domingo, 7 de setembro de 2014

O real e o ideal

O texto que se segue é um excerto do editorial de Matthieu Croissandeau a propósito o novo ministro da Economia francês Emmanuel Macron e publicado no ultimo Nouvel Observateur. A tradução minha é muito livre, mas é suficiente para entender que para uma certa esquerda um jovem enarca, filósofo e banqueiro tem que ser forçosamente alguém de muito suspeito. Porque:

"...A questão não é saber se um antigo banqueiro pode ser de esquerda. Outros antes dele já o foram e outros certamente o serão. A questão não é sequer saber se o socialismo de Hollande rompe com os seus principios fundadores ao prosseguir uma política demasiado favorável às empresas. Há já muito tempo que os socialistas franceses se converteram à economia de mercado e não correm atrás dos patrões.
Não o esqueçamos: foi a esquerda, na ocorrência a de Mitterrand que abriu as portas da economia do país à finança liberalisando os mercados de capitais. Foi ainda a esquerda, a de Jospin  que privatisou o que nem a direita privatisaria, baixou os impostos e converteu os criadores de empresas às delícias remuneratórias das sotck options.
A esquerda não necessita de totems nem de tabus para pôr à prova a força das suas convicções. Mas uma vez eleita, por um estranho e repetitivo fenómeno ela acaba sistematicamente acusada de trair o seu campo. Quando posto à prova do poder, o PS ficou sempre dividido entre a ambição eo remorso, incapaz de estabelecer a ponte entre a doutrina que defendia na oposição e a sua acção governamental e navegando entre o pragmatismo e decepções. Isto deve ser da sua natureza "de servir o ideal e de compreender o real", como resumia Jaurès. Cem anos passados a formula continua a figurar na declaração de princípios do PS, sem que ninguém e muito menos Hollande, tenham conseguido resolver esta diferença dialéctica"

Cá temos um problema semelhante... e também temos muita dificuldade em resolver esta espécie de dicotomia.

HSC

8 comentários:

  1. Esquerdas há muitas, senhora Helena Sacadura Cabral, aliás Matthieu Croissandeau. E o papel histórico de algumas é comprometer o sucesso político de outras.

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  2. Bom dia Helena!
    Em matéria de politica, posso considerar-me uma leiga...porque quero, a politica deixou de ter interesse, aos meus olhos claro!
    Tenho os meus ideais, sei o que defendo ( mais igualdade entre o povo) que cada vez mais de o abismo é maior.
    Em 2014 foi o ano que se vendeu mais carros de alta cilindrada, será que crise existe para todos?
    Ou os mais pobres estão cada vez mais pobres, e os ricos ada vez mais ricos?
    As reformas de miséria que os nossos idosos rebecem, se não fosse a ajuda dos familiares passavam fome.
    Na Holanda, a reforma é igual para todos, 2000,00 €, até a rainha recebe esse valor.
    Sei, porque tenho um amigo que vive lá.
    Onde estão os nossos politicos, que se interessam por os mais desfavorecidos?
    Onde está a justiça, justa?
    Ricos que roubaram milhões, que estão em casa com prisão domicilária...
    Será utopia, querer um país mais equilibrado?
    O seu filho Miguel, defendia todas estas causas, seriam utopias?
    Então, deixem-me ser utopiana...

    Carla

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  3. Pois temos, a esquerda é uma desilusão para quem paga os seus impostos e vive de acordo com a lei deste país!
    Eu resolvo esta dicotomia simplesmente não votando esquerda.

    Cpts,
    Cláudia

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  4. Não percebeo nada de politicas de esquerda, nem de direita, mas o que leio nos jornais e blogues vários é que tanto faz estar no governo uma coligação de direita como de esquerda, andamos sempre atrelados à banca e ao poder do capital que enriquece sem dar cavaco (!) ao Zé Povinho e à custa do mesmo. Não há regulação, nem nivelamento que impeça certos indivíduos ( e são muitos...) de aufeririem vencimentos minilionários, bonus extras, comissões de isto e aquilo. Também não há tribunais corajosos que investiguem até ao fundo a corrupção e a fraude quando se trata de altas instâncias. A estupefacção de Vara ao ouvir da sua condenação a prisão efectiva diz tudo. Pensava estar impune, como todos os outros que passam pelos pingos da chuva e nunca se tramam.
    Enquanto não houver um mínimo de ética e probidade nos nossos governantes ( e naqueles que deles dependem), continuaremos a empobrecer até ao limite em favor duma cambada que foi eleita para nos servir e não para nos espoliar.
    Idealismo? Palavra linda que não entra no dicionário de NENHUM político português!

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  5. Se um dia eu pudesse, Drª Maria Helena, colocaria aos políticos, a todos, de todas as tendências, filisofias e credos, apenas uma pergunta: que poder ter o poder que os transforma em seres sem escrúpulos, apenas motivados pela ambição pessoal. Gostava, sinceramente gostava de poder equacioná-los e ouvir as respostas.
    Seria interessante, penso.
    Um beijinho para si, com muito respeito e admiração

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  6. Peço desculpa, Helena, pelas gralhas no meu post. E tb pela minha veemência....mas a sua entrada suscitou em mim uma certa revolta....ainda hoje vem no FB a lista dos vencimentos atribuidos aos PRs e é absolutamente revoltante que homens que se dizem de esquerda tenham a lata de vir falar das carências dos desfavorecidos quando só eles todos juntos ganham mais do que mil famílias portuguesas num ano.

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  7. Virgínia
    Isso não é nada quando comparado com o património de alguns. Ou tiveram a sorte de terem uma tia rica que os herdou, ou ganharam o euro milhões...

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