"Os "analistas políticos" portugueses detestam ministros das Finanças e adoram ex-ministros das Finanças.
No dia em que se demite ou é exonerado do Governo, um ministro das Finanças deixa de ser a pessoa mais incompetente deste país para se tornar um oráculo dos tempos que virão e um poço de sapiência não só a nível financeiro mas também político.
Ganha imediato lugar cativo na televisão e todos procuram beber os seus conselhos.
É raro o dia em que não desfilam nas pantalhas ex-ministros das Finanças deste rincão: Silva Lopes, Medina Carreira, João Salgueiro, Miguel Cadilhe, Miguel Beleza,Braga de Macedo, Eduardo Catroga, Pina Moura, Manuela Ferreira Leite, Bagão Félix, Campos e Cunha - e agora até o extraordinário Teixeira dos Santos. Um deles, Cavaco Silva, é Presidente da República. Outro, Guilherme d' Oliveira Martins, preside ao Tribunal de Contas. Outro ainda, Vítor Constâncio, é vice-presidente do Banco Central Europeu.
Este país, como nenhum outro, aprecia "magos das finanças". Desde que já não estejam, na ala nascente do Terreiro do Paço, ao serviço da coisa pública.
Num impulso tão fatal como o regresso das andorinhas na Primavera, há já por aí,a pretexto de um livro, um movimento destinado a "regenerar" Vítor Gaspar aos olhos da opinião pública. E a carta de resignação do antecessor de Maria Luís Albuquerque não cessa de ser apresentada como peça de excelência até por alguns que foram seus encarniçados adversários políticos.
Lamento, mas não dou para este peditório. Se alguma coisa a carta de Gaspar revela é a sua inaptidão para estar ao leme das finanças em tempos de excepcionais dificuldades e de irrepetíveis exigências aos principais titulares de funções públicas. Governar com estados de alma, sem a noção de que a política em democracia não funciona por diktakt mas exige negociação permanente, e abandonar o barco quando os ventos adversos sopram mais fortes: eis o que Gaspar revelou, a 1 de Julho de 2013, com o seu teatral gesto de renúncia.
Aparentemente, não soube sequer interpretar os sinais de que não estávamos à beira de um segundo resgate nem mergulhados numa "espiral recessiva", como insistiam os seus mais obstinados opositores. Nem soube antecipar o novo estatuto de "herói surpresa da zona euro" que o exigente Financial Times já atribui a Portugal: por ironia, os primeiros sinais de optimismo nas finanças públicas aconteceram já depois da sua saída.
Mas não me surpreende minimamente que o vejamos muito em breve como comentador permanente num canal de notícias. Acaba de nascer um novo oráculo. Que merecerá o mesmo interesse que reservamos aos outros ex-ministros das Finanças. E também ao vetusto Frei Tomás: faz sempre o que ele diz, nunca faças o que ele faz."
(Pedro Correia no blog Delito de Opinião)
Quando alguém diz o que nós pensamos e melhor do que nós diríamos, o mais correcto é dar-lhe a palavra. Foi o que fiz.
HSC
Este comentário revela aquilo que também eu gostaria de ter escrito. Fico triste e, até, com um certo enjoo, quando dou pela falta de rigor e de personalidade de alguns compatriotas. Como é possível que a memória seja tão curta... :(
ResponderEliminarHá muito tempo que os seus posts me pareciam menos interessantes ( para mim, claro), mas hoje tiro-lhe o chapéu, gorro, carapuço, barrete e todos os demais.
ResponderEliminarEste post é uma obra prima e só o trabalho exaustivo de enumeração das vetustas e cifrónicas criaturas do nosso detestável painel político vale um óscar da blogosfera!
Faz-me lembrar um conto de Heinrich Boll que li na FLUL e que se chamava Die unerzalhlte Geliebte, ( a amada que não poderia ser contada como um algarismo), que procura demonstrar como as pessoas que amamos não podem virar números sob pena de as nossas políticas esmagarem a espécie humana e ignorarem as suas necessidades.
Desculpe este relambório, mas gostei mesmo!!
Obrigada a este senhor por expor com tanta sabedoria o que vai na alma de tantos e tantos portugueses. Um belíssimo porta voz de todos nós. Parabéns a este senhor e obrigada também a Doutora Helena por o ir pescar ao seu blog
ResponderEliminarNo meu entusiasmo com a prosa do seu post, nem reparei que era uma citação. Não deixa de ser uma magnífica crítica ao estado ( financeiro e psíquico) da nação.
ResponderEliminarObrigada, Helena!
Blog encantador,gostei do que vi e li,e desde já lhe dou os parabéns, também agradeço por partilhar o seu saber, se desejar visitar o Peregrino E Servo, ficarei também radiante
ResponderEliminare se desejar seguir faça-o de maneira que possa encontrar o seu blog, porque irei seguir também o seu blog.
Deixo os meus cumprimentos, e muita paz.
Sou António Batalha.
Partilhei, com a devida vénia!
ResponderEliminarJá tinha lido no Delito de Opinião e voltei a reler...posso subscrever? Já está:)
ResponderEliminarQuando os nabos aparecem bonitinhos no nabal, primeiro tiveram que ser semeados e bem adubados...e à custa de quem? O FT nunca se engana e raramente tem dúvidas...
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