sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A solidão de Isabel Allende

"Isabel Allende vive nos Estados Unidos há 30 anos e no momento está fechada em casa com o seu marido e dois cães. Quando lhe perguntaram sobre o principal medo que implica o vírus, "a morte", a escritora contou que desde que a sua filha Paula morreu, há 27 anos, perdeu o medo para sempre.
"Primeiro, porque a vi morrer nos meus braços, e percebi que a morte é como o nascimento, é uma transição, um limiar e perdi o medo pessoal.
Neste momento se apanhar o vírus pertenço ao grupo dos mais vulneráveis, tenho 77 anos e sei que se apanhar o vírus posso morrer, e essa possibilidade neste momento da minha vida apresenta-se muito clara, mas olho-a com curiosidade e sem medo.
O que esta pandemia me tem ensinado é a libertar-me de coisas, nunca foi tão claro para mim que preciso de muito pouco para viver. Não preciso comprar, não preciso de mais roupas, não preciso de ir a lugar nenhum, nem viajar, agora vejo que tenho coisas a mais. Não preciso de mais de dois pratos! Depois, começo a perceber quem são os verdadeiros amigos e as pessoas com quem eu quero estar."
E quando questionada sobre o ensinamento da pandemia para o coletivo Isabel responde:
"Ensina-nos a fazer a triagem das prioridades e mostra-nos a realidade. Esta pandemia sublinha as desigualdades de oportunidade e recursos em que vive a sociedade a um nível global. Alguns passam a pandemia num iate nas Caraíbas, e outros passam fome nas ruas ou fechados em casa.Também traz a mensagem de que somos uma única família. O que acontece com um ser humano em Wuhan, tem um reflexo no planeta inteiro. Estamos todos ligados e isso é uma evidência. Na realidade a ideia tribal de que estamos separados por grupos e que podemos defender o nosso pequeno grupo dos outros grupos é uma ilusão. Não existem muralhas, ou paredes que possam separar as pessoas.
O vírus trouxe uma nova mentalidade e atualmente um grande número de pessoas, entre eles: criadores, artistas, cientistas, jovens, homens e mulheres, caminham para uma nova normalidade. Eles não querem voltar à normalidade antigaO vírus convidou-nos a desenhar um novo futuroO que sonhamos para nós como humanidade global?
Percebi que viemos ao mundo para perder tudo. Quanto mais vives mais perdes. Primeiro perdes os teus pais ou pessoas muito queridas, os teus animais de estimação, alguns lugares e depois lentamente vais perdendo as tuas próprias faculdades físicas e mentais.
Não podemos viver com medo o medo estimula um futuro negro para ser vivido no presente.É necessário relaxar e apreciar o que temos e viver no presente. "

Isabel disse tudo o que eu tenho tentado dizer, ao kongo destes meses . Mas dito por ela, acredito que tenha mais força!

HSC

6 comentários:

  1. Concordo Drª. Helena! Isabel disse tudo. Muitos de nós queremos dizer o mesmo, pensamos do mesmo modo, mas dito por ela fica muito mais claro. Gosto de ler Isabel Allende.
    Obrigada por partilhar este testo. Muito bom.
    Maria (do Alentejo)

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  2. "nunca foi tão claro para mim que preciso de muito pouco para viver. Não preciso comprar, não preciso de mais roupas, não preciso de ir a lugar nenhum, nem viajar(...)" - do que parece que precisa e muito é de plásticas à cara; a mulher está mais esticada que a pele de um tambor...

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  3. Um texto que eu subscrevo totalmente,
    e que muita coisa quetem feito parte
    dos meus pensamentos nos últimos tempos.
    Obrigado pela partilha.
    Desejo que esteja bem.

    Os meuscumprimentos.

    Irene Alves

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  4. ... ao Kongo destes meses...

    Gralhas

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  5. Nem sempre concordo com a Senhora. Apesar de gostar "imenso" de Isabel Allende para mim não tem mais credibilidade que a senhora. Paciência. Mais uma vez bom domingo. Até amanhã bem cedo

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