Tempos houve em que bastava aparecer o nome de Woody Allen, para eu não descansar enquanto não visse a sua última obra. E, mesmo quando ela era inferior ao que dele esperava, nunca dava o meu tempo por perdido, porque havia sempre qualquer coisa naquele humor acre, que se apoderava de mim e me dava a noção de que não fora em vão a hora que lhe dedicara.
Assim, mal soube que estreara uma nova película, decidi que era mesmo neste tempo tão triste para mim, por evocar a morte da minha mãe, que eu iria vê-lo. Precisava, mesmo, daquela graça subtil, daquele amor ácido pela América que o não compreendia e que ele, afinal, tanto amava.
Todos envelhecemos. Allen não é excepção e as suas ultimas obras já evidenciavam um desgaste nos temas, sempre abordados, das dificuldades do amor.
Mas umas pessoas envelhecem melhor que outras. Ou fazem-no de uma forma menos triste, acreditando que o futuro, embora mais curto, ainda pode existir. Aliás, só mesmo uma tal crença é que pode levá-lo, com quase oitenta anos, a fazer novos filmes.
Esta Roda Gigante cuja realização e argumento pertencem a Woody, decorre em Nova Iorque, na década de 1950. Num parque de diversões em
Coney Island, Ginny é uma ex-actriz que vai fazer quarenta anos, trabalha como empregada de mesa, é casada com o operador do carrossel e começa a sentir a vida passar-lhe ao
lado.
Um dia, conhece Mickey, um jovem nadador-salvador
que sonha tornar-se escritor, por quem se apaixona perdidamente, mas que terá de disputar com a enteada, quando esta regressa
inesperadamente a casa fugida do marido. Ginny entra num turbilhão de ciúmes e acabará a exceder-se quando percebe a
atenção que o jovem amante dedica à filha do marido.
Entre as duas nasce uma rivalidade que acaba por
colocá-las numa situação particularmente delicada. Não há aqui nada de novo. O realizador sempre se ocupou das relações conturbadas que o amor pode corporizar. Mas neste filme o peso da amargura é excessivo porque apenas revela o "lado sem saída" daquilo a que se apelida de amor. E Kate Winslet dá, de facto, de modo notável, a imagem desse sentimento avassalador.
É uma película com um travo demasiado amargo para o meu gosto, que tenho uma idade muito próxima da do realizador.
Há sempre uma saída. O problema reside no que acontece, quando a não procuramos, e preferimos submergir...
HSC
Believe... Out is... Dance and Smile...So... Let's dance.
ResponderEliminarhttps://youtu.be/XBS2Qv8ZMa4
Ghost
Excelente análise, que culmina na frase "híbrida" que "deveríamos" ter sempre presente...
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