sábado, 8 de agosto de 2020

Coração abençoado (2)

Prometi o resto da aventura e ela aqui vai. Num dos últimos dias antes do Natal, resolvi ir ao Corte Inglês para comprar a prenda de um afilhado, que ficara esquecida no rol das preocupações da data. Fosse pelo amontoado de gente, fosse pelo forte aquecimento, senti-me, subitamente, com falta de ar. Nestas coisas sou calma e fui para um canto, fazer exercícios respiratórios e fornecer mais oxigénio aos pulmões. Quando consegui dominar a situação, saí e chegada à rua vi que não estava bem. 
Cautelosa fui à Dra Sofia Furtado, pneumologista muito competente do Hospital da Luz e a quem fiquei a dever, possivelmente, a minha vida. Viu-me e disse-me logo que teria de ser internada para exames. Torci o nariz, não ia preparada para tal proposta pouco aliciante, mas no dia seguinte foi ela que me telefonou para que eu não fugisse. Nestes momentos eu passo de imediato de mãe para filha e de irmã mais velha para a obediente irmã mais nova. Ou seja, nem pio...
Lá fiz o primeiro Covid, que me pareceu chegar ao cérebro e lá me internei durante 4 dias nos quais fiz de tudo um pouco, sob a proteção do meu arcanjo na terra que é a Dra Isabel Galriça. 
Ou seja, dei utilização a grande parte da aparelhagem hospitalar cujo dom  é  ver por dentro o que não se vê por fora. E aí percebi não só o que precisava de ser arranjado como o que, possivelmente, teria originado o desarranjo, que se admite ter sido consequência de anginas mal tratadas - um perigo para rins e coração -, num tempo em que não havia antibióticos. 
Havia que fazer duas intervenções. Uma para desobstruir uma coronária e outra para colocar a válvula. E aí entraram em ação dois anjos. O Dr Rui Teles que executou qualquer delas e o Prof Nuno Cardim que as acompanhou ao milímetro através de toda a tecnologia usada para o efeito. Havia, ainda, na sala uma outra equipa preparada para  fazer a colocação da válvula de peito aberto, se por algum motivo, a outra se tornasse inviável. E foi deste modo que eu, meio acordada, fui assistindo às minhas lindíssimas vias para chegar à carótida. 
Dias depois, terceiro teste Covid e, finalmente a colocação da válvula. Não avaliam como é impressionante a precisão da equipa médica mesmo, agora, debaixo de um vestuário que parece o de um astronauta. Os médicos sairam alagados em suor da  sala gelada como um iglo.
Para mim, o que se seguiu foi o caminho para o Paraíso, excluindo a sala de cuidados intensivos que, sendo necessária, não é repousante. Mas foi só uma noite...
No dia seguinte voltei ao quarto rodeada de ternura e tendo à minha cabeceira o meu filho que antes só me vira de passagem, o Prof Cardim que foi seu colega desde a infância e o meu arcanjo, com tudo já preparado.Julgo que terei conhecido toda a equipa de cardiologia de tão simpática que sou!
No fundo, o meu coração foi reparado em 4 dias. E andou ele a penar por assuntos que agora são de pura lana caprina. Aprendi tarde, mas aprendi, que nada vale o nosso desassossego, comparado com aquilo que passamos quando é a vida que está em causa. Tanta irritação desnecessária, tanta lutas que só alimentam o ódio, tanta contenção para não ser mal vista, tanta, tanta hipocrisia. Perante a morte somos, de facto, todos iguais no sofrimento e na angustia.A mim salva-me quem lá em cima e cá em baixo, vela por mim...

HSC

6 comentários:

  1. Com um anjo na terra e outro lá nas alturas, tudo só podia correr bem !

    Melhores cumprimentos.

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  2. Dra Helena não calcula o bem que me fez. Daqui a 15 dias irei fazer a mesma operação e estava cheia de medo. Depois de ler os seus post's acredita que serenei imenso? As suas linhas foram mais eficazes que as conversa com os médicos.
    Abençoada seja de saber rir des coisas que lhe acontecem. O que eu adorava ser sua amiga!


    Susy

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  3. Que boa disposição a senhora tem sempre. Quem me dera. Devia dar cursos sobre o modo de viver a vida! Eu inscrevia-me já.


    Telma

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  4. As minhas orações a Deus serão para se sentir melhor e ter uma recuperação rápida.

    Amigos são Anjos de uma asa só...

    Espero que você sempre tenha um anjo ao seu lado.
    Posso mantê-la e ajudar-la em tudo o que faz.
    Posso confiar em você no amanhecer que se aproxima.
    Que ele/ela o guie aos belos lugares dos seus sonhos.
    Isso lhe dá esperanças brilhantes como o sol
    e a força do espírito sereno como a luz do luar em noite escura,
    Que o amor, o bem-estar e a coragem embelezcam a sua vida.

    E espero que você sempre tenha um anjo ao seu lado.
    Espero que você sempre tenha um anjo ao seu lado para a cuidar.

    Alguém para le pegar ao colo se você tropeçar
    isso lhe dá coragem para se apegar aos seus sonhos.
    E a disseúria para desfrutar de tudo.
    Guiando você com sua mão segura na estrada.

    Dia após dia, a vida traz mudanças
    lágrimas em um momento, felicidade no outro,
    Espero que seu jeito seja feliz, sem me sentir solitário
    Espero que receba presentes que sempre te acompanham:
    alguém para amar, um amigo leal
    Eu gostaria que o arco-íris sorrisse para você depois da tempestade.
    Esperançosamente, sua alma o entusiasma.

    Eu espero que sempre tenha
    um anjo ao seu lado..
    -autor desconhecido

    ''Anjo da Guarda enviado por Deus, um ser divino capaz de nos proteger de qualquer mal e que nos acompanha desde nosso nascimento. Ele tenta nos guiar por caminhos mais favoráveis e nos protege quando não percebemos os perigos em nossas vidas.''

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