domingo, 20 de fevereiro de 2011

Winter´s bone

Gosto de ir ao cinema ao Domingo quando o sol ainda não está seguro. Herdei a paixão do cinema e julgo tê-la transmitido aos meus filhos. Durante anos colaborei num projecto do meu amigo António Pedro de Vasconcelos, tendo ensinado guionismo e escrita criativa, amenizando, assim, as aulas de economia que também dava num estabelecimento universitário não muito distante. Foram anos felizes nos quais aprendi a ensinar. Ou seja que quem ensina, também aprende. Ainda agora me acontece isso, ao fim de tantos de carreira no ensino universitário. Nunca sei quem mais aprende: se os discentes, se os docentes.
Fui ver hoje o Winter's Bone, que em Portugal creio ter tido a tradução de Despojos de Inverno. Confesso que o filme me perturbou mas não sei bem dizer porquê. Alinhado no cinema independente, é realizado por uma mulher, Debra Ganick, que já em 2004 havia feito "Down to the bone" que no Sundance Festival, merecera um prémio de realização.
Este que agora vi, como já aliás o outro, aborda o lado negro do american dream e do interior de uma América perdida e dramática em crise de recessão. Trata-se aqui do interior empobrecido e esquecido da America do Norte, no caso, dos montes Ozark e do gélido frio do seu Inverno.
É um filme lento, depressivo e denso, servido por imagens fotográficas de grande qualidade e por interpretações excelentes. Mas saí da sala de cinema com uma singular impressão de intranquilidade. É uma película importante, que "deve" ver-se até ao fim, sabendo que não vai ser fácil ficar na sala. Como acontece com muitas outras coisas que fazem parte da nossa cultura!

HSC

2 comentários:

  1. É bem verdade, Drª. Helena, que ainda fazemos parte daqueles que adoravam estar em todas as estreias, trajando a rigor, sabendo quase tudo sobre realizadores, actores, enredo, e fotografia...
    Nessa altura existia o culto, militante, do celuloide.
    Nos intervalos lá se tomava um café, bem cigarreado, ajeitavam-se o nós da gravatas, teciam-se doutas considerações sobre a pelicula e regrassavamos a casa depois de termos passado por um dos pontos de encontro lisboetas onde, em pequenos grupos, se continuava a falar sobre o filme.
    O celuloide foi substituido avantajadamente pela caixinha mágica que nos roubou o pretexto de nos encontrarmos em cultura lúdica.
    Cinema..., ainda me lembro daquelas americanadas, entre caras pálidas e os pobres dos indios, uma forma encapotada de nos incitar, grotescamente, ao racismo e xenofobia, para não falar nos malandros alemães que perdiam sempre com ingleses e americanos.
    O cinema francês era bom, mas era duro de roer quando o heroi começava a distribuir toneladas de sonoros murros e acabava feito num oito, mas heroi bem penteado...
    Jackes Tati enchia-me as medidas
    E a «porca miséria» italiana? «O Ladrão de Bicicletas» marcou-me positivamente.No realismo, Fellini tornou-se num dos meus ídolos entre os realizadores.
    Nos filmes de suspense, realizados por Hitchcock, penso ter visto quase todos.
    Agora remeto-me ao comodismo de estar sentado a olhar o Tv, intermitentemente porque, volta e meia, já vou parando nas boxes. Demasiado incómodo quando o meu queixo pousa com mais veemência no meu externo que fica a doer...
    James Bond, muusicas lindas, mulheres a condizer, bandidos à maneira de sua magestade, e o heroi, sempre bem enfarpelado, estilo VIP, sem cerimónias, entrando num qualquer gabinete médico do «povão», para seduzir uma enexperiente médica, socialmente falando, e sair de lá com um papel timbrado, que lhe facilitaria a vida na sua viagem ao serviço de sua Magestade!
    Dos filmes portugueses tenho uma grande saudade, colmatada, quando posso, revendo-os, para rir a bom rir!
    Uma boa semana!
    MO

    ResponderEliminar
  2. Este fim-de-semana não fomos ver o mesmo filme... mas o Cisne Negro também é inquietante e saí da sala de cinema com uma forte impressão de intranquilidade.

    O papel da Natalie Portman é merecedor do Óscar de Melhor Actriz. No entanto, espero que o Óscar de Melhor Filme vá para o "Discurso do Rei" (e mais uns tantos!).

    Isabel BP

    ResponderEliminar