segunda-feira, 13 de março de 2017

Tempo

Não tenho uma noção muito precisa do tempo. Ou seja, o meu tempo não se mede pelos mesmos padrões pelos quais é medido o da maior parte das pessoas.
Sei a idade que tenho, mas já sinto dificuldade em "dar anos" àquilo de que gosto. Possuo peças de roupa que uso com frequência e, se por algum motivo tenho que as datar, sinto um calafrio quando tomo consciência de que foram compradas há 30 anos ou mais. 
Não sei explicar a razão disto acontecer, mas o certo é que me apraz que tal aconteça e me dá um imenso prazer vestir um casaco da minha querida mãe, que ainda mantém a marca da sua água de colónia preferida. Assim, quando enterro a cabeça na raposa que orla o sua gola, penso de imediato que ela "cheira a mãe".
Há dias, ao arrumar carteiras, abri uma. Dentro, estava um envelope com uma carta que me escrevera alguém que foi muito importante na minha vida. Sorri, porque me lembrei logo dos motivos que a tinham ditado. Mas, para mim, ela podia ter sido escrita ontem. Com efeito, a temporalidade dos objectos ou dos acontecimentos marcantes do meu caminho está ligada não às datas, mas sim à importância que tiveram na minha vida. E, confesso, agrada-me este meu pequeno defeito de fabrico!

HSC

6 comentários:

  1. Não é defeito.
    Não dar muita importância ao calendário é uma qualidade.
    Como dizia George Carlin, com tantos calendários diferentes (gregoriano, judeu, chinês,...) se calhar hoje é na realidade domingo da semana passada :)

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  2. Helena
    Não o vejo como defeito de fabrico, mas sim uma qualidade.
    É produto das suas vivências, do bom / mau que passou, da família que a gerou, educou e muito mais.
    Quase de certeza que quando veste o casaco e sente o aroma do perfume , a sua mente viaja no tempo. Como ao ler a carta, há coisas intemporais os sentimentos afloram nos instantes em que as tocamos ou cheiramos. Comigo passa-se o mesmo.

    Abraço
    Carla

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  3. E como me marcaram e marcam as pessoas que comigo viajaram e algumas ainda viajam no tempo.
    E quanto aos cheiros creio que tenho mesmo faro, conseguem chamar-me as minhas recordações.
    Abraços

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