O Supremo Tribunal de Espanha decidiu a favor do Governo socialista e ordenou a exumação de Franco do Vale dos Caídos. Os restos mortais do ditador vão ser transferidos para o Cemitério El Pardo.
A família de Francisco Franco recorreu aos tribunais e ameaçou enterrar os restos do ditador na Catedral da Almudena, onde possui uma campa. A perspetiva de transferir o culto ao caudilho para pleno centro de Madrid fez o Governo apertar o cerco à família Franco.
O executivo anunciou, então, o enterro do ditador no cemitério El Pardo, nos arredores de Madrid, o mesmo onde está enterrada a mulher de Franco.
O Governo alegava razões de segurança e de ordem pública para impedir o enterro de franco na Catedral de Madrid.
A decisão do Supremo Tribunal foi tomada esta terça-feira, no dia em que se dissolvem as cortes e em plena pré-campanha eleitoral.
in TSF
Independentemente das razões de natureza ideológica que estejam na base desta decisão – será que a trasladação de Franco altera, em alguma coisa, a história da Espanha? - há nela algo que me incomoda, talvez porque eu própria já tenha passado por uma situação que se assemelha.
Creio que, depois de alguém morrer, se devem cumprir os desejos expressos por cada um ou, na ausência deles, que seja a família próxima a decidir o que fazer com o cadáver do ente que acaba de perder.
O governo espanhol tomou esta decisão contra a vontade da família do caudilho, impondo que Franco ficasse enterrado ao lado da sua mulher.
Mas com que direito, pergunto, um governo se apodera do destino que, no seu tempo, foi considerado o mais digno, obrigando a família, ditatorialmente, a aceitá-lo?
Serão, possivelmente, razões desta natureza, que levam a que o corpo de Marcelo Caetano continue em terras brasileiras e que o meu filho Miguel não pudesse ter tido, como era meu desejo, um funeral vivido em toda a intimidade. É triste!
HSC
A ditadura do politicamente correcto.
ResponderEliminarComo todas as ditaduras, uma aberração.
Respeito, mas penso assim:
ResponderEliminarA história nunca está escrita, está sempre em reavaliação, podem surgir novos dados, novas perspectivas.
A história não são os factos, mas a interpretação dos factos.
Os factos são o real, a vida, a história a interpretação do real, e podem existir diferentes leituras do real.
Caricaturando, uma pessoa pode desejar ficar no panteão e, no caso de ser uma figura pública, os cidadãos, quem tiver esse poder de decisão, decidirá se o merece ou não.
Relativamente a Miguel Portas entendo a sua mágoa, mas ele era uma figura pública. Faz cá muita falta e penso que tinha muitas semelhanças consigo.
ResponderEliminarFelizmente quando o meu ex-marido faleceu há dois anos, consegui cumprir tudo o que ele me tinha pedido ou expresso em vida. Não houve velório, não houve missa de corpo presente, apenas uma cerimónia íintima, em que os filhos falaram e os netos tocaram violino. Depois não houve cemitério, o corpo foi cremado, como era vontade dele sem cortejos, nem presença de familia e amigos.
Tudo graças ao P.e Pedroso, amigo do meu filho, que fez exactamente o que lhe foi pedido. E era domingo, um dia difícil para se concretizar tudo isto. Nunca me esquecerei.
Anónimo das 22:07
ResponderEliminarPercebo o que afirma. Mas contraponho que me não parece justo ou curial julgar alguém do passado, com os olhos do presente. No tempo em que viveram, aquelas pessoas fizeram-no num determinado enquadramento. Errado ou certo, era o way of life da época.
É justamente a percepção disto que permite escrever a história de um país sem julgamentos ideológicos. Se Franco fosse vivo hoje, certamente que não seria a mesma pessoa. Podia até pensar o mesmo, mas a sociedade à sua volta seria diferente. Logo, ele teria que acompanhar a evolução dessa sociedade.
Eu não posso julgar os meus antepassados com o olhar de hoje. E, sobretudo, não devo tentar condena-los por actos que na altura eram aceites. O que é diferente de serem aceitáveis,
Agradeço a ambos as duas palmadas - únicas -que levei por ser parva. Hoje eles teriam cometido um crime público. Entende-me?
Se Franco hoje fosse vivo, a sociedade à sua volta seria a mesma!
ResponderEliminarEntão o homem não era um ditador?
"A história não são os factos, mas a interpretação dos factos".
Diferentes interpretações dos factos - não os alteram...
O pessoal pode divagar...
HSC,
ResponderEliminarNão confundamos as coisas. Franco foi um Ditador e um Facínora. E como bem sabe teve o apoio de Hitler. O corpo de Franco deveria ter tido o mesmo detino que os dos Imperadores Romanos caídos em desgraça.
Falar como o faz sobre essa figura sinistra que foi Franco, como Pinochet, etc, é no mínimo, lamemtável.
Mas, claro, compreensível para quem é de Direita. E Católica. A Igreja, convém não esquercer, esteve sempre do lado de Franco.
a)Jorge Albuquerque
Jorge Albuquerque
ResponderEliminarCatólica sou, pesem embora as minhas descrepâncias relativamente à Igreja em algumas matérias. Nada que agir de acordo com a minha consciência não resolva. Nem sempre segui as ordens dos meus Pais e não foi por isso que os amei menos.
Afirmar que eu sou de Direita é, no mínimo, ousado. Conheço muita gente de esquerda bem mais reaccionário do que o senhor possa entender que eu sou, se é que sabe mesmo quem sou. O julgamento é portanto seu. Nunca ninguém o ouviu da minha boca ou me aponte uma prática de vida que o tipifique.
Franco será tudo o que diz. Como Staline e muitos ouros ditadores de esquerda que hoje são tidos como heróis. Franco governou a Espanha 40 anos e ela deixou-se governar...
Tive um irmão que foi Embaixador na Russia, por 8 anos no tempo da URSS e Embaixador na Roménia por 6 anos, no tempo Ceaucescu. Se tivesse visto o que ele viu, talvez descobrisse outros facínoras e ditadores que parece esquecer.
Como não faço julgamentos pessoais, a unica coisa que me interessou neste caso, foi o facto de um governo se apoderar do corpo de um morto e a sua familia nem sequer ter tido o direito de o enterrar em jazigo próprio.
Se o julgasse a si diria que é de esquerda extrema. Como não julgo, apenas lhe respondo que a sua visão da história é parcial. O que lhe dá o pleno direito de escolher os ditadores que quiser. Que, no seu caso, serão sempre de direita!
«Diferentes interpretações dos factos- não os alteram».
ResponderEliminarPois não, mas alteram a história, isto é, a leitura que se faz dos factos.
Por exemplo, as pirâmides são factos.
Mas hoje, devido ao desenvolvimento tecnológico, sabe-se muito mais sobre o modo como foram construídas, o que altera a forma como se produz história sobre elas, pondo de lado alguns dados que são hoje considerados incorrectos.
E existem até pessoas que acham que foram construídas com a ajuda de extraterrestres, mas isso já não tem nada a ver com a história enquanto ciência. Esses sim divagam.
A travessia aéra do Atlâtico Sul foi um facto.
ResponderEliminarOs conhecimentos tecnológicos de hoje, alteram esse facto? Segundo a sua teoria permitem uma nova leitura do facto. Acredita mesmo que isso acontece?
Do ponto de vista politico a História pode ser objecto de várias leituras. Mas isso não altera a realidade dos factos. Apenas os dissimula ou enaltece a forma como os olhamos.
Daqui a 20 anos quero que me julguem com os criterios da sociedade em que vivo e não com os daquela qm que viverão os que me julguem. Creio ser um direito que assiste a todos nós.
Se assim não fosse, o que seria das familias que tivemos, ou daqueles de quem viemos... Olharíamos Afonso Henriques e o que lhe chamaríamos hoje?!
Dou-lhe razão numa coisa: Estaline, Ceauscescu e outros trastes comunistas, Henver Oxha da Albânia por exemplo, o louco da Coreia do Norte, Mao, os patifes do Reino Saudita já agora (que mandam esquartejar jornalistas) é tudo porcaria do mesmo saco, tal como Franco, Salazar, Hitler, Pinochet.
ResponderEliminarA Direita teve, sobretudo no passado, grandes Democratas. Ainda recentemente morreu um, Jacques Chirac. Mas, Helmuth Khol, Adenauaer, Churchill, etc foram outros grandes. Infelizmente, homens desse calibre já não aparecem. Talvez um dia ainda se venha a reconhecer Alngela Merckel como um a delas, quem sabe.
a) Jorge Albuquerque
Falei da tecnologia em relação ao exemplo das pirâmides, não para aplicar a todos os factos.
ResponderEliminarA Travessia Aérea do Atlântico é, sem dúvida nenhuma, um facto.
Mas existem interpretações históricas sobre esse facto.
Por exemplo, há autores que perguntam se Gago Coutinho era um aventureiro ou um homem de ciência.
Sim, acredito mesmo, que uma coisa é o facto, e outra, a leitura, ou leituras históricas, desse facto.
Nunca disse que os factos se alteram, o que se altera é a leitura histórica dos mesmos.
Não podemos fazer nada sobre o que se passará daqui a vinte anos.
Anónimo das 14.59
ResponderEliminarAs pirâmides são factos. Estão lá...
Divaguemos: pode afirmar, que, não foram construídas por extraterrestes? Não sabe...
Ninguém lhe pode responder!
p.s Coitadas das nossas crianças.
Fossem os autores da viagem quem fossem, aventureiros ou homens de ciência, o contributo que deram ao país é factual. Mas como as ideologias mudam a leitura da história, hoje ninguém se lembra deles. Não são heróis nem fazem parte dos manuais escolares. Qualquer dia ninguém fez essa viagem e ela nunca existiu...
ResponderEliminarEsse é que é para mim o nó górdio das "interpretações históricas" e talvez seja por isso que tanto me perturba que um homem morto não possa descansar num jazigo de familia. Possivelmente sou só eu que penso assim. Ao Estado o que é do Estado, a Deus o que é de Deus e à Familia os seus entes queridos, já mortos.
Helena, impressionou-me este seu comentário das 23.37
ResponderEliminarTristes tempos estes, em que os nossos heróis são "seleccionados" conforme os critérios que estiverem, de momento, na ordem do dia.
Uma coisa é certa: a História é sempre escrita pelos vencedores do momento. Adivinhamos o que isso comporta, não é verdade?
Por exemplo, o Marquês de Pombal que foi o homem mais odiado do seu tempo, pelos seus crimes, por perseguições, por conspirações e por razões de Estado, acabou ostracizado, impedido sequer de entrar em Lisboa. Que fez a 1ª República? Reabilitou-o! E fez-lhe, com honras de Estado, a maior e mais imponente estátua que há em Lisboa.
Actualmente a figura da História do sec. xx de Portugal mais vilependiada
tem sido Salazar. Nada garante que daqui a uns anos se tenha dele uma outra visão e uma outra perspectiva. E quiçá também uma estátua.
Em consequência, duvidemos sempre das "narrativas"do momento...que são o "que está a dar"(desculpe a gíria...)
Bom fim de semana
Anónimo de 27 de Set. 20.27
ResponderEliminarTambém não sabe se não poderão ser os próprios extraterrestres a responder, segundo a sua própria divagação.
Só podemos impedir que surjam novos «Francos» que, sem nenhuma dúvida, foi um ditador, se estivermos conscientes de que pode haver várias leituras sobre os mesmos factos.
Não entendi como é que aparecem aqui as crianças.
Preocupe-se com as suas, se as tem, que eu preocupo-me com as minhas.
Cada vez se define mais como uma mulher de direita, mas com uns pozinhos de esquerda, faz uma piscadela à esquerda, dá jeito para ganhar simpatias, para vender os seus livros, não brinca em serviço. Para quê isto agora do Franco?
ResponderEliminarO lema da Falange, partido único da ditadura franquista diz tudo- «Viva la muerte», nada pode ser mais tenebroso.
ResponderEliminarPreocupa-se com a campa de Franco, um SÍMBOLO da violação dos direitos humanos, chefe anti-democrata de um regime mais do que fascista, ditatorial, com largas centenas de mortos em campos de concentração, esses nem campas tiveram, com execuções sem julgamento, máxima repressão cultural!
Um dia destes está a preocupar-se com o criador da censura, inspirado no fascismo, de um aparato altamente repressivo, a PIDE/DGS, responsável pelo analfabetismo e pobreza em Portugal.
A senhora é de direita, não adianta dizer que não, que não é bem assim...este post fala por si. Mas então para si vale uma coisa e o seu contrário, já vi posts seus a defender que só a justiça pode julgar, e preocupa-se com alguém que é um símbolo de quem, não só não recorreu à julgar, como executou centenas de pessoas, sem serem julgadas!
Comentadores de esquerda posso perguntar-lhes porque visitam este blog?
ResponderEliminarVocação para o sacrificio? Vontade de achincalhar? Teste para saber se eu publico o que dizem?
Há mentes assim. Precisam de sofrer para se encontrarem!
Por mim que prefiro a alegria à tristeza. Logo, debate encerrado.
Cara HSC,
ResponderEliminar"Há mentes assim".
Pois há, sem cérebro, fugiu.
p.s. Não precisa publicar. Desejo lhe um dia feliz. Está quentinho...que bom.
Se estes "esquerdas" escrevessem, ao menos, em bom Português e sem erros de sintaxe...
ResponderEliminarPara mim é uma vergonha, ao fim destes anos todos, quando o Franco pouco mais é do que uma distante memória, estarem agora a mudar os seus restos mortais de lugar. É um enorme desrespeito por um estadista que, queira-se ou não, foi um dos chefes de estado mais importantes de Espanha, para já não falar da dor que esta transladação vai causar à família. No entanto, lá como cá, nada me surpreende num governo de extrema esquerda, sem um pingo de respeito pelos seus concidadãos, vivos ou mortos, e para quem a única coisa que importa é a sua agenda ideológica.
ResponderEliminarA exigência da família do ditador (em conjunto com a Fundação Franco) não tem nada de inocente amor familiar, não passa de uma JOGADA POLÍTICA. Pretendiam levar os restos mortais para a Catedral La Almudena, bem no centro de Madrid, junto do Palácio Real, e um dos locais mais visitados na capital. E com isso, queriam incentivar e reavivar o culto do franquismo, pelos saudosistas da ditadura espanhola. E até queriam honras militares!
ResponderEliminarA decisão do Supremo foi a mais correcta: os restos mortais vão ser transladados dos arredores de Madrid, em Vale de Caídos (construído com o trabalho forçado de prisioneiros da ditadura) para o cemitério El Pardo, onde ficará junto da mulher.
A família encontra-se ainda a braços com a justiça, por causa do seu imenso património, que foi acumulado durante a ditadura, através da expropriação, da extorsão, da corrupção. Aí é que lhes dói!
Concordo no geral com o anónimo de 2 de Out. às 16.46, no entanto não refere o início da polémica, que tem a ver com a proposta do governo espanhol para a saída dos restos mortais de Franco, de Vale dos Caídos.
ResponderEliminarVale dos Caídos é um memorial monumental, que integra uma basílica escavada na rocha, mandado construir pelo ditador, e que continua a ser ainda hoje, um símbolo da divisão dos espanhóis, porque as feridas franquistas continuam abertas. Para os nostálgicos da ditadura é um local de homenagem a Franco (alguns chegam mesmo a fotografar-se em frente do mausoléu, fazendo a saudação fascista) para os familiares de milhares de vítimas, cujos corpos foram para ali levados sem o seu consentimento, é um local de dor e de insulto.
Segundo um historiador espanhol, especializado na ditadura, Franco construiu Vale de Caídos para recordar aos vencidos que foram vencidos. A construção ficou desde sempre envolta em terror, porque foi realizada por mais de 20.000 republicanos presos, sob trabalho forçado de extrema dureza, que determinou a morte de muitos deles.
Franco morreu na sua cama, não foi uma vítima da Guerra Civil, não faz sentido que esteja sepultado no mesmo local dos «caídos» na guerra. Faz mais sentido que Vale de Caídos seja um local dedicado à memória das vítimas da ditadura, milhares de anónimos, e aos caídos dos dois lados na guerra, do que um local de culto do ditador e de exaltação do fascismo, faz mais sentido que seja um local que expõe e contextualiza a história da ditadura, levando ao entendimento das suas várias vertentes. O que não acontece com um local de culto, que é mais irracional do que informado. O Supremo Tribunal determinou que os restos mortais sejam trasladados para o Palácio Real de El Pardo, onde o ditador viveu desde que chegou ao poder até à sua morte.
A bem da igualdade, liberdade e pluralismo, deve ser evitado qualquer acto que possa alimentar os passadistas das ditaduras e das tiranias, tanto à direita como à esquerda.
ResponderEliminarSó a democracia pode prevenir a guerra, a carnificina e o terror.