domingo, 6 de junho de 2010

A idade da vertigem

Acabo de saber do divórcio de um casal que eu julgava perfeito. Se é que há casais perfeitos. Tinham feito quarenta anos de matrimónio, celebrados com umas férias paradisíacas.
Quando o marido me deu a notícia pensei que brincava. Mas não. Era verdade.
Este homem de 63 anos decidiu mudar de vida. Daquela que lhe resta. Para trás ficam quatro filhos - um já casado e outra a caminho disso - uma companheira, uma profissão que tenciona também abandonar, enfim, uma existência.
Quando lhe perguntei porquê, a resposta foi: cansaço. Cansaço enorme de tudo o que vivera.
Incrédula, questionei se havia outra pessoa. Houve várias, tu sabes. Mas não há, agora, nenhuma especial, retorquiu.
Depois ouvi-a a ela. Não percebe o que se passou e entende tratar-se da fatídica andropausa. Perguntei-lhe se não tinha consciência de ter falhado algo, de ter gorado expectativas. Julga que não. Está infeliz, mas não fará nada para recuperar o marido. Porque, diz, sentimentos não se recuperam.
Vim para casa triste. Com a sensação de que, aos poucos, as vidas também se dissolvem. E de que, quando tal acontece, começa a haver a idade da vertigem. Que pode dar a qualquer de nós. Basta querer "recuperar" o tempo que lhe resta!

HSC

7 comentários:

  1. Sei bem dessa ideia de "casal perfeito". Parece que se torna o primeiro a sucumbir.
    Um casamento é uma tarefa cheia de desafios; também fico devastada ao saber destes fins.
    Mas, mesmo que tarde, é mais honesto recomeçar do que viver uma vida inteira de frustrações e enganos.
    Existem tantas razões...
    Mas tenho muita pena, quando um projecto assim se gora.
    Porque, apesar de tudo, não é fácil recomeçar. Muito menos nessa faixa etária. Implicou muita coragem, a um, que decidiu partir, e a outro, que se viu deixado.
    Por isso sei que existem muitas almas que preferem um certo fingimento e manter a ilusão de um núcleo familiar.
    É muito difícil, a solidão.
    Muitíssimo.
    E atirarmo-nos para outros braços só por isso, um erro tremendo.
    Para todos.
    Não sei se alguma vez se 'recupera' algo...
    Este é o maior jogo das relações humanas.
    E o mais violento.

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  2. A crise não é somente económica. Como sabe há uma enorme crise de valores. Tudo isto se conjuga e leva muitas vezes ao cansaço do e como se vive.Os casamentos longos não escapam a este estado de coisas e embora julgue que o contrário o tempo não é bom conselheiro nestes casos, sobretudp quando um do casal não assume o passar dos anos. Aí atinge o dramático e dá naquilo que aconteceu aos seus amigos. Eu percebo bem que digo, infelizmente.

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  3. Concordo com o comentário da Gaivota Maria.
    Na verdade, a sociedade em que temos vivido,sim. Digo, temos, pois considero que este modelo de sociedade, está esgotar-se por si própria. E com ela, também os valores que tem defendido, ou seja, este relativismo moral, que se instalou e proliferou.
    Ao ponto, de projectos de uma vida construída a dois, se desmorenarem e os casais não assumirem o passar dos anos, como processo natural e quiçá, delicioso e ternurento.

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  4. Gostei do comentário de Margarida.
    Essas coisas, por vezes, acontecem. E são dolorosas. Dois amigos, recentemente, passaram por uma situação semelhante. Mas, ainda assim, compreendo melhor este tipo de situações, do que as que sucedem hoje, cada vez com mais frequência, que é o divórcio de casais jovens, menos de 2 anos passados sobre o tal casamento (por vezes até com pompa e circunstância). Nestes casos, há, seguramente, muita imaturidade, o que não será certamente o que acontece no exemplo aqui citado, no Post. São decisões mais maduras. E reflectidas, apesar de tudo.
    P.Rufino

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  5. Querida Helena,
    Este post, e outros que regularmente aqui leio, não me deixam indiferente. A este gostaria de dizer muitas coisas mas a Maggie ja o disse muito melhor do que eu.
    Um abraço

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  6. A imagem de casal perfeito, apenas pode atrair-nos, como encantamento, como cantico da sereia, sonho romântico, mas de facto, não acredito sequer que seja possivel. Durante a nossa vida amamos muito e com sorte algumas vezes e, felizes quando correspondidos, só o amor conta, só o amor valida a nossa vida, as nossas lutas. São tantas as mudanças que sofremos ao longo da vida que manter aos 60 o amor dos 20 é, impossivel. O enamoramento é o encontro de duas pessoas, que se encontram na mesma fase de crescimento, de disponibilidade, de maturidade, mas ambos crescem, ambos se afastam daquelas pessoas que eram quando se conheceram. Casal perfeito? neste post, ele até reconhece que ao longo da vida "houve várias" que concepção de casal perfeito, sem, pelo menos respeito, pelo outro...Para mim que sou irremediavelmente romântica casamentos longos, são, na maior parte dos casos, túmulos caiados, na melhor das hipotises, são dois amigos em boa e sã convivência, mas tal, não é por si um casamento, eu até me dou bem com o meu vizinho.... O amor é outra coisa, dá-nos paz, enaltece-nos, torna-nos maiores e melhores, maiores que o mundo, mais luminosos que o sol, faz-nos sentir "chegados a casa". Desculpem, mas fico muito feliz por alguém que aos 63 anos, continua a ter capacidade de sonhar, convence-nos que estamos de facto a aumentar a qualidade de vida, não só a longevidade, Aos 63 anos não somos velhos, continuamos a sonhar e a acreditar que somos capazes. E, por favor não me falem de solidão, difícil não é viver só é viver mal acompanhado.-

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  7. Cara Carolina
    Quando falo em casal perfeito falo de vida harmónica. É evidente que após trinta e tal anos de casamento, a emoção da vida em comum tem cambiantes diferentes do começo.
    Mas não sou tão romântica como a Carolina e sei que há muitas formas de se viver um casamento. O ideal é a fidelidade. Mas deveremos ir para um divórcio sempre que um dos cônjuges claudica? Uns dirão que sim. Outros dirão nem sempre.
    Muitas mulheres viveram felizes tolerando certas infidelidades porque, apesar delas, sabiam que eram "únicas". Outras separaram-se e nunca mais foram felizes. Outras ainda pensaram nos filhos e aguentaram até estes serem maiores. Outras separaram-se e nunca mais quiseram amar...
    Enfim, Carolina, não há casamentos perfeitos porque não há pessoas perfeitas. Mas pessoalmente julgo que se deve ter com o outro a tolerância que gostaríamos que tivessem connosco. Com as nossas fraquezas. Porque nós também as cometemos.
    O que sustenta um casamento de 40 anos é um emaranhado de sentimentos, nem sempre os mais louváveis. Mas o que sustenta uma vida sozinha, por vezes, também não!

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