Sempre fiquei em Lisboa no mês de Agosto. Ou antes, para ser verdadeira, desde que os filhos passaram a fazer as férias com os amigos. E deliciava-me com uma capital redimensionada, onde desde as esplanadas até aos estacionamentos tinham sempre um lugar à minha espera.
Pois bem, essa oportunidade foi à vida. Há uns dias fui ao Chiado e tive a sensação de mergulhar numa Europa de chinela, onde ser nacional ou lisboeta, era crime de lesa pátria. Com efeito, entrei num estabelecimento para beber um café e o empregado pareceu não entender o pedido que, feito em inglês, teve honras de primazia. Saí esbaforida e dei com uma jovem contorcionista que pretendia fazer a dança do varão sem o dito. Confesso que ainda parei uns segundos, sem bem acreditar no que via. Quando reagi e dei uns passos, esbarrei com um outro artista, tocador de pífaro, que tinha um cão a solicitar o nosso contributo financeiro para a carreira do dono. Um pouco atordoada com tanta diversidade, decidi que o melhor era mesmo entrar numa loja e ficar a ver passar,não a banda, mas a onda turística que avassalou o meu pequeno mundo. E, economista que sou, lembrei-me dos velhos mestres, Keynes e Adam Smith, que certamente reveriam uma boa parte das suas posições se pudessem, agora, estar entre nós.
Ia entrar num solilóquio sobre os efeitos da globalização. Mas aqui as minhas "celulazinhas cinzentas", que não são como as do Poirot, já haviam fundido. Eu já não estava em condições de pensar o que quer que fosse. Só queria mesmo era sair daquelas ondas e vir para casa. Levei 24 horas a recompor-me para ser capaz de escrever estas linhas e de perceber que, para o bem e para o mal, o meu Agosto, aquele pelo qual esperava, esse... já era!
HSC
Caros comentadores
ResponderEliminarO único responsável pelo estranho fenómeno dos post's se multiplicarem cada vez que abro o Fio de prumo para escrever é o Google e eu já reclamei mas não consegui nada, Até aqui usei como motor de busca o Google Chrome. Vou passar a usar o Safari a ver se a coisa melhora.
Desta vez, nem os três comentários que tinha neste post, consegui publicar porque ficaram num rascunho eliminado. Por isso vos peço desculpa. Se quiserem fazer o favor de os repetir agora tal não acontecerá porque a caixa de comentários já foi aberta por mim. Obrigada.
Lamento drª. Helena. Eu dizia que realmente Lisboa está
ResponderEliminarrepleta de estrangeiros, havendo zonas em que quase não
se houve falar português.
Mas de certa forma, perguntava, se os turistas deixassem
de vir em força para Portugal, como ficaria nossa
economia?
A nível do comércio/restauração deviam tratar os
portugueses da forma correcta como merecemos, muita
vez isso não acontece.
Os meus cumprimentos.
Irene Alves
ResponderEliminarHelena concordo em absoluto com o que escreveu.
O pior já nem são os tuck tuck. A esses parece que já nos habituámos.
Vou contar uma experiência vivida à poucas semanas em Lisboa por mim.
Começo por dizer que não sou racista.
Entrei na Padaria Portuguesa para lanchar. Aliás, foi a primeira vez que entrei em tal estabelecimento, devo confessar.
Verifiquei que a equipa de funcionários ao serviço da padaria Portuguesa era toda de raça negra. Por momentos pensei que tinha entrado na Padaria Africana ou então eu me tinha enganado. Será que não haverá um "Branquinho" da Silva para trabalhar naquele estabelecimento junto ao Cais do Sodré?
Depois pedi a um dos funcionários que me atendeu um pãozinho com queijo normalíssimo. Mas como não tive a rapidez de explicar que o pão não era com sementes. Verifiquei que o funcionário, já estava com um pão de sementes na mão, pronto a colocar o queijo. Foi aí que disse que não queria com sementes ou cereais. Foi aí que senti o olhar do empregado em direcção a mim, como que o meu pedido, era algo de estranho. Afinal, o que é isto um pãozinho normal sem sementes esta deve ser estranha e não de confiança. Quanto à bebida, pedi um chá, coisa normal, no entanto o funcionário já estava direccionado para a limonada da moda nesta estação.
Percebi então, o que eu estava a pedir, não se incluía em nenhuns dos menus fixados. O que era algo confuso para o empregado, que estava a habituado a que lhe pedissem: menu 1 ou menu 2.
Servir bem penso que também é algo que "Já Era..." Ou será que para nos servirem bem, temos que ir só a casas especiais, e pagar preços mais elevados.
O estabelecimento médio a servir bem será que também desapareceu tal como a classe média?
Finalmente, percebo que vivemos num mundo globalizado, mas em certos casos não era preciso tanto. Pois Padaria Portuguesa, só com funcionários Africanos, parece-me que não joga lá muito bem e dá a imagem aos turistas errada. Será?
Para ser servida prontamente, aqui vai o conselho: peça em inglês e verá que resulta. Desesperada com essas situações já o fiz no Algarve mesmo fora da "saison", únicas alturas em que nos atrevemos a lá ir!
ResponderEliminarHSC, peço licença para responder à pergunta da "Maré alta", mesmo que ela possa alegar a que é retórica. Não, não há portuguesinhos que queiram trabalhar pelo preço daqueles que chama de "raça negra", esses de "raça branca", preferem o subsídio de desemprego enquanto durar, dp logo se vê!
ResponderEliminaré assim que nos sentimos no algarve e não é de hoje... aqui vêm todos em agosto, e depois reclamam, que não temos qualidade, desde estrangeiros a portugueses vêm todos juntos...
ResponderEliminarfelizmente agosto já foi...
Dona Helena,
ResponderEliminarsou uma apaixonada por Lisboa. Quando lhe digo isto, ainda tenho na minha imagem as chamas do Chiado. nessa altura os meus pais trabalhavam no Rossio, onde é agora o McDonalds, e sempre tive um fascinio pelas avenidas novas. Dizia em pequena que um dia iria morar ali.
Com o passar dos anos, vi uma Lisboa velha, escura, deserta à noite, sem qualquer tendencia para mudar.
Hoje sou emigrante, daquelas que só visitam Portugal uma vez por ano, e continuo a ter um dia apenas para Lisboa.
Este ano, vi algo que nunca tinha visto, uma cidade cheia de turistas, preços elevados, tudo a responder em inglês, e tuk tuk espalhados pela cidade. Noto uma grande diferença na cidade. O meu canto, deixou de ser sossegado, e passou a ser apreciado por milhares de pessoas. Não gosto, mas de facto, analisando friamente, será que a nossa cidade não estava a precisar disto?! Temos agora quiosques arranjados, tasquinhas, jardins, uma vida que há uns anos não existia. Tenho medo de me tornar uma velha do restelo e dizer "ah, gostava tanto do antigamente", mas será que o antigamente seria viável para Lisboa?! Nós, os nacionais, só podemos aproveitar esta nova onda, e ver de facto o que podemos ganhar com isso. Lisboa está linda, mais limpa, mais organizada, com mais gente (não sendo grande apreciadora de multidões), e com mais acesso a cultura.
Ser turista em Lisboa, é uma das grandes experiencias que podemos aproveitar, sentar num quiosque a beber um sumo e a ler um bom livro é dos melhores momentos que me podem dar.
Bjs
Vanessa
Maré alta, não entendo essa ""funcionários africanos".
ResponderEliminarO meu filho é branco e nasceu e vive em África, isso não o torna africano?! Ou por ser branco será sempre europeu?! Alem disso, se os rapazes estão legais, não merecem uma oportunidade de trabalho?! Independentemente da cor, se estão a trabalhar merecem todo o nosso respeito.
Devo esclarecer que não sou racista mais uma vez.
ResponderEliminarNão importa a raça ou o credo e toda a gente tem direito a fazer o que mais gostar.
Viva a mobilidade social!
Claro que qualquer pessoa merece o nosso respeito pelo fato de estar a trabalhar e merecem oportunidade. Nada disto está em causa quando escrevi a minha experiência.
O que pretendia salientar é o mau atendimento e contar a minha experiência.
Provavelmente, é fruto dos baixos salários que este sector da restauração oferece. Serão trabalhos sazonais e por isso o pessoal não tem formação.
O que está em causa é que no sector da restauração ao nível da baixa de Lisboa, a grande maioria dos empregados são: Africanos, Brasileiros, Indianos e alguns, mas poucos Portugueses. Depois atendem mal, não têm formação e está tudo deslumbrado com o turista de chinelo.
Por último, uma casa com o nome de "Padaria Portuguesa", parece-me a mim, pretende transmitir ao público, neste caso ao consumidor, uma tradição das nossas antigas padarias e os nossos costumes..... . Provavelmente enganei-me com a minha apreciação.
Penso que a imagem de Portugal não fica a ganhar. Mas isso será uma segunda batalha a ganhar. A qualidade! Passa pela qualidade do produto, o saber receber, o saber satisfazer o cliente, o ser simpático, com produtos nossos, com a nossa identidade,....
O que pensa, se estivesse no Japão, fosse a uma casa de comida tradicional japonesa, e deparar-se com funcionários unicamente italianos? O que pensaria então " as minhas africanisses"?
Cara H.S.C.
ResponderEliminarAbsolutamente de acordo.
Até de metro é impossivel andar.
É uma babel de troleys e idiomas.
Mas o país precisa dos €€€ que os turistas cádeixam.
Um abraço da Anabela S. R.
Ehehe!
ResponderEliminarQuando deixei aqui o comentário, já contava que não ficasse. Não faz mal.
É de facto chato quando o google blogger faz isso. E não creio que tenha solução por parte do utilizador. Terão de ser eles a entender e a resolver o problema.
Cumprimentos
Maré alta,
ResponderEliminarnão pretendo fazer disto uma discussão racial.
Mas, temos que ver que muitos chamados africanos já são uma terceira geração. Muitos deles nem sabem de onde vem a familia, possivelmente sou mais eu africana que eles.
Quando fala que os empregados não são educados, ai sim, tem razão, porque se há coisa que somos conhecidos é pela simpatia e pelo atendimento. A padaria portuguesa é tudo menos uma padaria tradicional, basta vermos o conceito. No entanto, o senhor/a tem toda a razão quando diz que não foi bem atendido e isso reflecte-se no nosso turismo. Eu como "turista", fui sempre muito bem atendida em Lisboa, talvez porque vá com outro espirito, ou mesmo porque estou ali de passagem e acho tudo maravilhoso.
Trabalhei numa companhia de restauração onde era "chefe/resonsável", trabalhava por turnos e 12 horas (sem ser paga os extra), e chegava com 550€. Nunca deixei de sorrir, nem ser gentil com os clientes. Quando somos mal atendidos, muitas vezes é falta de educação, e cabe a nós clientes e gerentes mudarem essa situação.
Quanto à comida tradicional, convido-o a visitar Moçambique e a grande maioria de restaurantes com comida tipica é feita por portugueses, será que não tem o mesmo valor que um ""verdadeiro" moçambicano? São perspectivas.
Podemos não gostar de nos vermos "invadidos" por turistas, podemos reclamar, mas só quem não foi a Veneza, Londres, Roma, Amsterdão, Bruxelas, NY, etc etc pode achar Lisboa diferente!! Quanto à "chinela" não é muito diferente da sandália que todo o turista alemão usa! Quase que sou capaz de os identificar por elas em qualquer parte do mundo. Sandália e soquete!
ResponderEliminarNão perderemos jamais o hábito de nos queixar. É bom conhecermos o mundo para sermos um pouco mais tolerantes. Quando digo "conhecer" não quero dizer "ter ido" porque certamente quem por aqui comenta já foi a muito lado! "Conhecer" é sim tomar consciência ou como vulgarmente se diz "ver com olhos de ver", não os monumentos mas sim a vida(cidades) que nelas flui!
Para quem pode, a nós portugueses, não lhes sabe bem visitar Paris, Londres, Roma...?
ResponderEliminarE que dirão os seus habitantes com tanto turista?
Não podemos ter dois pesos e duas medidas.
Bjs da Maria do Porto
Dalma
ResponderEliminarTudo o que diz é verdade.
Mas, felizmente, porque já cá ando há muito tempo tive,a oportunidade de conhecer uma outra Lisboa e um outro Paris. Por isso é que o meu título "Lisboa já era" significa que essas cidades que eu conheci não voltarão nunca mais!
Não faço juizos de valor. Apenas constato factos!
Viajei muito e corri mundo enquanto estive na aviação e no BdP.
Nessa época tudo era diferente, Até o modo de viajar. Talvez por isso me saiba tão nem a minha casa!
É bom poder trocar argumentos de forma civilizada!
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