sexta-feira, 5 de maio de 2017

Houve um tempo

Houve um tempo em que acreditei que a grosseira linguagem usada por alguns políticos era apenas apanágio nosso. E pensava que isso resultava de muitos anos de uma política que não tinha em devida conta nem a educação nem a cultura. Seria, portanto, natural que quando o pais gozasse, pela primeira vez, de liberdade de expressão, esta se soltasse em modos menos eruditos. 
Os anos foram passando, a democracia foi-se instalando, o contacto com o exterior alargado, a ileteracia diminuindo com a obrigatoriedade escolar, os debates políticos estendendo-se a todos os canais televisivos, enfim, o país melhorava e até já integrava essa elite que se concentra toda na União Europeia. Ao fm de quatro décadas de progressos e vicissitudes, Portugal existia.
Talvez por isso, com o correr dos anos o país acabou por se assemelhar aos seus parceiros europeus, abandonou muitos dos seus hábitos e transformou-se. Hoje as duas nossas grandes áreas culturais são a política e o futebol, onde os debates se multiplicam e a linguagem atinge o nivel da latrina. 
O fenómeno não é só nosso, claro. Ao assistir, há dias, na integra, ao debate entre os dois "adversários" à presidência francesa não pude deixar de  relembrar o que vi e ouvi nos debates para presidência americana. E, pensando nisso, temo ter chegado a uma dolorosa conclusão. É que na política - e se calhar, também, no futebol -, se estes líderes se permitem usar a tal linguagem abaixo de zero, é porque entendem ser este o nível verbal que o seu eleitorado escuta e entende.
Se assim for, o mundo vai tornar-se um lugar muito perigoso e Portugal irá fazer parte dele. Julgo que os nossos netos irão, um dia, pedir-nos contas desta herança que lhes deixámos..

HSC

2 comentários:

  1. É realmente muito triste a situação a que se chegou.

    Os locutores das rádios e televisões, falam muito mal
    o português.

    Os políticos portugueses não se respeitam e dizem muito
    mal uns dos outros.

    Certos programas de televisão usam o palavrão a torto e
    a direito...

    Sinceramente parece que não houve evolução, mas sim
    o contrário.

    Os meus cumprimentos, drª. Helena.

    Irene Alves

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  2. Tem toda a razão. Já não há a elevação de há uns tempos atrás.

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