quinta-feira, 12 de março de 2015

Pessoas de quem gosto: Alice Vieira (4)



Eu herdei a Alice Vieira. É exactamente assim. Herdei-a do marido, o meu querido e saudoso Mario Castrim. 
O meu laço de amizade nasceu inicialmente com o Mário e de uma forma bem curiosa. Quando apareceu a Máxima, numa entrevista que me fizeram, eu explicava que tinha abandonado o Banco de Portugal para fazer o que sempre quisera - escrever - e que não pudera fazer antes, porque não era rica e precisava de trabalhar para criar os filhos. Uma altura chegou em estes estavam encaminhados e, com ela, a minha vez de optar por viver da escrita.
Ele ouviu a entrevista e fez uma crónica em que me avisava que o futuro daqueles que viviam da palavra não era muito risonho e que eu meditasse bem na opção feita. O texto tinha o seu cunho acre, mas revelava alguma ternura por mim.
Com a desenvoltura habitual, eu, que não o conhecia, escrevi-lhe uma longa carta na qual lhe contava um pouco da minha vida e das minhas razões. Uns dias depois recebi um telefonema seu a convidar-me para almoçar. Fui. A partir daí e enquanto foi vivo, muito pouca coisa terei feito em que não ouvisse o seu conselho.
Várias vezes ele me disse que eu gostaria muito da Alice. Mas a ocasião não se proporcionou. Com a sua morte, a minha amizade por ela havia de tomar forma. 
A Alice não se pode descrever em palavras. Todas me parecem escassas para tal. Além de possuir um profissionalismo férreo, é uma escritora e poeta de altíssimo nível, facto que é reconhecido além fronteiras. E é uma mulher adorável, uma amiga sem falhas, alguém que deixa uma marca naqueles que com ela convivem.
A juntar a todas estas qualidades, tem a gargalhada mais solta que eu conheço e uma alegria que a faz ultrapassar todas as ratoeiras que a vida já lhe pregou. E felizmente para ela e para todos quantos, como eu, gostam muito dela, tem hoje na sua vida, um "outro Mário", de quem é impossível  não se gostar!


HSC

9 comentários:

  1. É maravilhoso existirem amizades assim. Também gosto muito de Alice Vieira...faço parte da geração que devorava os seus livros infantis...e que saudades desse tempo.

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  2. Era uma vez...a Flor e a Rosa.
    Sara

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  3. Também eu sou fã.
    Só a conheço dos livros que li em criança numa biblioteca perto da minha escola (em Bragança), onde me refugiava em dias chuvosos enquanto esperava o autocarro. Havia lá uma senhora bibliotecária que não nos deixava ler os livros que queríamos, sem antes ler os que ela nos recomendava, na altura torcia o nariz a tal prepotência, mas hoje agradeço-lhe do fundo do coração, pois foi pelas mãos dela que conheci livros que ainda hoje recordo. A Alice era uma das suas (hoje minhas) escritoras de eleição.

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  4. Bom dia Helena!
    Está muito bonita, existem pessoas que tem uma áurea especial, a Alice como a descreve deve ser uma delas.

    Carla

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  5. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  6. Anónimo das 12:53
    Não percebi o seu comentário sobre o AZIMUTE...
    Pode explicar?

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  7. " Não sei por que sorri de repente,e um gosto de estrela me veio na boca."
    Mário Quintana

    :-)

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