quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Street food


Maurício Barra abordou recentemente o tema das bifanas e dos pregos no seu blogue umgrandehotel.blogspot.com, aproveitando para tecer algumas considerações sobre a a "comida de rua" que me permiti roubar e reproduzir abaixo:

“...Street food",(é um) velho hábito europeu, hoje substancialmente reduzido devido à profusão de legislação sanitária e de licenciamento económico que nos submerge todos os dias ( ainda me lembro das dificuldades que os Hot Dogs da Boca do Inferno - os melhores de Portugal - tiveram de sofrer para serem licenciados ). A "Street Food", nestes tempos, com uma oferta infinita de diversidade e qualidade, pratica-se sobretudo na Ásia América Latina e América do Norte, e é um repositório dos sabores tradicionais dos seus países.

Não é comida de plástico. Não é fast food. São sabores "slow food" servidos rapidamente. A "Street Food" ´é gastronomia. Sempre ao dispor de quem a quiser saborear sem complexos de que "os seus parentes caiam na lama".

Acontece que o bom do Anthony refastelou-se, entre outras iguarias, com o nossos pregos e bifanas ( ?, sujeito a confirmação ). E fez muito bem. É a nossa "street food" mais consensual a nível nacional, hoje servida entre portas, a maior sobrevivente dos petiscos que em tascas e caramanchões durante vária gerações foram ( são ) o prazer dos portugueses.

E assim fica introduzido o tema que aqui me traz hoje.

O prego ( de vaca ) e a bifana ( de porco ) tem inúmeros templos em Portugal. Diria centenas. Eu falo dos que conheço. Mas dos quais ainda não discorro porque é essencial deixar claro que estas manducâncias precisam de um segundo produto sem a qual não têm a expressão devida : o pão.

O pão. Seja carcassa, molete, vianinha, papo-seco, ou têm qualidade e são devidamente aparelhados ou . . . estragam tudo. Têm ( desculpem, devem ) ser de mistura. E pré-aquecidos em torradeira antes de ser servidos ( eu uso, para isto, as antiquíssimas placas com rede que torram directamente sobre a chama ), para serem comidos estaladiços e crocantes”.

O que me leva a recuperar este tema é a preocupação que tenho de que as exigências sanitárias, acabem com tudo o que de verdadeiramente genuíno se produz no país.

Portugal tinha uma longa tradição, que ainda conheci, de bons petiscos servidos em pequenas tasquinhas familiares, em cujas mesas se reuniam não só gentes de parcas posses, mas também aqueles que, não tendo preconceitos sociais, gostavam de se misturar e provar bons pitéus.

A ASAE cuja função é fiscalizar o que comemos tem que, em simultâneo, defender, estes pequenos recantos, corrigindo falhas que possam existir, mas não pondo em causa o "valor acrescentado" que eles representam, num país que vive uma crise económica grave e cuja gente se vê obrigada a cortar, até, na alimentação.

Maurício Barra tem toda a razão no seu post. A gastronomia nacional também é feita de pastéis de bacalhau, rissois, croquetes, pregos e bifanas. Verdadeiras iguarias, quando cozinhadas a preceito por sábias mãos!

HSC

6 comentários:

  1. E a falta que lhes sinto! Para quem esta fora, sao autenticos manjares dos deuses! Gosto tanto de tasquinhas!
    Obrigada, Helena, por alertar para esta questao.
    Beijinho!

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  2. Oxalá cara Helena que os vossos alertas cheguem a quem decide.

    Na ancia de "apresentar serviço" a Asae fica cega, cumpre ordens e vai deixando abertos só os estabelecimentos para elites.

    Por todo o Mundo existe comida de rua e não morre gente por isso. É bem agradável uma bifana ou cachorro no final de um espectaculo ou num passeio à beira rio num fim de semana.

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  3. Cara Helena:

    Tudo isso faz talvez parte de uma cultura moribunda (não estou bem certo) - o Cacau da Ribeira depois das Boîtes - hoje em dia há discotecas (nome traduzido à pressa dos Disco) e não sei o que se faz a seguir, aliás, sei, ainda frequentei bastante, vai-se para os "after hours"; não há tempo para a Street Food o é uma pena e uma perda grande, como é uma pena a perda da Cafe Society!

    Raúl.

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  4. Olá Helena!

    Este ano resolvi voltar a Tomar com a minha mãe para comprar uns queijinhos pequeninos que a minha avó costumava oferecer à minha mãe e que fizeram as delícias da minha infância, foi forte a nossa desilusão, as lojas de mercearia fina tinham queijos de vários lados mas não conseguimos comprar os queijinhos de Tomar da minha infância. Os comerciantes da cidade contaram-nos que por medo da ASAE deixaram de os comprar aos pequenos produtores. Hoje queijinhos de Tomar só no mercado ´negro´ comprados a pessoas amigas que os fazem pela calada da noite.

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  5. E moelas...
    Acho o post bem saboroso, subscrevo.

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  6. A Asae foi criada em 2007 e ´so agora é que o povo começa a desconfiar que afinal, a pretensão de que é para defender o consumidor é uma camuflagem !!! pêlo de cordeiro , mas por baixo é um lobo !

    Isto fez-me voltar aos tempos dos indios da america que depois de tentarem fazê-los de escravos sem resultados, começaram a abatê-los ! É claro que apesar não terem armas de fogo, os indios estavam melhor adaptados ao terreno que os colonos e fugiam e refugiavam-se nas matas densas.
    Os padres jusuitas responsaveis pela envangelização , convenceu-os a sairem das matas e unirem-se em Reduções ( comunas) onde aprenderam tecnicas de metalurgia e fabricavam artefactos. Só que , passados uns tempos depois do medo desaparecer começaram a ser atacados de surpresa pelos colonos! Alguns padres jesuitas foram mortos pelos indios porque começaram a suspeitar que eram eles que davam as informações para os ataques certeiros! Supeitaram e bem mas já era tarde.

    Muitos séculos passaram mas o sistema é o mesmo ! A bem do consumidor ?

    A bem do consumidor, eliminar tantos postos de trabalho?

    Os queijinhos de Tomar irão desaparecer ! Se quiser queijo vai ter que comprar o industrializado cheio de pasteurizantes !

    Há poucos dias o Hugo Chavez dizia que suspeitava que os EUA andavam a fazer qualquer coisa aos presidentes da america latina, porque era muita coincidência aparecerem com Cancro quase todos !

    Ele tem razão , mas não são só os presidentes, somos todos nós !!!
    Quando se veêm imagens horrificas das unidades produtoras de animais e derivados, onde os animais são encharcados com antibioticos e hormonas de crescimento !! O que é que se pode esperar!

    OGman

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