domingo, 5 de março de 2017

A pequena quota de felicidade

Um dia quis ser médica cirurgiã. Era pequena e o mundo parecia-me bastante injusto. Assim, a minha especialidade seria a micro cirurgia da cabeça, crente que estava, que através de um pequeno toque num local determinado eu poderia transformar os feios em bonitos, os maus em bons, os deficientes em pessoas saudáveis. Teria, então, uns oito anitos e vivia rodeada de primos médicos.
Mais tarde a medicina daria lugar ao Direito, convencida que ainda estava, que a Justiça puniria os maus e protegeria os bons. Finalmente, quando tive mesmo que escolher para onde me encaminharia, optei por Economia, no pressuposto de que ela ajudaria as várias áreas correlacionadas a decidir qual o melhor caminho para todos nós. E, acreditem, até ao fim do curso pensei assim.
Havia a dura realidade de me provar que as medidas económicas mais interessantes - porque prevalecentes – seriam as políticas. Se o economista serve a ideologia predominante, é louvado, aclamado, entendido. Caso contrário, ou morre à espera da mudança ideológica, ou escolhe outro destino. Não sei porquê, mas ao escrever isto, lembrei-me da minha competente colega Teodora Cardoso...
Porém, no meu caso particular, quando me dei conta da situação, iniciei, aos quarenta e cinco anos, uma segunda carreira na qual fui progredindo e que me satisfaz plenamente, sobretudo, por não ter tido de abandonar a primeira.
É esta privilegiada condição, que me permite acreditar que existe uma enorme magia no trabalho, quando ele faz parte da nossa pequena quota de felicidade!

HSC 

9 comentários:



  1. O meu ex-marido que faleceu no dia 25, dizia-me muitas vezes: O importante não é fazermos isto ou aquilo é aprendermos a gostar do que fazemos. Ele trabalhava dez horas por dia como Juiz, os processos acumulavam-se no escritório assim como as beatas dos cigarros que, infelizmente, fumava simultaneamente. Nunca o ouvi dizer que não gostava do que fazia. Parecia que tinha nascido para aquilo e , no entanto, fora assistente no ISCEF, no ISCTE e na UC. Optara pela magistratura depois do 25 de Abril, receoso da precariedade e instabilidade das universidades. O meu filho mais novo seguiu o mesmo caminho, depois de estagiar como advogado. Ambos diziam e dizem que ser Juiz é ser independente. De tudo. Não há melhor escolha.

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  2. Virgínia
    Sei por comentários aqui feitos que dentro do possível acompanhou a doença do pai dos seus filhos. Não posso, por isso, deixar de lhe apresentar as minhas condolências.

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  3. Sim, acompanhei-o até ao fim e infelizmente não consegui impedir o maldito cancro de o vencer. Ninguém melhor que a Helena sabe o que significa ver uma pessoa a definhar e a lutar contra a Morte inevitável. Sinto que foi uma perda enorme para mim, que o considerava quase um mentor e um pai...
    Obrigada pela sua sensibilidade e apoio.

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  4. Gostar do nosso trabalho e da nossa carreira é um privilégio.
    Sou jurista, escolhi o Direito como segunda escolha.
    A primeira era o Jornalismo.
    Anos 80, Coimbra, o curso de Jornalismo não era dos melhores, estudar fora de Portugal não era financeiramente possível.
    O Direito foi complicado, a advocacia, num mercado esgotado como Coimbra, um horror.
    Só em Macau o panorama mudou.
    E mudou para muito melhor.
    Mas o bichinho do jornalismo continua cá dentro.
    E explica em grande medida esta presença na blogosfera.
    Por favor continue a ser feliz e contagiar-nos com essa felicidade.
    Boa semana!

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  5. Helena
    Há coisas engraçadas, vinha no carro a recordar as profissões que desejava em pequena, e agora deparo-me com o seu texto.
    Gostava de ter praticado ballet, em casa treinava a elasticidade das pernas, imitava os paços de ballet, era algo que me fascinava. Ainda hoje o professor de pilates diz que parece que estou a fazer ballet.
    Queria ser hospedeira para viajar pelo mundo, porque todas eram bonitas e adorava as farda delas. Depois advogada esta tinha uma causa queria prender um tio, exercia violência doméstica
    mesmo à frente da sobrinha. Hoje compreendo porque o fazia, casou obrigado sem amor, divorciarem-se fora de questão, foi-lhe ensinado que o casamento era para toda a vida. Hoje é a contabilidade que me realiza gosto, aos 41 descobri outro gosto a psicologia/filosofia, mas também teve uma causa. Tudo tem uma causa aprendi isso, há 4 anos que estas 2 ultimas fazem parte de um hobby, que me tem ensinado muito.
    Acho que daria uma boa psicóloga, terapeuta, sinto que faço terapia a algumas pessoas, elas não sei porque sentem que sou alguém que as ouve, compreende, que as faz pensar. Gosto de estar neste papel, é impressionante como conseguimos ler/ interpretar o que nos dizem, às x dizem mais do que pensam.

    Desculpe o comentário tão longo, mas abriu em mim uma porta que já estava entreaberta. Tenho aprendido muito consigo.

    Abraço
    Carla

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  6. Helena
    Permita-me uma palavra à Virgínia.

    Virginia
    Achei bonito o que conta, ver no seu ex-marido um pai, mentor, por um lado bom devia ser um homem de grande sabedoria, para provocar em si o lado mentor, pai um homem que em tempos foi marido, talvez no lado protetor, cuidador. Os sentimentos mudam consoante o estado, o seu mudou positivamente, isso é de louvar. E estar ao lado dele, ainda mais. Aprecio pessoas assim.

    Carla

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  7. E no Brasil...

    o LULOPETRALHISMO (muitas vezes “esquecido” de crítica dos blogs…):

    Lula é um perigo para a volta à normalidade, Lula é o atraso e o prejuízo. Com um papo rocambolesco. Engana-trouxa. Retrógrado, nivelando tudo por baixo. Um homem mentiroso VIGARISTA, PeTralha e Picareta. Amado por inteligentinhos caviares (ditos """intelectuais"""): de araque, como Chico Buarque.

    Lula é incompetente, e foi incompetente quando apostou naquela mulher ignorante em ECONOMIA cujo nome é Dilma Rousseff.

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  8. A Helena Sacadura Cabral - única voz que vi até agora lembrar a competência da Teodora Cardoso. E sabe do que fala, porque foram colegas no Banco de Portugal, quando o número de mulheres talvez se contassem pelos dedos de uma só mão...

    Conheço a pessoa. Por razões profissionais. Sempre sabedora e não arrogante, antes pelo contrário, disponível, generosa, simples, quando me trazia, em mão indicadores económicos atuais, para que eu, que nunca fui economista, mas de Letras, tinha que preparar dossiers impecáveis para o meu chefe levar para reuniões internacionais com investidores estrangeiros, «lá fora», nos anos 80. O Engº. Viana Baptista, isto no Instituto do Investimento Estrangeiro, claro que levava os dados do Banco de Portugal, completamente atualizados, dela,não os do Boletim do BP também, como ele queria, os dados dos economistas das duas centrais sindicais. Bons tempos! Não esquecendo que Portugal estava mal.

    Todos os Presidentes da República, desde Eanes a Cavaco a consideraram e a tiveram, nas horas más, a seu lado...


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