Quem me lê sabe da minha estima e admiração pelo Padre Tolentino, que desde a morte do meu filho me estende a mão quando preciso. Todas as semanas leio atentamente a sua crónica no Expresso e, com grande pesar meu, quase nunca consigo ir às suas missas na Capela do Rato, apesar de não morar longe dela. Mas continuo, há séculos, a ensarilhar os meus fins de semana e creio que a coisa já se tornou numa vicissitude. Assim, quando alguma dessas crónicas me toca mais profundamente, guardo-a para uma melhor ocasião. Aconteceu com uma intitulada "Olhar para a vida" que esteve à espera do dia de hoje.
Como já aqui disse, a doença de um familiar muito querido, daqueles que são carne da nossa carne, fez-me parar um pouco e olhar para o mundo outra vez. Isto já me tinha acontecido antes quando perdi o Miguel. Tudo aquilo com que fiquei, depois de perder quase tudo, tornou-se uma riqueza enorme.
Mas, então, a morte roubou quem devia partir muito depois de mim. Agora a minha paragem é diferente, porque se trata de alguém que muito amo, mas cujo percurso - 86 anos - obedece à lei natural da vida. E é esse nó, esse sentir, que constitui a verdadeira alteração. Porque um desapareceu num tempo em que "se olha pela vida" e o outro desaparecerá numa altura em que se "olha para a vida".
Foi este clique que me fez parar e tomar decisões quanto ao meu futuro. Ao futuro daquilo que tenho - a "tal riqueza" de que falei acima - e ao que quero que se faça, quando eu já não tenha futuro.
E fi-lo com muita atenção porque, como dizia o Padre Tolentino nessa crónica, "referindo Simone Weil «a atenção é uma prece», ela mais não faz do que
mobilizar-nos para a aliança com o agora, porque se não formos prudentes e
generosos para manter os olhos maximamente abertos sobre o presente, que
ciência poderá o futuro constituir para nós?"
HSC
Olá Helena,
ResponderEliminarEm todas as idades, em todas as circunstâncias, acho que temos o dever que zelar com carinho pelo dom que recebemos, o misterioso dom da vida. O tempo ou as circunstâncias podem levá-lo ou de nós ou, o que é pior, daqueles que mais amamos.
Por isso, é absurdo desperdiçarmos a nossa vida com amarguras inúteis, intrigas absurdas, tédios incompreensíveis.
Aprecio em si, Helena, essa enorme capacidade de abraçar a vida inteira, nela abarcando as perdas, os desgostos, mas sabendo que convivam com a sua jovialidade, que é a jovialidade de quem tem a vida inteira pela frente (dure ela o que durar). A sua energia é seguramente um esteio para os que passam por dificuldades junto a si. E o que desejo é que eles olhem também por si porque a sua alegria será certamente mais luminosa se se souber também amparada quando disso necessitar.
E, enquanto se reflecte com realismo sobre tudo isto, que se saiba (e a Helena sabe) aproveitar cada pequeno instante.
Um abraço, Helena.
UJM
ResponderEliminarÉ o que tento fazer, de facto. Quando se perde quase tudo, o que fica é já uma riqueza!
O padre Tolentino é espetacular e que citação lindíssima a que transcreve dele.... " os olhos abertos sobre o presente, para que o futuro nao constitua ciência..."
ResponderEliminarSerá esse um dos segredos para o equlíbrio, nao?
Um beijinho, Helena.
Conheço há muitos anos o Padre Tolentino e foi sempre com grande desvelo que escutava as suas homilias na igreja de Sta.Isabel.
ResponderEliminarÉ uma pessoa muito especial e ainda bem que lhe é próximo, porque fala sempre com o coração entrando dentro do nosso. Por isso é o ideal para uma pessoa querida como a Helena.
Abraço