sexta-feira, 15 de março de 2013

É Fernando Rosas, Senhor!


"O Bloco de Esquerda consegue marcar presença em qualquer debate televisivo: só falta mesmo vê-lo envolvido também nas discussões para a eleição do novo presidente do Sporting.
Ontem à noite, num canal televisivo, lá vimos o professor Fernando Rosas - um dos quatro fundadores do Bloco - perorando numa dessas tertúlias televisivas a propósito, vejam lá, da eleição do novo Papa. Começou logo, sem rodeios, por declarar-se ateu - o que em princípio não o recomendaria a estar presente num debate entre quatro pessoas sobre a Igreja: num país que tem vários milhões de católicos, certamente não foi por falta de alternativas que ele ali estava, nos estúdios da TVI - uma televisão que noutros tempos chegou a proclamar-se devota da fé cristã. Se o mesmo critério for aplicado num futuro debate sobre o próximo líder do Bloco de Esquerda (Deus conserve a liderança bicéfala de Catarina Martins e João Semedo por muitos e bons anos), não ficarei surpreendido por ver em estúdio alguém que esteja para a política como Rosas está para a religião.

O que disse neste debate o mais famoso ex-fumador de cachimbo da esquerda portuguesa? Nada que não se previsse: o Bloco impõe o seu caderno reivindicativo em todas as circunstâncias - e como tal, enquanto "cidadão do mundo", Rosas apressou-se a enunciar o seu ao Papa, chefe de uma religião em que não crê.
Para merecer a indulgência do ilustre historiador, o ex-arcebispo de Buenos Aires terá de cumprir a agenda bloquista em matéria religiosa, isto é: pronunciar-se contra o "capitalismo selvagem e a irracionalidade neoliberal", assumindo-se como "um Papa dos oprimidos".
Mas, despido de paciência evangélica, Rosas não perde tempo a lançar um anátema sobre o sucessor de Bento XVI, do alto da consabida superioridade moral que serve para qualquer militante bloquista encarar o mundo. Ele, que duas horas antes talvez nem tivesse alguma vez ouvido falar em Jorge Mario Bergoglio, já estava ali na pantalha a dardejar o seu verbo inflamado contra o pontífice recém-eleito: "O passado dele não é muito animador. Observo com reserva um Papa que foi duro com Kirchner e mole com a ditadura."

Se tivesse esperado um pouco mais, se soubesse informar-se melhor antes de se pronunciar sobre o que ignora, o professor Rosas teria lido a declaração de Adolfo Pérez Esquivel, o prestigiado Nobel da Paz argentino, que em declarações à BBC não deixa lugar a dúvidas: "Bergoglio não teve nenhuma ligação à ditadura." 
Abalará esta declaração as flamejantes certezas dos censores morais? Certamente que não. Podem proclamar-se ateus, como Fernando Rosas, mas adoram pregar no púlpito. Nunca se enganam e raramente têm dúvidas."


Este texto é de Pedro Correia e foi publicado hoje no blogue colectivo Delito de Opinião, a que também pertenço. Por dizer melhor do que eu diria, o que senti quando assisti ao programa, permito-me publica-lo. De facto, já não há paciência para certo tipo de intervenções. É caso para dizer que quem muito fala pouco acerta...

HSC

21 comentários:

  1. Pessoalmente, já não tenho paciência para ouvir o Prof. Fernando Rosas e acho que era previsível que não trouxesse nada de interessante a um debate sobre o Papa recém-eleito.

    Mas será assim tão diferente de ter um qualquer elemento da hierarquia da religião católica num debate televisivo sobre, por exemplo, o casamento homossexual? Afinal, o religioso tem um compromisso com a sua instituição que o obriga a abstinência e celibato: ao ir para a televisão ou para qualquer outro orgão de imprensa manifestar a sua opinião no sentido de impor a sua agenda moral católica (que tem todo o direito a ter e defender, se é isso em que acredita) a algo que nem o afecta directamente é realmente diferente do ateu Prof. Fernando Rosas tentar impor a sua agenda bloquista em matéria religiosa ao novo Papa?

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  2. Cara M. Xavier
    Um padre a falar de homossexualidade veicularia a posição da Igreja sobre o assunto.
    Julgo que o Prof. Fernando Rosas não terá uma posição oficial que não seja a de ateu.
    Possivelmente o ideal seria escolher para qualquer questão alguém que fosse um comunicador isento. Penso eu. O que nem um nem outro, seriam!

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  3. Já tinha lido o texto do Pedro no "Delito" e concordo consigo, Helena...
    É que já não há pachorra para a meia dúzia de comentadores das nossas televisões que se permitem dar opinião sobre tudo e mais alguma coisa. E ganhar dinheiro com isso...
    É mesmo como diz: "quem muito fala pouco acerta". Enfim...

    Beijinho
    Isabel Mouzinho

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  4. A ´velha senhora' é ateia (como o Fernando Rosas) mas rimalha (pateticamente, sempre) sobre aquilo que conhece: mulheres. Talvez tenha nesse blogue cabimento (apesar da irreverência que é seu, dela, apanágio):

    "Las mujeres son naturalmente ineptas para ejercer cargos políticos". "Las Escrituras nos demuestran que la mujer siempre es el apoyo del hombre pensador y hacedor, pero nada más que eso".
    A velha senhora leu as declarações de 2007 do cardeal Bergoglio, hoje papa Francisco, e passou-se:

    diz o papa chico esperto
    - olhem-me o sumo estupor -
    que a mulher é ser inepto
    pra exercer seja o que for
    na política: não é repto
    pra macho 'hombre pensador'
    deve é dar-lhe apoio e afeto
    que só ele é 'hacedor'

    diz que a escritura o disse
    mas que suma cabronice

    chico é contra qualquer ela
    a favor só do videla
    a quem dava a comunhão?
    olhem-me o sumo cabr - perdão- pontífice

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  5. Que belo texto, parabéns a quem o escreveu e a si que no lo deu a conhecer!
    Diz a sabedoria popular: " quem muito fala pouco acerta". É o caso se bem me parece pelo menos neste assunto...

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  6. "Il y a des gens qui parlent, qui parlent... jusqu'à ce qu'ils aient enfin trouvé quelque chose à dire".

    Sacha Guitry

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  7. Cara Helena,

    De facto, é diferente ser mandatário da posição oficial da Igreja e falar a título individual como ateu. Mas, pergunto eu, não havendo uma instituição oficial de ateus, de que outra forma os ateus farão ouvir a sua voz salvo a título individual?

    Apenas chamava a atenção para o facto de, dado que a Igreja manifesta a sua posição oficial em assuntos da sociedade civil (e muitas vezes com grande ignorância sobre os mesmos; veja-se a posição sobre o uso do preservativo), elementos da sociedade civil (muitas vezes igualmente ignorantes sobre a Igreja) também manifestam a sua posição sobre assuntos oficiais desta instituição.

    Ou seja, ao reconhecer - como eu reconheço - que a Igreja faz parte da sociedade civil e, como tal, pode dar a conhecer publicamente as suas posições oficiais sobre todos os assuntos que afectam os indivíduos da sociedade civil, teremos que aceitar que elementos individuais da sociedade civil manifestem publicamente as suas opiniões sobre a Igreja, por muito que isso resulte em tristes intervenções como a do Prof. Fernando Rosas.

    Claro que, se alguma vez o Prof. Fernando Rosas tiver criticado a Igreja por intervir no debate público sobre qualquer questão, ter ido 'atirar bujardas' pouco informadas sobre a Igreja para a televisão a propósito do Papa Francisco - e ganhando dinheiro com isso - seria demasiado hipócrita. Mas isso já seria outra questão...

    Maria Xavier

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  8. Cara Helena,
    Eu sublinho com um: Terra onde não há pão, todos ralham e ninguém.... isso mesmo.

    Obrigada

    HC

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  9. Cara Velha Senhora
    Aconselho-a vivamente a que beba menos.
    Ou fique só a chá, que, esse, nunca é demais.

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  10. Cara dra. HSC
    Logo que dei conta do seu comentário, há cerca de meia-hora, telefonei à 'velha senhora', que, coitada, continua a não se entender com a 'net'. Imagino que não estará (ainda?) demasiado tomada, pois acaba de me ditar já a resposta:

    reconheço bebo muito
    e chá também pode crer
    mas não perdoo o intuito
    venha ele de quem vier
    por maldoso e não gratuito
    de amesquinhar a mulher

    muito me admira que a amiga
    condene qualquer tolice
    a seja quem for que a diga
    menos ao papa que a disse

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  11. Caro Anónimo das 21:06
    Lembre a Velha Senhora que Schopenhauer no "Über die Weiber", também considerou que "está na natureza da mulher obedecer" e se opôs ao poema em honra das mulheres de Friedrich Schiller, "Dignity of Women"...

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  12. Já não há pachorra para esta gente que opina sobre tudo.

    Há pessoal que tem assinatura vitalícia na TV!

    Isabel BP

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  13. Esta “velha senhora” decididamente passou-se!
    P.Rufino

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  14. A velha senhora persiste:

    boa amiga grande helena
    mulher de armas sem dislates
    os grandes sei que os condena
    quando digam disparates
    contra a mulher mãe de todos
    um schopenhauer ou um papa
    não passam de grandes tolos
    comigo nenhum escapa

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  15. O mal é quando, para além de opinar, se consideram, também, os donos da verdade...
    Quando estava a ler este post lembrei-me das constatações/opiniões do Bispo das Forças Armadas, D. Januário... Qualquer uma, destas opiniões, demonstra uma notória falta de modéstia e de ética no comportamento em sociedade.
    Boa Noite, com um enorme abraço

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  16. bom texto o de p c.
    porque será que os comentadores nas tvs são sempre os mesmo 12 ou 15? que monotonia...
    ao fernando rosas nunca gostei do ouvir, na verdade, esse historiador transformado nos momentos em que aparece na televisão em comentador dos factos do dia, falando com aquela especie de segurança cimentada em cimento pouco firme...
    que seca, não há outras pessoas para convidar, sempre as mesmas !!
    quanto à igreja, ela é como é, tem os seus princípios e a sua doutrina, certamente que não irá contra eles, a sua base constitucional, ideológica, moral e espiritual, adoptando ideias que não serão suas, como o casamento homossexual, os actos que considera pecados, etc, como dizer que a rainha de inglaterra é pena não ser republicana...
    fernando rosas não o ouço, não gosto da sua forma nem do seu conteudo, nem do estilo...

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  17. Intratável, a velha senhora:

    só cá faltava o rufino
    sobre quem mais nada opino
    que em tempos já opinei
    onde e quando é que não sei

    vem dizer mal da mulher?
    mas que diga se quiser
    tratei de grandes aqui
    rufinos já esqueci

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  18. Maria Júlia Sobrinho18 de março de 2013 às 16:09

    Olá Dra. Helena:
    No tempo em era aluna de História, na velha Clássica, uma das exigências que nos eram impostas, mais do que saber "papaguear" estórias, era ser isento, verdadeiro e responsável pelas "fontes" quando fazíamos investigação. Tudo o resto, pertencia a uma disciplina"Criatividade" mas já não apresentava nomes, apenas factos, e aí entrava a ficção.Hoje, a "pressa" é tanta para ser visto e ouvido, a maioria das vezes porque se sentem "destronados" que vale tudo. É uma pena! Eu...teria vergonha.Mas ele não a tem.
    Um abraço, Júlia

    ResponderEliminar
  19. Maria Júlia Sobrinho18 de março de 2013 às 16:09

    Olá Dra. Helena:
    No tempo em era aluna de História, na velha Clássica, uma das exigências que nos eram impostas, mais do que saber "papaguear" estórias, era ser isento, verdadeiro e responsável pelas "fontes" quando fazíamos investigação. Tudo o resto, pertencia a uma disciplina"Criatividade" mas já não apresentava nomes, apenas factos, e aí entrava a ficção.Hoje, a "pressa" é tanta para ser visto e ouvido, a maioria das vezes porque se sentem "destronados" que vale tudo. É uma pena! Eu...teria vergonha.Mas ele não a tem.
    Um abraço, Júlia

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  20. Dra Helena,
    Percebo o ponto de vista e até concordaria se, a igreja não tivesse no mundo a influência que tem, ou que mantém.
    Não importa se se é ateu quando os assuntos, de facto, extravasam a religião e entram na área, principalmente, politica.
    Em nome da religião, já se matou mais que no conjunto de todas as guerras. Será a análise de um papa, realizada por um ateu, assim tão descabida? A religião é algo muito terreno, como infelizmente para alguns, se tem demonstrado.
    Uma discussão em torno de questões de fé é que poderia causar estranheza, penso eu.
    Não pretendo defender, nem ele necessitará, o Dr Fernando Rosas, apenas mas o contexto.

    Já agora, e por nunca o ter feito, muito obrigado pela coragem que demonstra na publicação das suas opiniões. Concorde-se ou não, elas, transpiram liberdade!

    Paulo R.

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  21. Não vi esse debate, vou ver se o apanho no You Tube.
    P.Rufino

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