Há vidas que
nunca o chegam a ser, porque decorrem como se fossem as de outras pessoas. Era
isto que Teresa, hoje com mais de meio século de vida, pensava enquanto
arrumava umas cartas das filhas, agora a estudarem e a viverem no estrangeiro.
Como é que
tudo lhe acontecera, quando aos vinte anos sonhava ter uma família e uma
carreira? Não sabia responder, porque perdera a noção precisa do momento em que
essa viragem se dera
.Lembrava-se
bem, quando a Isabel nascera, da necessidade que sentira de ficar para sempre
junto dela e do muito que lhe custou retornar ao trabalho, deixando-a aos
cuidados da empregada até ao fim do dia. Quando a Sofia veio ao mundo,
decorridos apenas dois anos sobre o primeiro parto, passou a trabalhar em casa,
para dar assistência às duas. A decisão foi, sobretudo, sua. A partir daí
deixou, de facto, de ter a sua própria vida para se entregar à das filhas
Uma terceira
criança havia de aparecer, numa altura em que a vida profissional do Pedro, seu
marido, tivera já uma boa progressão. Por estranho que pareça foi, nessa
altura, que começou a sentir necessidade de voltar ao trabalho. E, partilhou
com o homem com quem dividia a vida, esta sua sensação.
Mas, para
sua surpresa, a reação não foi a esperada. A posição que ele atingira na empresa
impunha-lhe que estivesse presente numa série de eventos, que não eram
compatíveis com carreiras pessoais na família. Ficou triste mas
compreendeu que o marido precisava dela e da sua presença.
Foi assim
que, aos pouco, acabou abdicando do seu próprio tempo. E agora, que nem o Pedro
nem as filhas precisavam mais desse bem raro, Teresa sentia-se perdida, sem
vida pessoal e sem compreender como durante trinta anos se contentara com viver
apenas a vida dos seus!
HSC
Isto nunca me aconteceu, mas admiro muito as mulheres que dedicam a vida a familia. É brutal e de uma coragem enorme. Nunca fui capaz de me sacrificar assim pelos filhos, embora tenha feito tudo o que podia por eles.
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