Desde muito pequena reparava que, perante situações semelhantes, as pessoas tinham reações completamente diferentes. Isso sempre me surpreendeu porque entendia que a razão de uma dor era sentida por todos da mesma forma. O que se passa é bastante diferente. Há pessoas que parecem indiferentes perante a dor ou a alegria. Nuns casos será feitio, noutros será contenção ou falta dela. Era a vida, pensava depois.
Recentemente estive num velório e assisti a uma cena única. Uma mulher nova chorava copiosamente a morta, enquanto a família se mantinha triste e silenciosa.
Ao dar um abraço ao meu amigo, perguntei-lhe se a jovem era próxima deles. Respondeu-me que não e que estava assim desde que havia entrado. O meu amigo, condoído, já lhe havia perguntado se ela era amiga da morta.
Ela retorquiu-lhe que não e que "só ia a velórios para poder chorar". Aparvalhado com a resposta, e sem saber o que responder, voltou para o seu lugar. Quando ele me contou isto pensei que a jovem carecia de tratamento psiquiátrico.
Passada uma hora, limpou naturalmente as lagrimas, foi-se arranjar ao toilette, bebeu um café e saiu com o ar de quem tinha vindo de assistir no cinema a uma comédia!
HSC
Boa noite Dra Helena. É muito raro fazer comentários mas esta situação deu-me muito que pensar. O ser humano esta cada dia que mais triste e solitário. Um beijinho
ResponderEliminarNunca, mas nunca mesmo, soube de uma pessoa assim !
ResponderEliminarMas, vamos à realidade : em vez de andar a chorar pelas esquinas as suas mágoas ( se as tem e acredito que sim ), optou por um local e por uma situação em que ninguém a incomodaria quando precisava de verter lágrimas sem freio.
Melhores cumprimentos.
No Brasil ainda existe a carpideira (personagem que já apareceu em novelas), mulher paga, hoje com dinheiro, mas dantes com bens, para chorar o defunto.
ResponderEliminarA carpideira existe há mais de mil anos e foi levada para o Brasil pelos portugueses. Não sei se em Portugal ainda existe.
É uma espécie de coro grego (penso que as carpideiras actuavam em grupo), de encenação do pranto e, se pensarmos, que as cerimónias como enterros, casamentos, baptizados, etc, têm algo de espectáculo...
Nunca ouvi falar de algo assim.
ResponderEliminarPor isso, é que a partilha de experiências é tão enriquecedora.
Esta história fez-me lembrar do que me aconteceu, já lá vão 20 anos, numa fase menos boa da minha vida, quando fui a um funeral e, embora não sendo de ninguém muito chegado, até eu fiquei surpreendida por chorar tanto e tão sentidamente.
Acho que chorei mais por mim, afinal de contas.
Há pessoas que por imposições sociais ou familiares têm que esconder os sentimentos. Talvez seja o caso desta senhora.
É uma situação, para além de inusitada, muito triste.
Um abraço do Algarve,
Sandra Martins
Para mim não é novidade porque já vi acontecer e nada dissemos porque não incomodou ninguém e talvez tenha escolhido os funerais para desabafar sem ser questionada(o).
ResponderEliminarTambém existem os que vão apenas para beberem café e comerem algo...daí no funeral do meu pai ter dispensado tal serviço que é pago a peso de ouro.
Um bom dia
Isto talvez pareça estúpido, ma a verdade é que fui às lágrimas com essa da criatura a chorar nessas ocasiões, sem conhecer o morto.
ResponderEliminarQuanto às carpideiras que um Leitor mencionou, sim, em tempos houve em Portugal. Pelo menos até meados dos anos 60 do Séc. passado (XX). Ainda me recordo de um meu avô nos falar disso, de haver gente, ali na Beira-Alta, que actuava como tal, carpideira (eram sempre mulheres), nessas ocasiões, com vista a ganhar uns trocos, que tinham essa "profissão" paralela, a para das suas no dia a dia normal, que se ofereciam para choramingar, aliás chorar a cântaros (como a chuva), pois sempre se dramatizava um pouco mais a cena do velório. Meu avô, achava aquilo aberrante, mas estava em minoria. Aquelas mulheres carpideiras eram muito consideradas e procuradas sempre que alguém morria e havia velório.
Se calhar, hoje até dava jeito, pois, ao que vejo, a malta que vai a um velório está bem disposta e cá fora das igrejas ou capelas até se contam saborosas anedoctas. Tempos modernos. Ora, umas tantas carpideiras sempre ajudavam a equilibrar o ambiente. Uns a rir e bem dispostos e outras ali a chorar (não importa se por obrigação, trabalho é trabalho). Pensem nisso!
Aliás, os funerais é onde muitas vezes encontramos pessoas que há muito não víamos. No último onde estive, aqui há 2 meses, foi memorável, pois reencontrei dois amigos (entretanto já em segundas nupcias, com uma data de filhos e avós de uns tantos netos!). Estivemos uns 30 anos sem nos reencontramos. E desde então já nos reunimos e programámos uns tantos encontros futuros. Bendito falecido! Bom tipo, não desfazendo. E recordámos as marotices do morto e suas maluquices! Us funerais começam a ser coisas mais divertidas do que no passado. Valha-nos isso! Para tristeza já basta alguém ter morrido!
Bom resto de fim de semana!
J.N
É muito misteriosa essa rapariga de que fala, Helena. Apetece saber mais coisas sobre ela. Qual a sua história, porque chora? E, sobretudo, percebe-se que não tem um lugar onde possa fazê-lo à vontade. Porque será? Que circunstâncias ou quem a impede? Há vidas tão intrigantes que apetece descobrir... Miss Marple perscrutaria ali algum perigo e segui-la-ia...
ResponderEliminarGl
-Havia inúmeros livros, principalmente de ficção e outros, ter-me-ia ajudado a superar a dor ao sair do meu país - Portugal, por mais de duas décadas. Estes não eram os livros que não estavam na prateleira quando eu morava na minha saudade, dor e tristeza, e todos estes no me ajudaram a preencher a mente longe de mim e da grave doença do meu . Foi o familiar; mas sim foi o livro da escritora Helena Sacadura Cabral, que adquiri nos correios do Terreiro do Paco, logo apos pisar no chão de Lisboa. Apos tantos anos ausente, senti ver-me descrita em parte , nas suas palavras -. -'Foram as minhas lágrimas que lavaram as páginas ao lê-lo'.-MorgadinhadosCanaviais
ResponderEliminarToda lágrima ensina a verdade dos mortais.-Platão