sábado, 7 de setembro de 2024

Havemos de nos encontrar em dezembro

Querida Elena,

“Havemos de nos encontrar em dezembro”. Esta frase tem ecoado na minha mente desde o último outono, quando os nossos caminhos se separaram como folhas ao vento. Dezembro, sempre ele, o mês em que tudo parece se reencontrar — o frio que traz o aconchego, a luzes que piscam em cada esquina, as saudades que apertam o coração.

Lembro-me do dia em que prometemos isso. Estávamos sentados à beira do lago, os dias ainda eram longos e as noites quentes, mas a ideia do inverno já pairava no ar. O sol refletia nas águas calmas, e nós, tão jovens e cheios de sonhos, não imaginávamos o quanto o tempo pode mudar tudo. Falávamos de dezembro como quem fala de um porto seguro, de uma data marcada não no calendário, mas nas estrelas. “Havemos de nos encontrar em dezembro,” disseste tu, com aquela confiança tranquila que sempre me fascinou.

Desde então, cada dia que passa me aproxima mais desse reencontro. Será que mudou muito? Será que nós mudamos? Dezembros vieram e foram, e a vida, com suas voltas e reviravoltas, foi nos moldando à sua maneira. Mas a promessa, essa ficou.

Penso em como será quando nos encontrarmos novamente. Talvez estejamos mais velhos, com marcas de histórias que ainda não contamos um ao outro. Talvez tenhamos de procurar no fundo dos olhos para encontrar aquela faísca de reconhecimento, o vestígio do que fomos. Mas sei que, ao te ver, o mundo à nossa volta fará sentido outra vez, como se aquele dezembro do passado estivesse finalmente completando o seu ciclo.

Sinto saudades de ti, de nós, do que éramos. Dezembro está quase aí, e com ele, a esperança de que as nossas almas ainda saibam dançar a mesma melodia. Talvez o encontro seja breve, talvez dure uma eternidade — mas sei que valerá a pena.

Assim, sigo esperando-te, com o coração aquecido pela promessa de que, havemos de nos encontrar em dezembro.

Com carinho e saudade,

Francisco

1 comentário:

  1. O Francisco vivia em Macau.
    Era jovem, vivaço, bem disposto, orgulhoso dos seus três filhos.
    De repente, sem explicação, partiu.
    E não haverá mais Dezembros.

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