terça-feira, 15 de abril de 2014

Somos uns epitetólogos*

Os que me conhecem sabem que não alinho em partidarites, sejam elas de que natureza forem. Não posso, não consigo. Só tenho uma cabeça e só por ela me guio, embora goste muito de ouvir opiniões diferentes das minhas.
Mudo muito? No básico, pouco. Mas no olhar que lanço sobre o mundo que me rodeia mudo sempre que reconheço aos outros a capacidade de me convencerem. Não tenho qualquer pejo em me declarar errada e dar conta pública disso - se for o caso -, porque duvido que alguém se mantenha inalterável ao longo dos anos.
Mas procuro sempre não qualificar, não apelidar, não fazer juízos de valor sobre o adversário, que tento não considerar um inimigo. Enfim, sou o que se apelida de uma pessoa educada. Aprendi isso ao longo da vida com a diversidade ideológica que caracterizou sempre a família onde nasci. Do lado materno nove irmãos, do lado paterno doze. Tudo gente que pensava por si e deu exemplo de respeito pelas cabeças dos outros.
Lembrei-me disto a propósito dos quarenta anos da revolução de Abril. Muitos já nasceram depois dela e por isso o que sabem é o que lhes transmitem os seus, o ensino ou a investigação. Os restantes, que a viveram, continuam, quatro décadas depois, a usar, para qualificar os que não pensam como eles, termos cujo significado já pertence à história da carochinha.
De facto, quem em 1974 tivesse 20 anos, terá agora 60. Haverá alguma lógica em epítetar estas pessoas pelo que eram na sua juventude? Será que em quatro dezenas de anos não teremos todos mudado muitíssimo?
Fico sempre muito impressionada quando leio a opinião de gente que ocupou cargos de responsabilidade, qualificar da forma mais deselegante, quem não pensa do mesmo modo. Mas se alguém quer levar o outro a mudar de opinião, será pela agressão verbal que o conseguirá?
Vamos entrar numa campanha europeia que devia ser esclarecedora daquilo que está em causa para Portugal e para a Europa. Já estão todos engalfinhados a fazer propaganda para... as legislativas. E depois, admiram-se da abstenção!
Os portugueses podem não ser os mais instruídos da Europa, podem não ser muito politizados, podem até ser instrumento partidário. Mas a maioria deles tem um enorme bom senso e sabe o que quer. Sabe castigar e sabe louvar. Basta que pensemos neles e no país, muito antes de pensar na ambição política. E isto vale tanto para o governo como para a oposição.
Ah! e sejam educados, por favor. Dêem um exemplo de civilidade e de cidadania!

HSC

* Não sei se a palavra existe. Mas se Assunção Esteves cria, eu também posso fazê-lo!

7 comentários:

  1. Subscrevo as suas palavras.
    Há uma grande falta de respeito
    em Portugal. Também na classe
    política e nos jornalistas ou
    reporters. Não são a favor que
    políticos falem em qualquer sitio,
    com muitos ruídos por vezes.
    E quer se goste ou não, não aceito
    que se dirijam ao Presidente da
    República como Cavaco Silva, ao
    Primeiro-Ministro como Passos Coelho, etc. etc. e que quando se
    faz uma pergunta a alguém(para
    reportagens televisivas)nunca
    se termine dizendo obrigada.
    Bj.
    Irene Alves

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  2. Ontem um jornalista da televisão acabava as suas perguntas aos ex-Presidentes da República que foram à Gulbenkian com um simpático "desculpe lá a chatice!". Não era que fosse antipático, mas ... haja maneiras!

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  3. Drª Helena,

    Concordo consigo em pleno. Sou das gerações pós 25 Abril (35 anos) e durante a minha adolescência e juventude sempre ouvi a célebre frase " se tivesses nascido antes do 25 Abril é que ias saber, ser, fazer, dar valor ..etc" ou seja não estando ao meu alcance lá estava eu e a minha geração a ser epítetada (não sei se existe)! Portanto entendo perfeitamente a extensão do post.
    Agora que sou mãe de rapazito de 3 anos sou apelidada de mãe dura, retrógrada e racional, porque o obrigo a dizer "obrigada" e "por favor" em ambiente social/familiar e não permito que vire as costas até a conversa ter terminado, definição para mim de educação.
    Mas realmente não gosto nada do facilitismo, dos rótulos, da leviandade dos actos e das palavras por parte de quem devia dar o exemplo!
    A fronteira da educação e do bom senso ou desapareceu ou foi parar a outra dimensão.
    Um abraço,
    Isabel Correia

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  4. O civismo passa de facto pela educação. Que muita gente não tem... E que não é sinónimo de instrução.
    Nas televisões assiste-se todos os dias a um espectáculo lamentável e bacoco (uns são «professores» dito com subserviência, outros são tratados por «dr. + o primeiro nome, outros só pelo primeiro nome ou apelido, com um ar de intimidade que é só má educação), para além de que, por exemplo (e não tem nada a ver com gostar) a chanceler Merkel (equivalente a um Primeiro Ministro) é licenciada e doutorada em universidades a sério, podem ver na biografia na net... Enfim, para não falar do registo na casa da Democracia... É o país que temos e que é triste, não só por causa da crise económica.

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  5. Tinha 27 anos quando se deu o 25 de Abril.
    Dum dia para o outro éramos todos comunistas ou de extrema esquerda, tudo menos fascistas, salazaristas ou estado novistas.
    Queríamos mudar, pensávamos que era só mudar as mentalidades e os métodos.

    Na escola Mªa Amália foi o caos e eu fazia parte da comissão de gestão, que era composta de pessoas com tres ou quatro cores diferentes. Dávamo-nos bem e conseguimos que não se fizessem razias ou condenações de professores por meia dúzia de catraios que da vida nada sabiam.
    Foi uma escola para mim, mas deixou-me marcas profundas. Em um mês vi bem o que era o comunismo, tão implacável nos seus métodos quanto os pides que os perseguiam.
    Nunca mais me esqueço do ano 1974-75, foi o mais instrutivo da minha vida.
    Politicamente, claro.
    Hoje não julgo ninguém, mas tb não acredito na boa-fé da maioria.

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  6. "Fascista" fez uma obra notável - a ponte Salazar - que os comunistas apelidam de ponte 25 de Abril.
    Fácil para estes fazer história,só trocar a placa,difícil é a construção,nada custa a ocupação do que está construído.
    Enfim! Coisas da "Liberdade dos compadres".


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