" Leva-se muito tempo a ficar jovem"
( Frase atribuída a Jean Cocteau")
Eu sei que existe, nos nossos dias, uma escravatura. Tolerada. Praticada. Diria, mesmo, preocupante. Antes, eram apenas as mulheres. Hoje, o género conta pouco. Também os homens aderiram ao sacrifício.
Para quê? Uns dirão que vivem da imagem. Outros, que se querem manter saudáveis. Outros, ainda, que é uma tendência natural. Como se vê, nada responde à questão posta.
Para mim o facto explica-se...por falta de amor próprio. Estranho? Nem tanto.
Quem se estima, aceita a progressão do tempo. Inexorável no desgaste físico. Mas, por norma, bondoso no refinamento que, noutros campos, também provoca.
Perguntaram-me, uma vez, se não queria voltar aos 30 anos. Respondi, sinceramente, que não. É verdade que tinha um palminho de cara e de corpo. É verdade que me esforçava por ser boa nos três pilares em que assentava a minha vida: marido, filhos, carreira. Mas não tinha tempo para mais nada. Para o mundo à minha volta e, sobretudo, para mim, a constante deste tripé e aquela que, verdadeiramente, me irá acompanhar até ao fim.
Pessoalmente sou muito mais rica agora do que naquela época. A beleza foi-se. É verdade. Mas o resto ficou cá. Todo. Não quer dizer que seja muito. Mas esforço-me por que o seja.
Ora é disto que a frase de Cocteau fala!
H.S.C
a beleza não se foi
ResponderEliminara beleza superou-se
belo por dentro
belo sempre
A beleza é um mito. Um ideal caprichoso e prismático. Depende de conceitos culturais e de estilos em voga. É uma filosofia do parecer, um reflexo de tradições e de ambições.
ResponderEliminarUma futilidade acarinhada (in)conscientemente por sociedades e indivíduos, traindo, tantas vezes, a verdadeira essência do seu próprio conceito.
No entanto, nem é esse afã actual de se preservar uma imagem o que me aflige. Envelhecer torna-se a recusa da possibilidade de fazer. O que não foi cumprido, talvez jamais o seja. Isso sim, apoquenta. Isso desanima, quando se olha um espelho e se revê o passado em linhas duras e irrecusáveis. Porque não há panaceias, muito menos milagres. Os dias corridos somam-se em anos passados e o que não é, provavelmente não será. Envelhecer pode ser assim demasiado pesado para alguns. Saudade do que se imaginava sempre fosse acontecer; dessa ilusão…
A riqueza aqui declarada, por certo genuína e não menos inspiradora, não deixa de ser algo amarga para quem não se cumpriu…
"Envelhecer torna-se a recusa da possibilidade de fazer". É certo. Mas se é assim, porquê essa loucura colectiva de aos 50 querer parecer 30, se só o aspecto é que muda e o resto envelhece?
ResponderEliminarDe facto, as palavras e os gestos por fazer, por se cumprir, esses sim, são irrecuperáveis.
Mas também não é menos verdade que nunca saberemos o que se teria passado connosco se eles se tivessem cumprido. Serão só suposições. Porque há sempre um lado receptor cuja reacção se desconhece totalmente. Daqui que a filosofia do "se" me deixe sempre um pouco desconfiada...
As suas serenas palavras, imbuídas de sabedoria e compreensão, são verdadeiramente exemplares.
ResponderEliminarE o fio condutor dessa filosofia feita de filigranas de afecto e equilíbrio, tecidas em viveres inequivocamente galvanizantes, é uma linha pura. Visível. Orientadora.
Discreta sibila, como soe em mim.
Palavras como bóias. Fico muito grata. Muito…
Há uma ditadura do corpo! Uma cultura do corpo alimentada, aliás alimentadíssima, pela nossa sociedade em geral. E de muitas formas. E por muitos meios. Gerando, tantas vezes, situações bizarras! Há depois, pequenas contra-correntes como este seu post, como estas opiniões. E como algumas, poucas, atitudes.
ResponderEliminarEu, com trinta e alguns anos quero envelhecer, saber envelhecer, com rugas serenas à volta dos olhos e ir somando pessoas que as saibam aperciar, como eu as apercio nos outros.
Sabe HSC, eu acho-a uma das mulheres mais interessantes do nosso país. Poucas mulheres se podem gabar de tanto encanto. A sua boa disposição, a sua sabedoria, a sua inteligência, esse 'saber estar na vida', esse brilho nos olhos, essas risadas saudáveis. Quem me dera um dia ser como a Helena.
ResponderEliminarLurdes