Permitam-me que vos traga aqui este texto, publicado ontem pelo Pedro Rolo Duarte no seu blog, porque ele traduz muito do que penso serem as vertentes principais da discussão que está aberta sobre a eutanásia ou se preferirem, a expressão mais doce de morte assistida. Oportunamente darei a minha opinião. Mas por enquanto fica neste post, que me permiti "roubar", por considerar que ele invoca muito daquilo que deve ser a verdadeira discussão sobre o assunto. Aqui vai:
"Estou a ver na TV, num canal de notícias,
uma curta troca de argumentos sobre a eutanásia. Estremeço. Antecipo o “amplo e
profundo” debate que o Presidente Marcelo desejou há dois dias: vai dar
asneira. Um dos intervenientes era mesmo o bastonário da ordem dos médicos,
José Manuel Silva - e a forma como ridicularizou as opções que um doente
terminal pode ter, para concluir que o mais “barato” era o suicídio, deu para
perceber como podem extremar-se questões tão delicadas e sensíveis como esta, e
como se pode cair lamentavelmente na demagogia e no disparate. Ora, se com a
vida não se brinca, então com a morte…
Confesso: sou impotente para vir a terreiro argumentar sobre a eutanásia. Parece-me uma questão de foro tão intimo e pessoal, tão individual e tão pouco política ou sequer ética, que não consigo ver quem possa “querer” ter razão e taxativamente estar “contra” ou “a favor”. Por mais que haja quem pense que a vida não nos pertence - a quem pertencerá? Ao Estado? A Donald Trump? Aos constitucionalistas que decidiram a nossa vida? -, não consigo escapar à evidência: se cada um de nós faz da sua vida o que entende e quer, parece meridiano que a vida de cada um de nós é mesmo de cada um de nós, desculpadas as repetições e redundâncias. E assim sendo, cabe a cada indivíduo decidir o que fazer com a vida quando ela está em causa, quando não tem saída, quando já só resta sofrimento e dor. Quem sou eu para confrontar um ser igual a mim que decide, pela sua cabeça, conscientemente, antecipar o inevitável em nome de uma qualquer paz interior? Quem sou eu para dizer a 90% dos necessitados de cuidados paliativos, que os não recebem por falta de capacidade de resposta da rede, que não devem ou podem recorrer à eutanásia.
Confesso: sou impotente para vir a terreiro argumentar sobre a eutanásia. Parece-me uma questão de foro tão intimo e pessoal, tão individual e tão pouco política ou sequer ética, que não consigo ver quem possa “querer” ter razão e taxativamente estar “contra” ou “a favor”. Por mais que haja quem pense que a vida não nos pertence - a quem pertencerá? Ao Estado? A Donald Trump? Aos constitucionalistas que decidiram a nossa vida? -, não consigo escapar à evidência: se cada um de nós faz da sua vida o que entende e quer, parece meridiano que a vida de cada um de nós é mesmo de cada um de nós, desculpadas as repetições e redundâncias. E assim sendo, cabe a cada indivíduo decidir o que fazer com a vida quando ela está em causa, quando não tem saída, quando já só resta sofrimento e dor. Quem sou eu para confrontar um ser igual a mim que decide, pela sua cabeça, conscientemente, antecipar o inevitável em nome de uma qualquer paz interior? Quem sou eu para dizer a 90% dos necessitados de cuidados paliativos, que os não recebem por falta de capacidade de resposta da rede, que não devem ou podem recorrer à eutanásia.
Não
me passaria pela cabeça debater a eutanásia justamente por entender que ela já
existe, interiormente, na opção de fim de vida de todos os seres humanos, mesmo
quando não lhe têm legalmente acesso. Menos ainda referendar ou levar ao
Parlamento. No limite, legislar sobre as condições essenciais - de saúde, ou
falta dela - que garantissem que a decisão não serviria para abusos, desvios,
fatalidades, facilidades. O mínimo indispensável.
Dito isto, parece-me que o debate vai dar disparate. Vamos ver repetir-se a dicotomia esquerda/direita, católicos/ateus, novos/velhos, numa estúpida cisão sem sentido, ditada por preconceitos e falsas premissas, e que não corresponde, seguramente, ao sentir da maioria. Enquanto nas ruas cada um pensará por si, nas televisões e nos jornais vamos ver “frentes unidas” com cargas ideológicas e religiosas, numa repetição de outros debates passados, alguns deles de infeliz memória. É mais tempo perdido, mais energia gasta desnecessariamente - enquanto se adiam, se esquecem e apagam tantos debates por fazer, tanto país por construir.”
Dito isto, parece-me que o debate vai dar disparate. Vamos ver repetir-se a dicotomia esquerda/direita, católicos/ateus, novos/velhos, numa estúpida cisão sem sentido, ditada por preconceitos e falsas premissas, e que não corresponde, seguramente, ao sentir da maioria. Enquanto nas ruas cada um pensará por si, nas televisões e nos jornais vamos ver “frentes unidas” com cargas ideológicas e religiosas, numa repetição de outros debates passados, alguns deles de infeliz memória. É mais tempo perdido, mais energia gasta desnecessariamente - enquanto se adiam, se esquecem e apagam tantos debates por fazer, tanto país por construir.”
A cada um dos meus
leitores cabe tirar conclusões sobre o que acabam de ler. Eu já tirei algumas. Preciso, porém, de as ligar para conseguir ser suficientemente clara quando as
expressar. Mas considero este texto muito esclarecedor.
HSC
achei muito inteligente ele falar que a eutanasia ja existe.. e é verdade, muitas vezes as familais e as pessoas autorizam a suspensão das medidas paliativas.. um tipo de eutanasia.. mas vejo que ai em portugal o assunto é quente, por aqui pouco se fala disso... orbgiado por compartilhar!
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ResponderEliminarNem sequer consigo pronunciar-me sobre este assunto. Não me parece que seja vital, embora tenha a ver com a Vida. Consta que nos países onde a eutanásia é legal, morrem 15 pessoas por dia com morte assistida ou infligida por terceiros. Já há crianças que pedem aos pais para morrer e eles concedem-lhes esse benefício. Tudo isto me faz uma confusão grande, embora não seja crente e acredite que a Morte é mesmo fim do caminho.
Gostava de poder decidir quando e como, mas não me parece que tenha coragem para isso. há mais coisas em jogo. Não somos ilhas, nem vivemos só para nós. E quando amamos a sério, privarmos os outros da nossa presença pode ser benéfico, mas também pode ser um fardo. Há sempre as duas faces.
Não estou ainda em condições de decidir,
ResponderEliminarno entanto acredito que a eutanásia já
é praticada nos nossos Hospitais, mesmo
sem ser a pedido e isso já me preocupa
bastante.
Se ela for legalizada, as Agências Funerárias
vão ganhar muito com isso.
Há casos em que poderia admitir, embora ainda
me custe decidir, mas sei que haveria um aproveitamento
para reduzir despesas, se estou errada, que Deus me perdoe.
Os meus cordiais cumprimentos.
Irene Alves
Cara Dra. Helena
ResponderEliminarQuando eu tinha 20 anos vivia cheia de certezas e convicções e uma delas é que era radicalmente contra a eutanásia. Agora que tenho mais 20 anos aprendi que nada é definitivo. Não posso nem quero julgar as opções dos outros, não sei o que eles sentem. Continuo a dar muito valor à vida mas também sei que há pessoas que sofrem muito. Se teria coragem de assumir um fim? Se calhar não. Desculpe a ousadia do desabafo, mas sabe que é um tema que me incomoda e gosto sempre de ler opiniões de quem sabe o que diz e o que escreve. Pode ser que a sociedade portuguesa consiga manter o nível do debate e não se entre em polémicas radicalizadas.
Um beijinho
Sofia
Eu sempre tive e tenho a minha opinião sobre o assunto. Também ainda não submeti o Testamento Vital por não concordar com duas "coisinhas" que me fez encalhar e parar para esclarecer melhor.
ResponderEliminarOuvir debates sobre este e outros assuntos...por vezes num atropelo constante é de bradar aos céus.
Ontem nos "Prós e Contras" e sobre um assunto igualmente sério fiquei tão irritada com alguns convidados que misturam "alhos com bugalhos" que desliguei.
Obrigado pela partilha e aguardarei pela sua opinião.
Um abraço