A primeira realidade vem do lado da receita. Antes, eu trabalhava cinco meses para o Estado e sete para mim. Mais coisa, menos coisa. Agora, com quatro livros publicados neste ano, o mesmo Estado vai arrecadar cerca de sete meses do meu esforço e eu... cinco.
Logo a solução para o próximo ano, será trabalhar menos, para manter a anterior paridade. Mas como tudo vai ficar mais caro só tenho dois caminhos. Um, a troca directa - o meu trabalho contra trabalho de outrem que me faça falta - ou o meu trabalho contra os bens de que necessito. O outro caminho será o trabalho marginal. Não, não é esse que estão a pensar. O decoro e a idade não mo permitem. Falo de explicações dadas aos alunos maus das famílias boas. Esse é dinheiro limpo e não paga qualquer indecoroso imposto.
Do lado da despesa aqui vão os cortes. Tinha empregada doméstica nove horas por semana. Vai passar a seis. Enchia o depósito do carro de dez em dez dias. Vai passar a quinze. Ia ao cabeleireiro uma vez por semana. Vai passar a uma vez de quinze em quinze dias. Almoçava fora três vezes por semana. Passarei para duas. Ia ao gourmet do Corte Inglês duas vezes no mês. Passo a uma. Mantenho os livros, as pessoas que ajudo e continuo a viajar em leilão ou por pontos. Se nada mais se alterar o meu nível de vida desce mas é, ainda, suportável.
Se conseguir vender a casa, como pretendo, mando tudo às ortigas e vou viver para a minha segunda cidade de eleição, Paris, que sempre fica mais perto do meu neto que está em Bruxelas. É que nem ginjas, como diria o nosso povo.
Tenho uma imensa tristeza só de pensar em deixar a terrinha. Mas a minha tensão arterial volta ao normal, o sono reequilibra-se, as tristezas desaparecem e eu sobrevivo sem estas telenovelas políticas de baixa classe B...
HSC
"Se conseguir vender a casa, como pretendo, mando tudo às ortigas e vou viver para a minha segunda cidade de eleição, que fica mais perto do meu neto que está em Bruxelas."
ResponderEliminarBem ... tb não precisa de ser radical, não é? Tanto mais que Bruxelas é uma cidade triste, cinzenta, macambúzia e isso deprime.
Meu caro Lura
ResponderEliminarFelizmente a minha segunda cidade de eleição é Paris. De cinzento já eu estou cheia...aqui, mesmo com este sol radioso!
Precisa de uma auxiliar que a acompanhe a troco de serviços domésticos e paz? Inscrevo-me na lista de candidatos ao lugar
ResponderEliminarCara HSC, estou absolutamente solidária consigo.
ResponderEliminarHá três anos começava a não gostar de alguns maus sinais no meu local de trabalho e, contra tudo e contra todos, vendi a minha casa e tive de abdicar de muito, muito mesmo...E estava certa, pois estou no desemprego desde 2008 e as perspectivas estão longe de ser animadoras. E lamento não ter tomado certas decisões 10 anos antes, quando havia outras oportunidades, uma das quais no país onde nasci, a éones destas telenovelas povoadas de Steinbrokens e Gouvarinhos duvidosos . Hélas!
Por isso, se for em prol da sua saúde e bem-estar, abrace Paris e seja feliz!
ZMS
Minha cara Gaivota
ResponderEliminarNão brinque, que ainda chegamos a um acordo!
"Ah, Paris, Paris! Ah, Marie, Marie!" Lembra-se? Charles Trenet. O nível de vida desce em todos os sentidos e não só no financeiro mas também naquele a que agora se chama "qualidade de vida" (expressão horrível!) Também ando a pensar muito a sério em deixar Lisboa. O único problema é: para onde? Sabe, depende das lecas... Pardon my French! Paris, sempre, mas se o dinheiro não der, talvez uma casa pequena com um quintal no meio do Alentejo, onde se possa plantar uns espargos verdes e umas ervas-de-cheiro, umas alfaces às cores, uns tomates muito encarnados, enfim o meu "gourmet"... à la portée de ma bourse, qu'en pensez-vous? Uma coisa é certa: não aturo mais as buzinas de Lisboa! Dixit. Raúl.
ResponderEliminarEstou pronta, Helena. Se decidir sair já tem quem a acompanhe. Se comprar um apartamento sempre posso assisti-la a si e fazer limpezas nos outros andares, se tiver tempos livres. De certeza que vou ter mais do que agora. Sou pensionista da função pública e de nada me valem agora as 2 licenciaturas e o mestrado. Como estas acumulações não contam para nada, até porque neste país parece ser pecado tudo o que ultrapasse o currículo académico do JS, talvez assim possa ajudar as minhas netas a terem uma vida agradável, já que a das filhas está tão complicada como a do resto do país. Tenho pois condições para chegarmos a um acordo. Parabéns pelos livros que "pariu" com tanto amor e que nós lemos com tanto prazer.
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ResponderEliminarTU NEM TE ATREVAS SEQUER A PENSAR EM SAIR DE CÁ!!!!
ResponderEliminarApesar da crise e dos cortes--ainda dá para um café?
Tenho saudades tuas...
Bjs
ALICE
Gaivota, comprar casa, "jamais". Agora, até aqui, só alugar...
ResponderEliminarFelizmente, em França, tenho casa familiar!
Cara Helena ca a espero !
ResponderEliminarQuanto à Gaivota...nao sei se se daria por ca...longe do mar ;
E nao dê ouvidos à Alice...é que ela vive no Pais das Maravilhas : ))
Aproveite rapidamente que o crepusculo ainda esta cinzento-rosa ; )