Quando se perde um filho, nada do que depois possa acontecer-nos tem grande importância. E talvez só esta hierarquização do sofrimento, explique que eu por cá continue, tentando levar a minha vida por diante, com um sorriso nos lábios.
Infelizmente este ano de 2014 tem martirizado vários amigos meus. São doenças, são desilusões, são fracassos, são perdas. A que se junta, há que dize-lo, um clima social de tensão quase permanente, que corporiza o velho ditado " casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão".
Talvez porque me julguem mais sadia ou mais forte - sabe-se lá o que os outros pensam de nós - a verdade é que muitos deles me procuram e desabafam as suas mágoas. É uma prova de confiança que me dão, mas à qual só posso responder com a minha experiência pessoal. Fiz análise, julgo conhecer-me um pouco melhor do que antes dela, mas o sofrimento é, sempre, um domínio profundamente solitário. Diria mesmo que é a área mais solitária da nossa vida.
Partilha-lo é, para alguns, uma catarse absolutamente indispensável. Para outros, ao contrário, é algo de impensável, se a dor for muito profunda. Chorar talvez seja para esta última categoria, a solução possível. Só que não chora quem quer, mas sim quem pode. E, sei-o, nem sempre é fácil, nem sempre é possível.
Porém, há algo que todos podemos fazer. É rodear de carinho, de interesse pessoal, de solidariedade, todos aqueles que estão em sofrimento. E não deixar para amanhã um telefonema, um mail, uma visita, enfim, até uma oração. O sofrimento dos outros pode ser, também, um dia, o nosso...
HSC
Concordo em absoluto, o sofrimento é uma coisa pessoal. A necessidade de deitá-lo para fora é uma busca de alívio, que pode colher frutos. Mas só depois de sofrermos e de alojarmos de novo o que se sofreu, como parte de nós... Nem sempre sou boa nessa partilha. Sou atabalhoada, trapalhona, sou muito melhor a escutar... :)
ResponderEliminar( Falo do sofrimento dito mais "normal". Não me atrevo a entrar no que descreve, mas acredito em tudo o que diz...)
Um beijinho.
Apreciei muito a sua explanação.
ResponderEliminarMelhore cumprimentos.
...hirarquização ...
ResponderEliminar...esta ano de 2014...
Gralhas :-(
É isso mesmo, " não deixar para amanhã um telefonema, um mail, uma visita, enfim, até uma oração..." Porque amanhã pode ser tarde. Alguém também me ensinou "não te venhas a arrepender de não teres feito"!
ResponderEliminarCompletamente de acordo.
ResponderEliminarPermita-me destacar dois excertos do seu texto:
- "Só que não chora quem quer, mas sim quem pode. E, sei-o, nem sempre é fácil, nem sempre é possível".
- "É rodear de carinho, de interesse pessoal, de solidariedade, todos aqueles que estão em sofrimento. E não deixar para amanhã um telefonema, um mail, uma visita, enfim, até uma oração".
Solidariedade, sempre!
Cumprimentos
ResponderEliminarAcho que o sofrimento é um estado de espírito absolutamente pessoal e intransmissível. Pessoalmente só consigo partilhá-lo com os meus filhos e por vezes até prefiro estar sozinha. Não sei como é que as pessoas pensam que terceiros nos podem dar a resposta para superarmos a dor.
A relativização por comparação com outras situações à nossa volta pode dar-nos alento....
Hand on hand.
ResponderEliminarA
Helena, com a sua licença...
ResponderEliminarCara Virginia,
a questão, se analisada de diferentes ângulos, tornará claro que o objectivo, seja em processo de relação terapêutica formal, seja no seio de uma relação de amizade, assentará, sempre, não no fornecer uma resposta, mas no ajudar o interlocutor a encontrar dentro de si respostas, à sua medida, por meio, em parte, do olhar crítico sobre a forma como nos relacionamos connosco, com os outros (como nos construímos), por referência, quer ao cânone, quer por referência à construção individual do nosso interlocutor.
É justamente nessa, para mim, falácia, que assentam, infelizmente, muitos livros de auto-ajuda: vender a ideia de que existe uma resposta, clara, objectiva e universalmente válida para determinadas problemáticas.
Querer aplicar esse tipo de raciocínio - matemático - a dimensões humanas, dos sentimentos e emoções humanas... é, parece-me, gerar, logo à partida, condições para a frustração.
A 'velha senhora' concorda e comenta:
ResponderEliminarlinda menina, ó grande helena!
sofre por si e mais por quem
tais sofrimentos tem também.
não é, helena, alma pequena!
Maravilhoso, mesmo que brutal! Revejo-me em cada palavra sua. Obrigada.
ResponderEliminarCC
Bem verdade. A companhia, o carinho e a compreensão dos outros é fundamental. Ajudam a aguentar o que não se imagina como se aguenta.
ResponderEliminarQue o Espírito Santo a proteja.E a todos nós.
ResponderEliminarTal e qual e revi-me em cada palavra sua. Todos os dias tento praticar o referido no seu último parágrafo porque infelizmente muitos esquecem-se de pequenos pormenores e só quando morrem é que vão de velinha e flores na mão com um ar de pesar. O que refiro é tão comum nas famílias...e sei bem do que falo!
ResponderEliminarNãooooooooo e nãooooooooo e como não deixo para amanhã o que posso fazer hoje e porque não tenho outro modo de...
deixo-lo um enorme abraço sincero e com imenso carinho.
Dizem que sem sofrimento não existe arte.
ResponderEliminarEntendo porquê. Tal como diz HSC, é difícil encontrar meios que traduzam o sofrimento e o comuniquem aos outros.
Considero que o mesmo se passa relativamente a qualquer vivência emocional, tanto de sinal positivo, como de sinal negativo.
As vivências emocionais não são abstratas, e cada caso é único.
E é aqui que entra a necessidade de o ser humano se exprimir através da arte, nas suas várias formas e meios.
Mas isso não tem a ver com isolarmo-nos na dor.
Uma coisa é os outros saberem que sofro porque perdi alguém muito querido e termos o seu apoio.
Outra coisa é aquele núcleo de sofrimento que, na maior parte das vezes, nem para nós mesmos conseguimos verbalizar.
E quando conseguimos fazê-lo, mesmo que só para nós próprios, isso é muito libertador.
*_* Believe *_*
ResponderEliminarGhost Casper
Gostei muito deste seu texto
ResponderEliminara) Alcipe
Bom dia Helena!!
ResponderEliminarÉ sempre tão explicíta, entendo-a tão bem...
Concordo consigo em tudo!!!
"julgo conhecer-me um pouco melhor do que antes dela"
Passou-se o mesmo comigo, sem duvidas que hoje conheço-me muito melhor, conhecendo-me hoje fazia todo diferente...
Tenho pena de muitas coisas, mas felizmente já consigo ter menos culpabilidade, é na dor que aprendemos o bom e mau, todo é uma aprendizagem, aprender a suportar a dor é algo só nosso.
Gosto de si, não porque sim, mas por tudo que que nos têm ensinado.
Carla
Se estivermos atentos (aos Outros) o estado de sofrimento e também o de alegria, embora se alternem, são constantes... :) :(
ResponderEliminarSenhora,sofrer é ter que esperar quinze dias para lhe poder enviar um presente.
ResponderEliminarAmbrósio
Ó Ambrósio não sofra, não espere, não se amofine. Um Ferrero resolve o problema!
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ResponderEliminar(todo- castellano) más un poco y André vá cambiar las palabras como yo!!
:) Carla
Senhora,estou mesmo amofinado...mas foi porque domingo passado perdi o meu fiel amigo de há 13 anos nos meus braços..O meu Scooby dança agora nas nuvens do infinito.
ResponderEliminarNão há quem me console da dor.
Ambrósio
Ambrosio, não se amofine. O caozinho está entre os amigos!
ResponderEliminarAlcipe
ResponderEliminarMuito obrigada!