"Não consigo evitar uma certa estranheza
perante as fotografias do dia 25 de Abril de 1974. Por um lado, são fotografias
do meu tempo, lembro-me bem desse dia, do que se passou, onde estive, do que
fiz. Mas ver depois todos aqueles carros que já não existem, lojas com marcas
que já não existem, roupas e cortes de cabelo ridículos ou polícias com fardas
esquecidas, faz-me sentir o mesmo tipo de cisão que sinto perante imagens bem
presentes na minha consciência mas de tempos que não foram meus, como um comício
nazi em 1932 ou a libertação de Paris em Agosto de 1944, cujas figuras
aparecem agora como eidola, fantasmas ou espectros, embora tenham
sido outrora pessoas de carne e osso.
Se eu me limitar a pensar no dia 25 de Abril, a memória tende a submeter os
factos a simples ideias evocativas. Porém, ao ver as imagens, a evidência
física dos factos, tudo se altera. Ao projectar-me nelas, acabo por me ver
também como um fantasma, tendo assim uma experiência mental tão ficcional como
a que terei se me se quiser ver em Paris em 1944, pois embora esteja a ver
o meu tempo é também um tempo que não é meu. Eu vejo-me ali, aquelas ruas
são minhas, aqueles carros são meus, aquelas roupas são minhas mas essa parte
de mim já não é minha, apesar da parte de mim que ali ficou ser tão real e
consistente como esta que agora disso se lembra. É estar vivo e ver-me
morto, como no sonho do velho professor nos Morangos Silvestres. As
fotografias do 25 de Abril de 1974 não passam assim do equivalente histórico de
uma natureza-morta (ou still life, para aproveitar a maior riqueza
semântica da palavra inglesa), só que em vez de frutos, flores ou caça, temos
pessoas, carros, roupas, lojas, todo um mundo que, estando vivo, prepara a sua
própria dissolução nas garras de Cronos que tudo devora."
Jose Ricardo Costa in http://ponteirosparados.blogspot.pt
Este é o texto integral do post que José Ricardo Costa colocou hoje no seu blog Ponteiros Parados. Já por várias vezes aqui citei este blogger cujos textos são sempre de muita qualidade.
Podia ter apenas remetido para o seu espaço, mas sei que há leitores mais preguiçosos e por isso dei-me ao trabalho de o reproduzir.
Esta descrição impressionou-me particularmente, porque senti algo de muito semelhante, quando há pouco olhei as notícias.
HSC
Penso que isto se passa com muitas pessoas que viveram realmente esse dia da Revolução.
ResponderEliminarTodos os outros que o não viveram adoram o folclore, riem-se dos soldados de suiças e barba, vibram com a ideia de uma liberdade desenfreada, olham para as fotos de Salazar como se fora o Saddam Hussein, não fazem uma pequena ideia do que se passou antes, nem querem saber.
As fotos e canções do 25/4 fazem-me pele de galinha, não porque tenha asco à liberdade ou seja elitista, mas porque aquele tempo foi caótico e levámos anos a recuperar da destruição económica que se seguiu. Sendo professora assisti a uma uniformização muito menos democrática do que pode parecer à primeira vista. A Escola desapareceu e a liberdade sem limites levou a excessos indescritíveis, saneamento de professores, passagens administrativas, desautorização total dos docentes, etc.
Vejo os dois lados da moeda e a palavra Liberdade neste país causa-me calafrios. Só tem liberdade quem a pode ter....
Estou como a VIRGÍNIA :
ResponderEliminarSó tem liberdade quem a pode ter....
Melhores cumprimentos.
Nem mais Dra Virgínia.
ResponderEliminarHá também, quem tome a liberdade por libertinagem...e esqueça que a liberdade individual, termina onde começa a do seu semelhante...!
ResponderEliminarA melhor face da liberdade é a voz da união.
ResponderEliminarA força está na união.
Unidos PSD/CDS vencerão.
Parabéns pelo bom senso!
M Mello
Liberdade
ResponderEliminarÉ um ladrão roubar a Nação (preso 44/grupo Lena etc)
E ainda ter um programa na televisão?!!!
Santiago
Ontem no debate da TVI 24 sobre as constituintes, com um grupo de deputados de vários quadrantes, a conclusão foi que apesar dos excessos de 1975 e as graves consequências que daí poderiam advir, foram unânimes em dizer que valeu a pena a Revolução.
ResponderEliminarConcordo e também senti na pele esses excessos!
A esquerda caviar com a seita Costa a reboque,de idosos balhelhas,sempre os mesmos,em vez de falarem da revolução,falam da estabilidade que une dois partidos neste dia.
ResponderEliminarCansado que estou de palavras e discursos violentos,de ter de ver os perdigotos do Ferro.Apenas gosto de ver Joana Amaral Dias mas tiro o som á TV.
Comunismo é tão bom que é por isso que Cuba vai piscando o olho a Obama como Soares piscava a Savimbi.Os diamantes também são os melhores amigos dos homens...
E ainda falam dos jovens do governo!
António Mascarenhas
Sô Costa,não é casamento,são as bodas de alpaca.
ResponderEliminarQuer levar as alianças?
Tozé
Já agora os esquerdistas podem ir á boda quem sabe não se esfolem para apanhar o buquê...
ResponderEliminarMaria Inês
Com papas e bolos se enganam os tolos.
ResponderEliminarVivam os cravos vermelhos de Abril!
ResponderEliminarSó quem como eu, apesar de com alguma inocência, esteve no Largo do Carmo naquela data memorável poderá continuar a entender o significado dos cravos e a sentir que valeu a pena a Revolução! Só assim os meus filhos puderam sair do cinzentismo em que os avós sempre viveram!
Os meus respeitos, Dra. Helena!
(Ah já me esquecia!
O meu País era uma aldeia sem cor e neste momento acolhe os mais exigentes) .
Os meus respeitos, Dra.Helena.
"Criatividade é como a barba.Você só a tem,se deixar crescer."
ResponderEliminarVoltaire
Muito lamento que haja quem tenha saudades do 'antes da revolução dos cravos'. Não consigo perceber. E ainda me custa mais perceber quando o constato vindo do 'feminino'.
ResponderEliminarSugiro o documentário: https://www.youtube.com/watch?v=RBBUqAdiKEs
Está na moda chamar à esquerda, 'esquerda caviar'.
ResponderEliminarMuito preferível, com muito mais qualidade, do que a 'direita salsicha alemã'.
À direita só interessa a manutenção dos seus próprios privilégios, enriquecer a minoria.
A Revolução dos Cravos foi o acontecimento mais marcante da minha vida de pertença a uma comunidade (nunca tinha visto antes nada assim, nem vi depois), e este excelente texto mostra o efeito-distância que sentimos quando vemos fotos do nosso passado, pessoal e coletivo. Este texto 3D, dá-nos várias dimensões, várias camadas.
A memória e os sentimentos atuais descolam-se uns dos outros, as emoções, as ilusões e as desilusões. Mas o presente e o futuro não seriam os mesmos, sem essas memórias, seriam outros.
Há algo que permanece: a importância e a necessidade de se continuar a lutar pela liberdade, pelos direitos de todos, hoje tão destruídos, por uma vida melhor.
'Você viaja para reviver o passado?- era, a esta altura, a pergunta de Khan, que tb podia ser formulada da seguinte maneira- Você viaja para encontrar o seu futuro? O viajante reconhece o pouco que é seu, descobrindo o muito que não teve'.
O que faz o povo feliz? Caviar ou salsicha?
ResponderEliminarEu acho que é a bela da salsicha alemã.
Costa não é pelo casamento,tá visto.Prefere o divórcio.Camaradas são assim,tudo ao molho,com as mulheres alheias.
ResponderEliminarQué frôr?
Sr.Costa está com ciúmes por não ser o noivo/a,mas pode ainda ser o padrinho/madrinha á espanhola.
ResponderEliminarAlta qualidade da esquerda http://youtu.be/hHWtZtXHkq8
ResponderEliminarWowwwwww
Alguém disse que com papas e bolos se enganam os tolos.pois! Por isso nas festas do AVANTE há uns bolinhos de haxe,ui!ui! É vê-los a cantar...e depois (do) adeus.
ResponderEliminarCaros comentadores
ResponderEliminarA leitura de um texto tem sempre muitas interpretações. Eu sei.
Mas ao ler a maioria dos comentários, o que vi foi política.
Ora eu "roubei" este texto porque ele revela um estado de alma que só acidentalmente tem que ver com opções políticas.
É uma confrontação de alguém consigo próprio num determinado momento que invoca um facto político.
Mas para mim o essencial foi esse "olhar" sobre si e sobre o outro que já fomos. É aí que reside a sua beleza!
Ó Dra HSC,o texto é belo,mas,mais belo foi o sono que tive com o Engenheiro de Évora.Olhe,veja lá,que sonhei com ele triste de dar dó...só cantava,choramingando - Ó tempo volta p'ra trás,quero tanto estar em Paris!
ResponderEliminarPartiu-se o coração e acordei com tanta dor.
António Borga
Património são os vivos!
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