantes. Mas, insisto, a palavra "semelhantes", é muito diversa de "iguais". Aqui e na matemática.
Mesmo nos mais agitados tempos de que me lembro, nunca coincidiu, numa mesma época, tanta falta de senso. O governo não governa. A oposição só se opõe. O PR não intervem e cada um trata de si, sem pensar no futuro nem naquilo a que se chama solidariedade.
E, no meio duma crise de que se fala diariamente, os portugueses bateram, este Natal, o record de levantamentos em multibanco. Foram "apenas" 80,7 milhões de euros por dia no período de 1 a 26 de Dezembro, totalizando mais de 2,1 mil milhões de euros naquela rede. Só no dia 23, as caixas automáticas registaram 3,3 milhões de operações num valor de 127 milhões de euros.
Ora se a estes valores adicionarmos "outras compras feitas a crédito", teremos a bela visão do que vai passar-se, em matéria de endividamento familiar, a partir de Janeiro. Mas quando de fala desta matéria fala-se, também, de crédito mal parado. Que, paulatinamente, caminha para cumes nunca antes atingidos.
Será que ensandecemos? Ou, pior, estamos perfeitamente lúcidos e sabemos que, não havendo futuro, só vale a pena gozar o presente?!
HSC
domingo, 27 de dezembro de 2009
Lição exemplar
Recomecei a vida que, neste período natalício ficou, como sempre, em suspenso. Lembrei os que partiram mas, finalmente, a tristeza começou a desaparecer.
Hoje era o aniversário da morte de um grande amigo meu. Fui à missa em sua intenção, como ontém fora à de minha mãe. Nada de surpreendente, portanto.
Só que em ambas as ocasiões sucedeu algo de inesperado. Refiro-me ao coro que acompanhou ambas as celebrações. Exactamente. Um coro de cinco negros fabulosos que, de forma perfeitamente inesperada cantaram, em batuque, os vários cânticos de Natal, surpreendendo tudo e todos. A vertigem do ritmo foi tal que, em ambos os casos, levou - pelo menos, a mim - a que a lembrança da morte fosse sentida como uma verdadeira glorificação da vida.
Saí dali aturdida. Mas em paz e, de novo, conciliada com a alegria. Aquele quinteto - que estava longe de ser de jovens -, numa espécie de sinal, havia-me mostrado que era chegada a altura de honrar os meus mortos com alento e não com tristeza. Lição exemplar!
H.S.C
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Um presente diferente
É a primeira vez que carrego um vídeo no blog. Esperemos que se consiga abrir porque é uma espécie de presente para todos os que me lêm!
HSC
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Natal tranquilo
A todos os que têm a paciência de me ler, desejo um Natal em paz. Com a tranquilidade possível. Acreditando - eu sei que é preciso muito esforço - que melhores dias virão e que terei, finalmente, oportunidade de, aqui, dizer bem de alguma coisa.
Eu estou no frio. Mas quentinha e rodeada dos que amo. Enquanto isto acontecer, dou graças a Deus. Só não sei a quem hão-de dar graças aqueles que não acreditam...
H.S.C
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
http://www.elpais.com/articulo/economia/Numeros/vez/rojos/elpepieco/20091220elpepieco_7/Tes
Como sou uma ignorante resolvi publicar em título o link correcto do jornal El Pais que referi no post anterior e que me dizem ter sido removido. Acabei de lá ir e está lá. Havia um hifen que não estava introduzido e que devia causar problemas. Agora fiz copiar e colar para não haver engano!
H.S.C
H.S.C
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Cá estou eu...
Desapareci por uns dias e dei um pulo à cidade luz. Um frio imenso apenas aquecido pelos ventos da imprensa estrangeira sobre Portugal. Veja-se
e tirem-se as respectivas conclusões. Muito do que lá está tem aqui sido dito. Mas cá dentro a verdade soa a falso e o falso soa a verdade. Que fazer?
Os relatos sobre as agressões verbais parlamentares têm, também, merecido comentários. Duvidosos. Sarcásticos. De quem esquece que, na própria casa, os comportamentos não são muito melhores.
Alguns países anunciaram a saída da recessão técnica. Outros, como nós, anunciaram-na muito antes de ela acabar. Até nisso somos originais...
HSC
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Os amigos
Preciso de amigos. Fazem-me quase tanta falta quanto a família. Não tenho muitos. Mas os que tenho são mesmo bons.
Hoje - e só Deus sabe quanto me custou - saí de casa para estar com uma grande amiga e partilhar com ela e com os amigos dela - alguns eram meus também - a festa de trinta anos de livros. De livros excelentes.
Foi a festa da Alice Vieira. No Jardim de Inverno do S. Luís, onde Jorge Salavisa, como sempre, recebeu todos. Foi, sobretudo, a festa da amizade que a Alice tão bem sabe cultivar.
A variedade de gente que ali estava provou quanto vale este sentimento que nasce, muitas vezes, sem se saber porquê. No meu caso, já aqui o disse, a Alice foi uma herança. Exactamente isso, uma herança. A minha estima por esta família começou com o meu querido Mário Castrim, seu marido, que me ajudou imenso a conhecer-me melhor.
Nessa altura, para mim, ela era a mulher do meu querido amigo. Quando ele desapareceu, aí sim, eu descobri o que ele me havia deixado: a "nossa" Alice. Não consigo, mesmo que queira, lembrar-me de como tudo começou. Sei, apenas, que ganhei uma das pessoas melhores que conheço. Cujo coração é do tamanho do mundo.
O Jardim de Inverno, hoje cheio por causa dela, mostrou bem a importância dos amigos.
H.S.C
domingo, 13 de dezembro de 2009
Todos rapazes finos...
Já aqui disse que o Canal Parlamento, em minha casa, está vedado a crianças. Mas ainda não o estava a adultos incautos que por lá quizessem passar. Vou repensar a questão e creio bem que deixarei de o ter sintonizado, que é para estar segura de que nem em zapping alguém lá passa.
A sessão desta semana foi tão chocante, tão sem nível, que pergunto como é possível estarmos a pagar a senhoras e senhores que nos representam desta forma. Sobretudo a estes últimos - se é que o nome se lhes aplica - porque as damas continuam a ser poucas.
Eu sei que em alguns países chega a haver pancada. Mas com o mal dos outros posso eu bem. O que eu questiono é se não deveria haver limites para tanta falta de civismo por parte daqueles a quem temos que obedecer e que devem representar, na hierarquia nacional, um patamar de referência.
Enfim, um espectáculo, a todos os títulos, lamentável. E depois admiram-se que em Portugal os alunos ou os encarregados de educação batam nos professores. Com exemplos destes...
H.S.C
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Um problema
Nogueira Leite publica hoje um pequeno artigo no Correio da Manhã ao qual vale a pena dar atenção. Diz ele que o nosso país tem um problema de finanças públicas que, a cada dia que passa, se torna mais grave, em consequência das políticas adoptadas nas três ultimas décadas.
Ora a decisão das três agências de rating caracterizarem negativamente a nossa economia, em simultâneo com a situação das nossas finanças públicas, são ocorrências suficientemente graves para deixarem o governo pouco tranquilo. Acresce, por outro lado, que a política seguida tem assentado no aumento da receita dos impostos e na despesa desorçamentada agora, para ser paga depois. Esta perspectiva parece, internamente, não preocupar muito ninguém. Mas não escapa aos analistas interncionais que consideram - como foi o caso da Moody's - que a classe política em Portugal não está à altura dos desafios que o país enfrenta.
Estranhamente, ao pensar sobre o que lera, lembrei-me do estado em que o país se encontrava quando Salazar chegou ao governo...
H.S.C
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Preocupa-me...
Hoje andei a pé em Lisboa. Muito. A comprar uns resquícios de presentes, porque decidi que este ano não os dou. A única excepção são os netos e os médicos que me aturam o ano inteiro e que, felizmente, são meus amigos.
Estou um pouco apalermada. Nos três locais onde me dirigi a febre aquisitiva era total. Filas para embrulhar prendas, carrinhos cheios de comida e restaurantes apinhados de gente, foi o que descortinei. A que acresce um novo pequeno pormenor: os cemitérios de beatas em que, agora, se transformaram as entradas dos estabelecimentos...
Ou seja, o país em crise e as famílias endividadas continuam na senda das compras. A crédito, claro, sem parecerem dar-se conta de que a factura chega em Janeiro. Nesse momento, irão postergar a liquidação e acumular juros sobre juros. Pacificamente deixarão de pagar!
E já nem falo do tabaco e do peso que ele representa no cabaz das despesas com a saúde... A democracia tem, também, este aspecto libertário de permitir que as asneiras individuais sejam colectivamente financiadas... O problema é que isto me preocupa!
H.S.C
Estou um pouco apalermada. Nos três locais onde me dirigi a febre aquisitiva era total. Filas para embrulhar prendas, carrinhos cheios de comida e restaurantes apinhados de gente, foi o que descortinei. A que acresce um novo pequeno pormenor: os cemitérios de beatas em que, agora, se transformaram as entradas dos estabelecimentos...
Ou seja, o país em crise e as famílias endividadas continuam na senda das compras. A crédito, claro, sem parecerem dar-se conta de que a factura chega em Janeiro. Nesse momento, irão postergar a liquidação e acumular juros sobre juros. Pacificamente deixarão de pagar!
E já nem falo do tabaco e do peso que ele representa no cabaz das despesas com a saúde... A democracia tem, também, este aspecto libertário de permitir que as asneiras individuais sejam colectivamente financiadas... O problema é que isto me preocupa!
H.S.C
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
O presente de Natal
Ando irritada com o ministro das Finanças. Muito irritada, mesmo, com o estado de ignorância em que os portugueses, cidadãos de segunda, foram mantidos durante meses a fio.
É lamentável que o homem do leme das finanças tenha escondido e não explique o que se passou nas contas públicas, com o argumento do impacto que a verdade poderia ter trazido ao sistema.
Os portugueses não são débeis mentais. Por isso têm o direito a saber como vão as contas da casa. Da sua casa. Do seu país. Do que deveria ter sido feito, do que foi realmente feito e do que ficou por fazer.
A consequência da mentira está à vista. Um defice grave, que não pode ser recuperado em três anos como pretende a Comissão Europeia e um rating de fiabilidade que nos coloca numa situação dificílima para obtenção de empréstimos no exterior.
Este foi o presente de Natal dado aos europeus de versão poruguesa!
H.S.C
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
Jacques Delors
Jacques Delors não precisa de apresentação. Trata-se de um mito, que o é pela simples razão de que muito do que de bom se alcançou nos últimos decénios tem, de uma forma ou de outra, a sua marca.
Na notável entrevista que concede ao El País de hoje, o ex Presidente da Comissão Europeia tece uma série de observações sobre a Europa, que devem ser lidas com a maior atenção. Num post dum blog não é possível abordar todas. Por isso, permiti-me transcrever, apenas, as chamadas que o jornal faz, para dar uma pálida ideia do muito que lá se afirma. Assim:
- O dolar é corrosivo e indispensável. Convém um sistema monetário mundial baseado numa cesta de moedas;
- Criar valor converteu-se numa ideologia com desprezo pelo risco; hoje cria-se riqueza antes de a produzir;
- A Alemanha governa em Berlim, a França toma-se pela "Grande França" e o Reino Unido é cada vez mais anti europeista;
- Necessitamos de lideres que tenham visão a longo prazo e que defendam interesses comuns;
- A UE ainda não alcançou a minha esperança: um espírito de autêntica cooperação;
- A crise de valores consiste no facto de que neste mundo tudo se compra. Nós defendemos os sonhos que o dinheiro não compra.
Finalmente, e em sub título da entrevista, aquilo que sobressai em toda ela: "Se a Europa não se integrar, serão os Estados Unidos e a China a mandar".
A tradução do espanhol não será a mais correcta, mas tudo o que aqui escrevi está lá. Aconselho vivamente quem possa, a ler na íntegra toda a entrevista. Vale mesmo a pena!
H.S.C
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
A 4 de Dezembro
Passa hoje mais um aniversário da morte de Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. Infelizmente a data vai, progressivamente, sendo esquecida, porque os vários inquéritos para apurar se houve ou não um atentado não foram conclusivos. Assim, existirão sempre filhos e netos que jamais saberão o que aconteceu a um dos seus mais próximos.
Sá Carneiro foi, seguramente, um dos políticos mais mal tratados deste país de memória curta. Para além duma vida familiar devassada, a sua vida financeira foi envolvida de escândalo, tendo-se mesmo chegado ao ponto de pôr a correr uma nota falsa com a sua efígie.
Quando assistimos a casos como este, pergunto se, alguma vez, a história fará justiça àqueles que deram a vida para a tentar modificar.
H.S.C
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
A iliteracia nacional
A literacia é a capacidade de alguém ler e compreender o que lê. De acordo com o relatório elaborado pela Data Angel, a pedido dos coordenadores Plano Nacional de Leitura, apenas um em cada cinco portugueses possui nível médio daquele desiderato. Na Suécia, ao invés, para se ter uma ideia da diferença, aquela proporção é de quatro para cinco. Ou seja, a literacia é quase total. Quase todos compreendem o que lêm!
Portugal enfrenta, assim, uma dificuldade acrescida na sua competitividade, porque esta questão não afecta apenas a educação. Afecta outras áreas, nomeadamente a económica. Uma empresa onde alguns empregados tenham embaraços na compreensão do que se lhes pede ou na leitura de instruções escritas, tornam a produtividade laboral mais baixa, com os custos consequentes.
Acresce, diz o relatório, que entre nós, "a exigência em conhecimentos e competências é baixa numa perspectiva comparada" e o mercado laboral "não parece compensar as competências em matéria de literacia na medida esperada". O resultado é que os portugueses não sentem qualquer estímulo para aumentar o seu nível de instrução.
Ora se o nosso país até nem está mal colocado ao nível dos recursos que dedica à educação, então o problema só pode residir no funcionamento do sistema educacional e do sistema económico. Binómio que deveria operar de modo a que, a uma melhor oferta de qualificações, possa corresponder um maior reconhecimento por parte do tecido empresarial.
H.S.C