sábado, 31 de maio de 2014

Do virtual ao real


No meio desta aventura que é a blogosfera, ganhei alguns amigos. Ontem decorreu um animadíssimo jantar que me juntou com quatro comentadores habituais deste blogue. Falámos de tudo o que aqui se ventila, contámos peripécias da vida de todos nós, abordámos a política nacional, comemos bem e bebemos melhor.
Sempre gostei de conhecer pessoas quando lhes sinto afinidade intelectual ou afectiva. Era o caso, uma vez que, individualmente, eu já tinha tido oportunidade de conhecer todos nos meus lançamentos. Mas entre si só se conheciam dois a dois, o que tornou o encontro muito divertido.
Acabaríamos às duas da madrugada com uma verdadeira surpresa. Um dos participantes havia deixado as luzes do carro ligadas e por isso a bateria fora à vida. Salvou-nos um previdente comentador que tinha no seu carro tudo o que era necessário para carregar a bateria. A segunda surpresa havia de chegar quando, passados 20 minutos sobre esta contastação, verificámos que o empregado do parque de estacionamento pese embora tivesse sido informado  do que se passava decidiu, sem avisar ninguém, ir-se embora e deixar-nos fechados no parque...
Enfim, uma aventura digna dos tempos que atravessamos, em que o profissionalismo e a solidariedade perante uma situação inesperada não existem e um empregado resolve sair sem cuidar de dar qualquer ajuda ou se importar com o que pudesse acontecer-nos. Pelo menos não conseguiu estragar-nos a alegria do jantar...nem evitar que a amizade virtual que já nos unia, se tornasse um pouco mais real!

HSC

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Carta a um irmão político


"Ainda me lembro da noite em que ouvi pela primeira vez a palavra sectário. Devia ter aí uns catorze ou quinze anos e não fazia a mínima ideia do que aquilo queria dizer. Mas pelo ar com que empregavas a expressão, não devia ser coisa boa. Aliás, inserida na frase "os seus amigos sectários...", não podia mesmo ser coisa boa. E pela cara com que o nosso pai a recebia, a coisa não era mesmo boa. Como militante do PCP que o pai era há décadas, ele já devia ter ouvido esse ataque umas mil vezes. Como militante socialista que tu eras há uns sete ou oito anos, já a terias proferido algumas vezes.
Não sei se era coisa da faculdade de Direito onde andavas, com a JS e a JCP a disputar a Associação de Estudantes como se fosse a coisa mais importante do mundo, se eram assuntos mais vastos da esquerda, daqueles que ainda hoje ocupam a cabeça de tanta gente, sem progresso ou resultado aparente. Sei apenas que olhava para vocês com admiração pelo empenho com que discutiam, mas sempre com a impressão de que gostava muito mais de assistir do que participar. Às vezes, o meu tio João juntava-se às discussões, e como militante da primeira hora do PSD, fazia com que tudo aquilo se tornasse num diálogo ainda mais interessante e ainda mais impossível. Cresci a ver e a ouvir isso e não tenho dúvidas de que vocês os três, cada um com a sua dose, são responsáveis parciais pelo que acabou por ser o meu trabalho. Foi um treino forçado, mas intensivo.
Passaram trinta anos. Tu nunca largaste a política nem o PS. O meu tio João morreu no ano passado com as quotas e o fervor pelo PSD em dia. E o pai, claro, morreu sem nunca deixar o PCP, apesar de todas as dúvidas a que fomos assistindo, de ter votado como votou no Congresso do Porto - acho que ao lado do Miguel Portas - e de tudo o que se passou nos anos seguintes, com alguns dos melhores amigos dele a saírem do partido. À maneira dele, lidou bem com isso. Manteve os amigos e nunca confundiu as coisas. Lembro-me do desgosto que ele teve quando o Lima de Freitas apoiou o Freitas do Amaral em 1986. Mas lembro-me ainda melhor de como, ano após ano, eles os dois mais o David Mourão Ferreira, conversavam noite fora na Praia do Carvoeiro, esquecendo as divergências políticas e lembrando tudo o que os unia e divertia.
ANDÁMOS E ANDAMOS EM BARRICADAS DIFERENTES. E É ASSIM QUE TEM QUE SER. TEMOS A VANTAGEM DE SABER QUE NUNCA TEREMOS DE FAZER UM FRENTE A FRENTE, MAS TEMOS A DESVANTAGEM DE SABER QUE O EXPRESSO TE VAI CAIR EM CIMA DE QUANDO EM VEZ E QUE TU VAIS TENTAR CAIR EM CIMA DO EXPRESSO                                                                               

Podia seguir página abaixo, com exemplos destes. Mas lembro apenas mais um, quando o pai ficava tardes à conversa com a Helena Sacadura Cabral, que encontrava quando ia almoçar a um pequeno restaurante nas Janelas Verdes. E só lembro isso porque, além das óbvias divergências políticas deles e da ainda mais óbvia amizade, a Helena tinha em casa um problema bicudo, aquele que todos os portugueses conhecem, o do Paulo e do Miguel Portas. E só lembro isto, porque na terça-feira à noite, pouco tempo depois de termos falado pela primeira vez ao telefone - já tu eras candidato e já eu tinha posto o meu lugar no Expresso à disposição da administração e da redação -, a Constança Cunha e Sá ligou-me a a dizer "ouve lá, vocês só têm que fazer como o Paulo e o Miguel".                                                                           
Constança não podia ter sido nem mais genuína nem mais simpática. Mas não sei se a coisa é assim tão simples, muito menos se é mais mais fácil ou difícil. Eles foram jornalistas mas foram sempre políticos. Tu nunca foste jornalista e eu nunca fui político. Andámos e andamos em barricadas diferentes. E é assim que tem que ser. Temos a vantagem de saber que nunca teremos de fazer um frente a frente, mas temos a desvantagem de saber que o Expresso te vai cair em cima de quando em vez e que tu vais tentar cair em cima do Expresso. Não sei se vai haver Congresso e não faço a mínima ideia se o vais ganhar. Mas sei que agora é diferente.                                                                 
Expresso já teve um desafio maior pela frente, quando Francisco Balsemão foi para o governo e depois para primeiro-ministro. O jornal passou com distinção na prova. Foi impiedoso, às vezes demais, e fê-lo com estilo e com estrondo. Não gosto de falar em nome da redação onde trabalho, mas conhecendo os meus colegas, sei que não lhes passa pela cabeça fazer alguma coisa diferente. Presumo que estejas preparado para isso. Eu estou. Ou melhor, vou estando.                         
Outro dia, na homenagem que fizeram ao pai na Casa de Goa, o Vasco Vieira de Almeida lembrou, como só ele é capaz de o fazer, como o pai combinava a ortodoxia marxista com uma permanente discussão de tudo e com todos. Sei que ele ia ficar aflito ao ver-nos chocar. Mas não ia esperar outra coisa de nós. Se alguma coisa correr mal, podemos pedir ao Vasco para arbitrar. Boa sorte."                                                                                                                                                                     

Julgo poder dizer que compreendo muito bem esta carta de Ricardo Costa. E se a coloco aqui não é pela referência que nela me faz, mas porque ele revela que as famílias ainda são um património que importa salvaguardar. Aos dois a melhor sorte!                                                                                                                                                          

HSC  

Um tema actual


Quem me lê sabe a estima que tenho pela Dra Isabel Galriça Neto e a admiração que nutro pelo seu trabalho. Por isso chamo a vossa atenção para a Conferência e debate que a Universidade Católica vai levar a cabo, na Praça laranja na Feira do Livro, sobre Cuidados Paliativos, que se realizará no dia 1 de Junho, pelas 18:00h. Serão oradores o Prof. Manuel Luis Vila Capelas e a Dra Isabel Galriça Neto.

HSC

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Reflectindo


A esquerda socialista venceu as eleições em sete dos 28 países que integram a União Europeia: Eslováquia, Itália, Lituânia, Malta, Portugal, Roménia e Suécia. Mas só em Malta, Itália e Roménia a votação nos socialistas foi superior à do PS, como se deduz do quadro abaixo.

Alemanha - Partido Social Democrata: 27,3%
Áustria - Partido Socialista Austríaco: 24%
Bélgica - Dois partidos socialistas (francófono e flamengo): 19%
Bulgária - Partido socialista KB: 18,5%
Chipre - Partido Democrático: 10,8%
Croácia - Partido Social Democrata: 30%
Dinamarca - Partido Social Democrata: 19,1%
Eslováquia - Partido social-democrata SMER: 24%
Eslovénia - Partido Social Democrata: 8%
Espanha - Partido Socialista Operário Espanhol: 23%
Estónia - Partido Social-Democrata: 13,6%
Finlândia - Partido Social Democrata: 12,5%
França - Partido Socialista: 14%
Grécia - Oliveira (coligação de PASOK e aliados): 8%
Holanda - Partido Trabalhista: 9,4%
Hungria - Partido Socialista Húngaro (MSZP): 10,9%
Irlanda - Partido Trabalhista: 5,3%
Itália - Partido Democrático: 40,8%
Letónia - Partido Social Democrata: 13%
Lituânia - Partido Social Democrático da Lituânia: 17,3%
Luxemburgo - Partido Operário Socialista Luxemburguês: 21,6%
Malta - Partido Trabalhista: 53%
Polónia - Aliança Democrática de Esquerda: 9,4%
Portugal - Partido Socialista: 31,5%
Reino Unido - Partido Trabalhista: 25,4%
República Checa - Partido Social Democrata Checo: 14,2%
Roménia - Partido Social Democrata: 37,6%
Suécia - Partido Social Democrata: 24,5%


O PS de François Hollande ficou reduzido a metade da percentagem da Frente Nacional. Milleband, ficou-se pelos 25% no Reino Unido. E o PSOE afundou-se de tal modo que provocou fissuras na direcção e não conseguiu capitalizar dois anos de feroz oposição a Rajoy. A completar o SPD alemão não ultrapassou os parcos 27%. Não seria, assim, fácil a Francisco Assis ter feito melhor num cenário de dispersão de votos.
Ferro Rodrigues alcançou 44% em 2004, mas os tempos eram de tal modo outros que seria difícil a um Marinho e Pinto emergir, então, com esta força. Nem, claro, o Podemos, saído das redes sociais, surgiria alguma vez como a quarta força mais votada em Espanha e a terceira em Madrid ou o Beppe Grillo chegaria a um quarto dos votos em Itália.
O problema mais grave e mais fundo é aquele que decorre das duas principais famílias políticas europeias estarem gravemente feridas e os egoísmos nacionais terem feito erguer as suas vozes.
A cura, se existir, dificilmente virá dum homem, por mais  carismático que ele seja...porque o tempo não está para milagres!


Este texto é uma reflexão sobre o original, postado por Pedro Correia no blog Delito de Opinião, o qual se torna particularmente oportuno neste tempo de clarificação de águas no PS.
Prefiro António Costa a Seguro. Mas eu não sou socialista e, por isso, a minha visão tem o enfoque do cidadão comum que se sente mais próximo de um estilo do que de outro.
Temo que a clarificação que se impõe aos socialistas os enfraqueça, numa altura em que o país carece de uma oposição que seja, se os portugueses o desejarem, alternativa ao governo.

HSC

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Antes de ler, vê o que dizes!


Como é que se anuncia o voto favorável a uma Moção de Censura ao Governo, de iniciativa do PCP, sem antes se ter lido o texto?
Depois do anuncio feito, como é que os Deputados do PS vão subscrever o parágrafo que afirma "o retrocesso económico e social a que conduziu a política de direita executada nos últimos 37 anos por sucessivos governos"?!

             (ideia roubada a André Couto, no Delito de Opinião)

De facto aqui está uma pergunta de muito difícil resposta. Como difícil me parece apoiar algo cujo conteúdo se desconhece. 
As gentes da política partidária ficaram perturbadas – todas – com os resultados eleitorais. Não há duvida!


HSC

Uma homenagem


Três anos após a sua morte, Maria José Nogueira Pinto tem, desde ontem, um monumento que a homenageia na Ribeira das Naus.
Da autoria de Rui Sanches, o monumento é uma casa por concluir, com uma janela com vista sobre o Tejo, símbolo da obra inacabada da antiga vereadora da CML e da sua paixão pelo serviço público e pela cidade.
HSC

Dois erros de Seguro


Seguro cometeu, a meu ver, dois erros lapidares. O mais recente foi prometer que iria repor pensões e não aumentar os impostos.  O segundo, há pouco menos de um ano, foi o de não aceitar a proposta de Cavaco Silva para subscrever um acordo com o PSD, que tinha como contrapartida a antecipação das legislativas para 2014. Se assim  não tivesse acontecido, António José Seguro podia estar neste momento em São Bento como primeiro-ministro. E não no Largo do Rato a viver uma dificílima crise interna.                                                                    
A hostilização de Cavaco só se explica pela vontade de agradar aos seus detractores no partido. Ora é precisamente esta ala interna - que teve de tolerar Seguro mas nunca, de facto, o aceitou - que, agora, julga ter chegado o momento do PS e do seu líder cumprirem o seu destino.  O primeiro, sob outra batuta, de alcançar uma maioria absoluta nas próximas legislativas. O segundo, de ir viver a sua vida!

HSC