"Confesso que não consigo acompanhar a histeria que se está a gerar em Portugal a
propósito da entrada da Guiné Equatorial na CPLP, e que já nos custou
este ataque cerrado do Jornal de Angola, país
que tem defendido muito mais a língua portuguesa do que Portugal, com o
disparatado acordo ortográfico em que se meteu. Aqui abaixo, o Pedro chega ao ponto de dizer
que prefere a desintegração da CPLP a ver Obiang na mesa de honra. Só que
a CPLP é um dos mais importantes activos de que o país necessita para projectar
a sua influência no mundo e a Guiné Equatorial é muito mais do que Obiang. Não
se pode reduzir um Estado a um governante, a imitar Luís XIV, com o
seu L'État c'est moi.
Não
foi por ser governado por um ditador há décadas que Portugal foi impedido de
entrar na NATO ou na EFTA. Da mesma forma, não é o facto de ter um ditador
também há décadas que deve impedir a Guiné Equatorial de entrar na CPLP. Os
ditadores passam, e os países ficam. No fundo, foi uma falta de visão de futuro
semelhante que levou Portugal a não reconhecer o governo de Agostinho Neto
aquando da independência de Angola, gerando uma inimizade entre os dois Estados
que durou anos. O Brasil, passados cinco minutos depois da meia-noite de 11 de
Novembro de 1975, já tinha reconhecido o Governo de Agostinho Neto.
Portugal
também se obstinou em não querer deixar entrar a Guiné Equatorial, causando
estranheza geral em todos os outros países da CPLP. Viajo imenso por esses
países e há muito que me apercebi que a posição de Portugal não só estava
isolada, como acima de tudo não era compreendida. A missão das organizações é
ter sucesso e a expansão geográfica é uma forma de sucesso. Ora, a Guiné
Equatorial tem o maior PIB per capita de África e um índice de
desenvolvimento humano acima de outros países da CPLP, como a Guiné-Bissau ou
mesmo Moçambique. Há assim todo o interesse em que entre na CPLP, permitindo
que esta se torne uma organização económica forte, e não apenas cultural.
A
União Europeia foi chão que deu uvas, tendo atirado Portugal às feras
da troika. Só não tivemos uma crise muito pior devido ao investimento
angolano em Portugal. Não vejo por isso razão para Portugal acrescentar o facto
de ser pobre a ser mal agradecido, pondo-se contra todos os outros países da
CPLP, rejeitando a entrada de um novo Estado, cuja adesão é importante para a
organização.
A
Guiné Equatorial tem uma enorme importância em África, com o seu território
continental, Rio Muni, e as Ilhas de Bioko — onde fica a capital, Malabo —
Ano Bom, Corisco, e Elobey. Pode não ser um país lusófono, mas tem uma
forte influência lusíada. Como se pode ler aqui, o país foi descoberto por Fernando Pó em
1471 e permaneceu português até 1778, altura em que foi cedido à Espanha por
tratado. Há assim todo o interesse histórico em recuperar a influência
portuguesa no país, para o que este se mostra disponível. Tal até devia ser motivo
de orgulho para Portugal, que consegue recuperar influência num território que
abandonou por exclusiva decisão sua há 200 anos.
Não
se fala português na Guiné Equatorial? É um facto, mas também não se fala
português em Timor-Leste, mas sim tétum, não sendo o português sequer usado
como língua de comunicação. Na Guiné-Bissau, a língua de comunicação é o
crioulo, sendo o português pouco usado. Nos confins de Moçambique não consegui
falar português com ninguém. O que interessa é a história comum e essa existiu
durante mais de 300 anos. Os Obiang deste mundo passarão e os países e as
organizações ficarão, sendo importante que Portugal mantenha as suas relações
com os países da CPLP. Mais do que Realpolitik, o que se exige é visão de
futuro."
Aqui
fica o texto de Luís Menezes Leitão - advogado que não carece de apresentação -
publicado hoje, também no Delito de Opinião, no qual se analisa a questão da
adesão da Guiné Equatorial de modo pragmático. Apesar destes argumentos não conseguirem derimir o que penso, e que foi exposto, de forma talvez mais emotiva, no post anterior, julgo que vale sempre a pena ouvir e dar a conhecer outras vozes e outros argumentos!
HSC
é tudo teatro diz a cançao, pois talvez tenha havido uma ridicula encenação, tudo estava escrito e ensaiado, até o (falso) espanto de portugal, a olhar para o vazio, sem aplaudir, o outro a entrar dos bastidores e com o seu lugar à mesa reservado, e ninguem se perguntou para quem seria essa cadeira e microfone? sim, grande comédia...
ResponderEliminardeixem lá a guiné do equador e o seu chefe, a unica objecção possivel é que no país ainda não se fala português, tambem moçambique entrou para a commonwealth e não foi colónia inglesa! e já agora, que foi cavaco fazer lá se nem dilma foi, bastava coelho, ou o mne, sim que bem sabem representar surpresa e atrapalhação, mas que grande farsa, etc etc
Entendo !
ResponderEliminarO interesse económico sobrepõe-se aos Direitos Humanos !
Uma palhaçada, é o que é...
Melhores cumprimentos.
O que tem de mais apelativo a Guiné Equatorial é, sem sombra de dúvida, o petróleo.
ResponderEliminarQuerida Helenamiga
ResponderEliminarLuís Menezes Leitão pode ser um advogado que não carece de apresentação mas mostra-se neste texto o advogado do Diabo.
Por mal dos meus pecados, há seis anos, mais coisa, menos coisa, estive na Guiné Equatorial, acompanhando um amigo espanhol que ali tentava ter negócios.
Fui apenas porque ele me convidou sabendo da minha experiência sobre África e porque o castelhano é a minha segunda língua.
Do que vi nem queria lembrar-me. PIB? E a pena de morte? Petróleo? E a censura? Gás? E a PIDE de lá?
Desenvolvimento humano? Não vi. Vi, sim, um país com tamanho grau de corrupção que uma pessoa importante do círculo de Teodoro Obiang me perguntou quanto eu lhe dava para entrevistar o deus/presidente. Sublinho: fui eu quem viveu essa criminosa situação.
Por isso penso que a CPLP devia passar a chamar-se CPLPP; o último P é Petróleo.
Cavaco & Coelho foram fazer figura de urso? Parece-me que sim, mas urso pecador, ups, pescador.
Qjs
Encenações com objectivos que escapam a muitos, tal como a mim que não percebo nada, apenas sei que "as riquezas de África" sempre foram o maior "manjar do vale tudo" por parte de Salazar e os respectivos sucessores até à actualidade, porque o petróleo, um dos ingredientes desse manjar falam sempre mais alto.
ResponderEliminarQuero lá saber da entrada da Guiné Equatorial na CPLP (é o único ditador que consta da lista dos estados?), quero sim é saber quando é que deixa de haver corruptos, quando começa a justiça a funcionar, a educação e a educação a melhorar e sobretudo empregos para todos de forma a não haver fome e miséria.
Toda esta encenação é para nos desviar dos graves problemas internos, e quem foi, aproveitar umas férias à custa dos nossos impostos.
Tenho imensa pena de não ir integrada na comitiva que também foi a Angola, mas aí já não voltaria:):):):)
Um abraço Dª. Helena e um bom fim de semana!
O próximo a entrar pode ser o Gabão ! Tem um presidente "liberal" para as várias crenças, um regime (policiado) pelo menos de fachada democrática, tem a cooperação da C.Europeia em projectos de desenvolvimento ( juntamente com S.Tomé e a G.Equatorial ), fala Francês... e também tem petróleo ! Sei do que falo. MªAugusta Alves
ResponderEliminarDepois de ler os dois textos fico com aquela: "Nem tudo é o que parece"...Os governantes morrem, os países ficam...A final também já andamos por lá anteriormente!
ResponderEliminarEntretanto naquela zona é assim :
ResponderEliminarhttp://www.icc-ccs.org/piracy-reporting-centre/live-piracy-map
jonavigator
Cara Helena:
ResponderEliminarComo diz um comentador seu anónimo, "já andámos por lá". A Língua é a melhor e a mais pacífica arma e "as ditaduras passam mas os países ficam". Se falarmos exclusivamente de de Direitos Humanos (que deveríamos falar), então teríamos de cortar relações com Israel e com muitos outros…
Raúl.
Bom dia
ResponderEliminarDesconheço o Dr.LML, por isso, pesquisei-o na Google.
A interpretação que o Dr. LML faz da reação geral da opinião pública e do facto em si é bastante subjectiva. Assim como a minha.
E tem tanto de visão de futuro como eu de dinheiro na minha conta bancária: “nickles”!
Irá Portugal recuperar alguma influência em território africano?!? Portugal, enquanto país europeu, é apenas uma porta de entrada no mundo ocidental, ou seja, a tal porta que alguns países da CPLP precisam para projectarem a sua influência no mundo, nada mais.
Financeiramente, somos praticamente governados por eles, deixam-nos sentar na cadeira principal e brincam connosco como se fossemos marionetas, só não tratam (por cá e ainda) o povo português como tratam o deles, porque temos uma União Europeia por trás, caso contrário, voltaríamos ao passado, mas com mais fome e miséria.
Acho, permita-me, histérica a afirmação de que a Guiné Equatorial tem o maior PIB per capita de África e um índice de desenvolvimento humano acima de outros países da CPLP. Não que em si a afirmação não seja objectiva, a praticabilidade é que é duvidosa ...
A CPLP é uma organização económica, está visto, mas a sua origem cultural deve implicar a adopção de medidas económicas e financeiras, e consequente tomada de acções, cujos objectivos sejam o desenvolvimento humano e social dos povos. A CPLP não pode acentuar as diferenças entre os povos e tornar os ricos mais ricos.
Discordo totalmente da opinião (vencedora) do Dr. LML. E nem por isso estou histérica ou até humilhada. Desapontada, certamente.
Um dia, talvez as posições se invertam e as decisões que governam a vida dos povos venham a ser tomadas por pessoas humanas, não por pessoas superPowermoney!
Cumprimentos,
Cláudia