quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A lição italiana



A instabilidade regressou à Europa e ao euro, com os resultados eleitorais em Itália. A maneira mais fácil de analisar estes resultados, nomeadamente a expressiva votação em Beppe Grillo e o retorno de Berlusconi, será considerar que os italianos são irresponsáveis e merecem o que têm. Pode ser um erro faze-lo. 
Talvez fosse mais oportuno que os líderes europeus se debruçassem sobre as razões que podem estar por detrás do que aconteceu. Ou seja, analizarem seriamente onde erraram, o que não fizeram e devia ter sido feito para levar os italianos a responderem deste modo.
As dúvidas sobre as verdadeiras causas da crise europeia e estes resultados eleitorais impõem que deles se retirem as devidas lições. Até porque as alternativas poderão passar pela saída da Itália do euro ou, quem sabe, até pelo fim deste.
Esta lição deverá servir também para Portugal, numa altura em que a governabilidade do país é semanalmente posta em causa. Com efeito, se o ajustamento das condições financeiras é tão difícil do ponto de vista económico, político e social, num governo de coligação, como é que ele seria feito num governo minoritário? E isto mesmo admitindo que o ajustamento pudesse ser outro.
Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar têm de negociar, nesta sétima avaliação da Troika, novas condições de incentivo ao investimento. Porque só ele permitirá a retoma da economia, única saída para a crise e para o flagelo do desemprego.

HSC

9 comentários:

  1. Um outro país a deixar transparecer a debilidade do sistema político/económico!
    A Europa tem que romper com um passado despesista e procurar novas formas de viver acabando com as minorias milionárias e os seus lacáquios. Isto parece irrealizável, mas será que não caminhamos para isso...
    Um abraço,
    lb/zia

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  2. Sem duvida!!... Concordo em absoluto com as suas palavras, e, adianto ainda, que, se torna necessário agir rapidamente, como portugueses e como europeus, com sabedoria (o máximo de experiência possível), sem experimentalismos, com inteligência e perspicácia, sempre coordenados, com uma estratégia que pressuponha o mínimo possível de insucesso. Caso contrário, podem surgir graves situações, propicias a soluções pouco favoráveis, que podem mesmo alcançar estados de fracasso, ditatoriais e totalitários.
    Infelizmente, nada se consegue sem sacrifício...Podemos exercer, no entanto, o nosso pleno direito de pedir a economistas e políticos que, o mesmo, seja bem orientado.
    Boa noite com um enorme abraço, muito preocupado...

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  3. Cara Helena,

    Neste post, em particular uma frase, fez-me pensar com mais atenção na questão do euro. Há muito que oiço "da boca para fora", achava eu, que o euro veio arruinar a Europa, não tanto a entendidos de Economia, ou pelo menos aos que eu desse credibilidade, mas a pessoas, que embora não sejam formados em Economia, outros até sem formação académica, como por exemplo os meus avós, têm a longa experiência de vida da Helena, já viram e passaram por muito, contudo pensava que lhes faltava complementar isso com o conhecimento técnico. Juntando a Helena as duas coisas, se pudesse e tivesse "pachorra", gostaría de saber se acha que o euro foi uma tentativa falhada de unificar a Europa? Como nunca tive oportunidade de ouvir ou ler a sua opinião relativamente ao assunto, deixo-lhe aqui a minha vontade expressa. Se não quiser falar do assunto, também não tem problema nenhum.
    Obrigado,

    HC

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  4. A experiencia do euro saiu gorada, existe fome, dividas, desemprego e muita ansiedade por esta Europa fora
    Deviamos acabar com o euro e dar mais valor ao ser humano do que a esquemas financeiros falhados que servem sebretudo interesses alheios.

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  5. Faz hoje 60 anos que um país em dificuldades conseguiu um perdão da dívida (50%) ... nas palavras do Prof. Avelino de Jesus, "O acordo adoptou três princípios fundamentais:
    1 - Perdão / redução substancial da dívida;
    2 - Reescalonamento do prazo da dívida para um prazo longo;
    3 - Condicionamento das prestações à capacidade de pagamento do devedor.
    O pagamento devido em cada ano não pode exceder a capacidade da economia. Em caso de dificuldades, foi prevista a possibilidade de suspensão e de renegociação dos pagamentos. O valor dos montantes afectos ao serviço da dívida não poderia ser superior a 5% do valor das exportações. As taxas de juro foram moderadas, variando entre 0 e 5%.
    A grande preocupação foi gerar excedentes para possibilitar os pagamentos sem reduzir o consumo. Como ponto de partida, foi considerado inaceitável reduzir o consumo para pagar a dívida.
    O pagamento foi escalonado entre 1953 e 1983. Entre 1953 e 1958 foi concedida a situação de carência durante a qual só se pagaram juros."

    Senhora Merkel, com todo o respeito, vá estudar história ...

    N371111

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  6. Enquanto as pessoas acharem que o problema está na Srª Merkel ou no Sr. Grillo , no sistema não sei quê que se elimina com uma varinha mágica ou na solução encontrada a meio do século passado para o problema específico do país A ou do país B estamos "feitos" .
    No mundo globalizado de hoje o problema está em toda a parte e em toda a gente , elas caiem de onde menos se espera e não se ficam as consequências só pelos que estão ali a jeito .

    Vivemos assim numa época em que este post da Drª Helena ou os nossos comentários são lidos nos confins da Ásia ou da África por um cidadão qualquer no minuto seguinte e que deve pensar "ils sont fous , ces portugais!".

    O progresso (o bom e o mau) foi maior nos últimos 30 anos que nos 3000 anteriores e ninguém perde 5 minutos a pensar nisso .

    O país está "velho" , a economia está a andar para trás porque o resto do mundo que nos comprava também está "teso" e não há outra saída além da que está no último parágrafo do post e cá nos aguentaremos "tant que mal".
    É na luta que se sai delas .

    Quanto à saída do euro nem digo nada , acho que ninguém faz ideia das consequências no seu dia-a-dia.
    Ouviram falar nas vantagens , que as tem (claro!) e nem deram muita atenção às desvantagens , que também as tem (claro!)-o habitual .

    RuiMG

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  7. para alem do voto de protesto nos e de rejeição dos mais que gastos partidos e politicos tradicionais, verifica-se que a italia é uma caldeira em permanente estado de ebulição donde saem sempre novos cozinhados: o pci que já era europeista há tempos desapareceu com o muro de berlim, o psi desapareceu com craxi, a democracia cristã dissolveu-se em não sei quê, novos partidos apareceram e constituiram-se regularmente, como este de bg (um grande comediante especialista em monólogos), outros desapareceram, enquanto o pr da rep actual foi um importante dirigente comunista etc.
    a italia que já teve uns 100 governos desde a 2a guerra e sempre sobreviveu igual a si mesma, sobrevivirá tambem agora, não duvido. o país que fez parte do nucleo fundador do mercado comum assinado em roma e que fabrica a vespa e o ferrari continuará como é fazendo politica com imaginação e negócios com habilidade e esperteza, guardando zelosamente o vaticano e o papa no meio de roma...

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  8. Caro Patricio
    Tem razão. Oxalá assim continue a imaginação deles...

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