quinta-feira, 7 de maio de 2015

O murmúrio de uma casa...

Estou finalmente a desfazer a minha primeira casa, aquela onde os meus filhos nasceram e cresceream até terem as suas próprias moradas e onde vivi casamento e divórcio. Mantive-a até hoje, porque sempre admiti que ela viria a ser o porto de abrigo do meu filho mais velho quando retornasse definitivamente a Portugal. Afinal ele partiu e a casa ficou, sem que eu tivesse a coragem de tomar uma iniciativa, pasmada que ando com "os inesperados" que me têm surgido neste último ano.
Chegou a altura. Nem filhos nem netos para lá retornariam. E eu talvez também não. Era, assim, uma despesa inconsequente manter uma casa para a qual não sabia se alguma vez quereria voltar. A vida tem um fim e é preciso tomar as decisões que esse fim impõe, sem grandes pieguices. É preciso viver e os estados de alma favorecem pouco essa necessidade vital! 
Todavia o que eu não esperava foi a "frieza" - quase diria indiferença -  que me causou arrumar um certo passado, que estando muito bem resolvido na minha vida tinha, contudo, ali naquelas paredes, o murmúrio da sua existência. O futuro / presente é, de facto, um insondável mistério e, neste caso, a serenidade com que o encarei só pode ser o prémio que Deus me deu para algumas inúteis lágrimas que lá verti...

HSC

19 comentários:

  1. Penso que não se trata de "indiferença" mas sim de maturidade emocional.
    Abraços minha guerreira preferida.

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  2. Por falar em serenidade, conhece estas palavras? Aplicam-se bem a este seu post.

    "Oração da Serenidade"
    Concedei-nos Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras.

    Beijos

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  3. Conheço esse sentimento. Já me despedi assim duma casa. Da casa da minha infância. Pensava que ia ser algo extremamente difícil e afinal não foi. Foi apenas um passo necessário, após a morte do meu pai. A casa sem ele já não era a mesma. Foi preciso continuar em frente.

    Compreendo-a perfeitamente.

    Bom fim-de-semana:)

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  4. Foi un tempo que passou, Helena. Agora o tempo é outro. E a Helena também. 'Nao há amor como o .. último'. Pedro

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  5. Diz a minha filha que nos devemos apegar às pessoas e não às coisas e dou-lhe razão. Porém qd ando no meu jardim, do qual muito me orgulho, às vezes penso: como será qd um dia já não puder tratar dele? Como será se um dia eu tiver deixar o Areeiro, rumo a Lisboa por já não poder tratar de mim ou de nós? Vejo-o cheio de ervas, arbustos e árvores por podar... Uma tristeza!
    Bem me esforço por pensar que a minha filha tem razão e quero educar-me nesse sentido, mas está difícil!

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  6. Eu não diria frieza nem indiferença,mas sim que
    são precisos muitos janeiros em cima de nós para conseguir folhear o passado,recolher elementos,analisar,fazer um estudo,ver que não é viável,fazer o relatório final,encerrar,arquivar na pasta "arquivo morto" e colocar na prateleira das memórias.Só assim se consegue a serenidade suficiente para seguir em frente. Agora sim vamos gozar então o prémio.
    Eu ainda não consegui,mas lá chegarei
    Abraços e obrigada pela partilha.
    Pode pensar que não,mas até ajuda.

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  7. Nem sabe como as suas palavras me fazem sentido..

    Admiro-a imenso.!

    Quando for grande gostava de ser como a Helena!!!

    Tenha um excelente fim semana!

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  8. A minha mãe costumava dizer. As casas são para as pessoas e não as pessoas para as casas. Ela mudou só 3 vezes de casa. Eu que já mudei oito vezes, considero que "Home is where you are happy", não estou agarrada às paredes, nem sequer aos objectos, adoro modificar, decorar e deitar fora o que não preciso....mesmo assim acumulo demais :).

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  9. É isso aí,nada de pieguices!
    A Vida tem um fim carnal é um começo de Vida espiritual.
    Força!A mão invisível ajuda. :-)
    Estamos Juntos e Smile.Difícil é ser Feliz... :-))

    :-))

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  10. Helena
    Só agora li, este texto, senti o mesmo quando desfizemos a casa dos meus pais ( depois da sua morte ). Vivi, lá até aos meus 26 anos, hoje está alugada. O estranho é que quando vou resolver algum problema da casa, fico à porta, a casa que outrora foi minha, agora é de outros, com outras crianças.E mais estranho ainda é a inquilina chamar-se Carla.Tenho mais coincidências para lhe contar, não tenho tempo. Confesso que já me deu vontade de entrar, mas não reconheceria a casa, os gostos são outros, como o cheiro...
    Eu sei que ele a ama :-), a tal serenidade vem de lá.

    Carla

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  11. Lembro-me quando há um par de anos tive de tirar tudo da casa dos meus pais,quando fiquei sem a minha mãe, a última a viver lá.
    Nasci em Campo de Ourique mas foi nesta casa que eu vivi desde os oito anos até ao meu casamento, e que fez durante muitos anos parte integrante da minha vida. A minha mãe foi avó e ama do meu filho até à idade de ele ir para o Jardim Escola; mais tarde o apoio que dei na doença do meu pai e por fim o apoio ao final da minha mãe.
    Dois passos que tive de dar - primeiro tirar as coisas e depois vender a casa; no notário cairam-me as lágrimas que não consegui conter.
    Temos de seguir em frente e fazer força para conseguirmos ultrapassar os momentos de maior sensibilidade sentimental.
    Grande abraço
    Teresa

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  12. ...então agora deixe a sua alma voar entre as nuvens e dançar ao som de - http://youtu.be/8Rn_jguli8I

    Forget the tears and remember the Smails.

    Ghost Casper

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  13. Eu tive que ne desfazer da casa
    dos meus pais e da minha sogra.
    Sei o que senti.
    Entendo o que está a sentir.
    Mas se temos que sobreviver à
    perca das pessoas...às coisas ma-
    teriais é um pouco mais fácil,
    embora eu ainda não esteja suficientemente desligada "das
    coisas" como precisava até das
    da m/casa.
    Cumprimentos e um bom fim de semana.
    Irene Alves

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  14. :Os sinos dobram por nós.

    Angel

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  15. Close your eyes
    Open your mind
    Follow your heart...

    A

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  16. Bom dia Helena!

    Maria do Porto, desconhecia a oração, gostei muito.

    Carla

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  17. Encontro-me actualmente num certo impasse em decidir desfazer-me de uma casa grande, de que não preciso e só me dá trabalho. O seu texto fez-me reflectir e lembrou-me o lado prático destas coisas - frieza, indiferença, o que for, é preciso é agir, partir para outra. Há dias foi assaltada e pareceu-me poder ler nesse facto uma ''mensagem'' para me decidir a vendê-la. Vou reler as suas ideias sobre a vida, para ver se aprendo! E se me decido .... Luísa

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