quarta-feira, 15 de abril de 2020

A máxima solidão



Há dias escrevi sobre a impressão que me tinha causado ver, na cidade que nunca dorme, Nova Iorque, o enterro em vala comum daqueles de que se desconhecia a identificação. O incómodo foi tal, que andei agitada nesse dia e acreditei que aquela imagem me perseguiria para toda a vida. 
Sei que é uma prática seguida há quase dois séculos, mas pensar que ela ainda se mantém, no século XXI, num país  como a América, arrepia-me, choca-me. O sonho americano já não é, de facto, o que era... O que me leva a perguntar como serão, então, enterrados aqueles que morrem nos países miseráveis?
Ontem, numa reflexão sobre a minha semana pascal, descobri que outros dois momentos destes dias estranhos, vão ficar igualmente registados na minha memória. Um, a imensa solidão com que o Papa Francisco percorreu, vergado, a Praça de S. Pedro. 
O outro, o ecoar, no imenso e trágico vazio Duomo, da magnifica voz de Andrea Bocelli, no exterior da Catedral, a cantar Amazing Grace, de John Newton, acompanhado por imagens das principais cidades do mundo, completamente desertas. 
As emoções que ambos me provocaram, representam, creio, a dádiva imensa e inesperada de dois abraços de Deus!

HSC

11 comentários:

  1. Tudo o que mencionou dá que pensar. Na minha modesta opinião e, oxalá me engane, tarde será que voltemos a ser iguais ao que éramos antes do surgimento desta pandemia.
    Decerto que ainda vamos ver muitos episódios iguais a estes que enumera

    Oxalá me engane mesmo. Mas ...
    .
    Cumprimentos

    ResponderEliminar
  2. Há alturas em a palavra não faz sentido, pela simples razão que não consegue testemunhar o sentimento, algo impossível de pôr em palavras.

    Vi essas imagens, e calo-as bem fundo. Só isso. Apenas e só, isso!

    ResponderEliminar
  3. Não que mais me arrepia - se a imagem do vazio se a voz de Bocelli.

    ResponderEliminar
  4. Pássaros voam pelas montanhas de silêncios à procura de olhares supremos dos mundos.
    Buscam sentidos , sinais, procuram raízes, forças colossais.
    Depois, esvaziam quimeras de amarguras e aoreendem diamantes das Honduras.
    Poisam, sobem pelos ventos do Oeste expurgando todo o mato agreste.
    E ficam quedos perante a pujança daquela ténue bonança.
    E sonham ,. E nada mais.

    AM

    ResponderEliminar
  5. Pois eu também faço uma reflexão sobre a Semana Santa e a Páscoa. Não só da minha, mas de todos os portugueses. Privação é a palavra que melhor a define. Privados de comemorações, do convívio, das Missas, da família, das crianças, dos velhos, da alegria de estarmos todos juntos, privados dos abraços e dos beijos, privados da liberdade de nos podermos movimentar e deslocar.
    A tudo obedecemos, civilizadamente, conscientemente e de quase tudo temos abdicado em nome de um bem maior: os outros, pela sua saúde, também pela nossa, para travar a hipótese de propagação da doença. Aceitamos sem questionar todas as regras. O Dr. Paulo Portas ainda ontem fazia referência, às normas impostas nos funerais (a suprema dor!) com a limitação do nº de pessoas, sem despedidas, sem um abraço consolador e quase sem cerimónias.

    Compreendemos e por isso nos resignámos. Esta foi a nossa comum Páscoa.

    Por isso, AGORA tenho uma questão:
    Depois de tudo aquilo de que nos privámos, depois de todos os sacrifícios a que temos sido sujeitos com uma abnegação E X E M P L A R , os portugueses aceitarão bem que se abram excepções para outros, e liberdade só para alguns, a ponto de esses poderem fazer as comemorações, os festejos, os ajuntamentos no 25 de abril?
    Cuidado, muito cuidado!...

    ResponderEliminar
  6. (cont.) Ao dizer que os nossos políticos devem ter muito cuidado, é porque desconfio que a paciência dos portugueses também tem limites e vão achar que AFINAL uns quantos podem escolher a "missa" que querem celebrar e a que querem assistir...
    Os nervos andam à flor da pele. Basta um pequeno rastilho às vezes.

    ResponderEliminar
  7. E a Helena ainda continua a acreditar em deus depois disto??!!

    ResponderEliminar
  8. "os portugueses aceitarão bem que se abram excepções para outros, e liberdade só para alguns, a ponto de esses poderem fazer as comemorações, os festejos, os ajuntamentos no 25 de abril?" - os portugueses aceitam tudo, são uns bananas...

    ResponderEliminar
  9. Arrepiante.
    E mais arrepiante,para mim,a imagem do filho que não se pode despedir da mãe no seu leito derradeiro.
    JG

    ResponderEliminar
  10. Às vezes parecem "uns bananas" de facto. Mas não são completamente destituídos, também têm neurónios. E agora até têm mais tempo para pensar.

    ResponderEliminar