Afinal consegui ter a coragem de vir. Acabei de chegar depois de uma viagem turbulenta. A mala - desta vez não vim apenas com a carteira - demorou a ser libertada e houve alguma confusão com outro vôo que aterrara à mesma hora oriundo não sei de onde.
O tempo estava abafado e o céu estava rosado, como tantas vezes acontece aqui em Paris, por volta do fim da tarde. Tomei um táxi e à medida que me aproximava de casa, o coração começou a ficar apertado. Afinal passaram muitos meses sem cá retornar. A paisagem, tão minha conhecida, estava igual.
Meti a chave à porta com o vagar de quem não sabe se é capaz. Rodei-a devagar, mas ao ouvir o som do ferrolho a mexer-se, parei. Precisei de inspirar duas ou três vezes, antes de rodar de novo a fechadura.
A nossa Maria, como sempre, havia deixado tudo em ordem. Nem as tulipas amarelas de que tanto gosto, ela esquecera. Comoveu-me o cuidado posto em deixar a casa como um brinco, a lembrar outras chegadas bem mais felizes. Os cortinados meio abertos deixavam entrar a luz do fim de dia.
As pernas tremeram-me. Não era medo, mas sim angústia. Aquela que nos paralisa todos os movimentos, a contrastar com a alegria com que costumavamos entrar os dois, por volta desta hora. Agora sou só eu e foram necessários setecentos dias para arriscar tornar à cidade e à casa.
As pernas tremeram-me. Não era medo, mas sim angústia. Aquela que nos paralisa todos os movimentos, a contrastar com a alegria com que costumavamos entrar os dois, por volta desta hora. Agora sou só eu e foram necessários setecentos dias para arriscar tornar à cidade e à casa.
As fotos, nos lugares habituais, pareciam esperar, como antes, o meu primeiro gesto. Mas eu não bugia, pregada ao chão da entrada.
Quanto tempo terá passado? Não sei. Sei apenas que se tornou necessário abrir a luz e só depois fui capaz de me mexer. Mas pouco. Hesitei, mas sentei-me no teu cadeirão, à espera de sentir esse abraço e esse cheiro, tão especiais, mistura de tabaco e alfazema.
Diria que senti uma réstea desse odor, quando apoiei a cabeça. Mas ele trouxe consigo uma espécie de calafrio que assaltou o meu corpo e me lembrou o dia em que voltei do cemitério. Aquele que te apartou irremediavelmente de mim.
HSC
HSC
Já lá vão mais de dois anos...
ResponderEliminarAlém de filho, pressente-se que lhe tinha um amor muito mais especial.
O Miguel devia dar-lhe muito carinho !...
Melhores cumprimentos.
Querida doutora Helena:
ResponderEliminarHabitualmente rio consigo, hoje (neste post) as lágrimas vieram-me aos olhos. Belíssimo texto!
Um beijinho,
Vânia Baptista
Mãe Querida
ResponderEliminarAlguém verdadeiramente essencial segura suas mãos e conforta o seu coração.
23 violetas para si
http://youtu.be/Hq_-2A_JH_8
23
Que amor é este? Por quem? Não fica claro, mas ainda assim, há uma essencia e uma emoção que perpassam, e isso é o que importa.
ResponderEliminarDiante de um texto destes, tão emotivo e tão bonito, fico sem palavras.
ResponderEliminarDeixo-lhe, apenas, um abraço, grande e silencioso.
Isabel
Rosa Afonso
ResponderEliminarUma carta de amor tornada pública pode ter vários destinatários, nomedamente quando é escrita por alguém que vive da escrita.
Esta teria um destinatário que já morreu.
ResponderEliminarUm filho é insubstituivel.
A presença dele ou dela, no entanto, ficará para sempre viva dentro duma Mãe.
Texto magnífico...nada se esquece...
Meu Deus Drª.Helena que linda carta ao seu filhote.Fiquei arrepiada e com lágrima ao canto do olho.
ResponderEliminarQue mãe coragem! Obrigada por ser a mulher, mãe a avó que é! sempre a conseguir lavantar o meu ego, sempre e quase todos os dias que passo por esta sua e muito boa estrada.Abraço Mina
Apenas um bj.
ResponderEliminarIrene Alves
Belo!
ResponderEliminarHand on hand.
ResponderEliminarGhost Casper
Como sempre e bem ao seu estilo pessoal. Força, muita força... porque ele assim o queria e com toda a certeza lhe terá pedido muitas vezes.
ResponderEliminarUm abraço sincero
Esta carta é um POEMA!
ResponderEliminarTriste, mas BELO...
Um beijinho...
Uma carta de Amor.
ResponderEliminar2332 número de seguidores - capicua.
Sorte de quem recebe uma carta assim.
Os números falam por si.
Líndíssima!
FT
L' Amour c'est L'Amour toujour...
ResponderEliminarMerci e bisou.
Pierrô
Sai sempre tudo tão perfeito, quando deixamos falar o coração...
ResponderEliminarMaravilhosa esta carta de amor.
ResponderEliminarUm abraço bem apertadinho que dê muita força a esse querido coração.
Que este amor seja abençoado por toda a eternidade.
ResponderEliminarhttp://youtu.be/5ZGGqe293MM
A
da mãe para o seu filho, que infelizmente já partiu, memórias que ficam e dor que nunca se apagará.
ResponderEliminarcomovida estou!
:(
Doutora Helena
ResponderEliminarDiz o poeta que todas as cartas de amor são ridículas????
Esta é Lindaaaaaaaaa!!!!!!
Abraços apertados
É tão comovente o amor de MÃE (infelizmente sei também do que estou a falar). Fica para sempre uma dor que nunca é indescritivel.Permita-me que escreva aqui uma quadra de um poeta popular que diz:
ResponderEliminarCom três letrinhas apenas
Se escreve a palavra mãe
Que sendo das mais pequenas
É a maior que o mundo tem
Obrigado por escrever do modo que o faz.Muita força e um abraço
J.P.
Embora generosos, estou em crer que muitos dos seus comentadores não terão entendido exatamente aquilo a que a Helena se referia. Um abraço solidário
ResponderEliminarFrancisco
ResponderEliminarTodos nós temos uma imagem, cuja leitura é, no meu caso, aqui muito clara.
E que, confesso, me reconforta.
Porque terei sabido defender a minha intimidade num tempo em que a maioria a expõe. E os meus leitores são, de facto, muito generosos!
E se me permite: defender a sua intimidade com esta carta de amor é uma bênção ao alcance de muito poucos.
ResponderEliminarBeijinhos amigos,
Paulo
Eu penso que entendi...
ResponderEliminardaí achar linda
Maria (publicamente anónima)
ResponderEliminarBom dia Dr.ª Helena!
Que maravilha! Aliás, como tudo o que a Senhora escreve. Mas esta carta é uma pérola!
A começar pelo título “Uma carta de amor”. Onde leio muita ternura, tristeza, saudade e o regresso a um lugar cheio de recordações. Mesmo não sabendo a que se refere, isto é certamente íntimo, ou não. Até pode ser imaginário! Como muitas cartas de amor! E estas normalmente são claras apenas para os destinatários.
Fico sempre maravilhada com o modo como a Senhora expõe sem se expor. É maravilhoso. E a Senhora tem esse “Dom”. Deixa um pouco ao critério do leitor e isso, para mim, é muito bonito. Acho uma grande sabedoria da parte de quem escreve e a Dr.ª Helena tem essa sabedoria. E muito mais… confesso que fico sempre confortada com a sua escrita.
Se me permite vou deixar aqui uma quadra da minha autoria que explica um pouco o que eu penso, em algumas situações, como leitora…
Quando for grande querei
Saber ler nas entrelinhas,
Agora, por certo não sei
Porque ainda sou pequenina
Beijinho e tenha um bom dia
Maria M
Ainda um dia vou escrever uma Carta aberta a HSC,
ResponderEliminarEstou a ganhar coragem.
:-)
Que carta de sonho.
ResponderEliminarE imaginei alguém a cantar-lhe assim
http://youtu.be/tXW792NlW04
Momento de puro afecto.
Boa partilha.
Maria (publicamente anónima)
ResponderEliminarSó agora vi que deixei passar um erro na quadra que enviei no pasado dia 8. Venho pedir desculpa e corrigir.Obrigada
Quando for grande quererei
Saber ler nas entrelinhas,
Agora, por certo não sei
Porque ainda sou pequenina
Beijinho
Tenha um bom fim-de-semana
Maria M
Grande MULHER!
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