Hoje, a propósito de um emigrante português em Paris, que esteve dois anos morto em casa, sem que a família que possui em ambos os países - deixa viúva e seis filhos -, estranhasse a sua ausência, o Dr. Francisco Seixas da Costa escreve, no Correio da Manhã, um oportuníssimo texto, intitulado "Imensa Solidão", cuja leitura recomendo vivamente.
Para além da qualidade literária, a crónica debruça-se sobre os problemas da emigração e da infinita solidão que ela, tantas vezes, arrasta consigo. Porque em grande parte dos casos, a família fica dividida e, se quem sai não consegue integrar-se, acaba por sentir que não pertence nem a um nem a outro dos países. É assim que começa o isolamento. Que conduz inexoravelmente, a que cada um se vá, de modo progressivo, fechando sobre o seu próprio destino. Tanto, e de tal modo, que acaba por se esquecer de si!
H.S.C
Desculpe-me a intromissão.
ResponderEliminarEu li a crónica que refere. Não obstante a excelência da crónica, e não obstante a importancia da relação entre a emigração e o isolamento trágico gostaria apenas de referir o seguinte:
Eu tenho 30 anos. Não emigrei
Vivo aqui, entre todos nós.
E até há bem pouco tempo morava sózinha, e vivia com o terror de que isto que foi noticiado me acontecesse a mim.
Criei rotinas para que a minha falta fosse notada, no emprego sabia-se a quem telefonar caso não comparecesse ao trabalho, qdo o tinha.
Os meus vizinhos conhecem-me e conhecem os meus horários. Os meus amigos sabem em q datas em não faltaria nunca a menos q algo terrivel tivesse acontecido.
A minha familia, longe de ser uma familia exemplar, tb de tempos a tempos dá sinal de vida.
Então pq o terror, a angustia, o desfazer da minha intelectualidade por saber q podia morrer sózinha em casa e q só dariam por isso daqui a 1 ano ou 2?
Pq isso PODE de facto acontecer.
O Homem hoje é tão cioso das suas coisas, do "seu" mundo que um bocadinho fecha-se, um bocadinho é fechado lá dentro.
Hoje, o q é certo q não faltaria ao trabalho pq não faz parte da minha maneira de ser e toca alarmes, é visto banalmente com o "se calhar não lhe apeteceu e está no seu direito".
Somos tão livres de dizer "não fui pq não me apeteceu, deixem-me estar no meu canto" que isso deu todas as desculpas aos outros de não quererem saber.
É o paraíso da desrresponsabilização, não olharmos para o lado e reparar-mos q alguém não está lá, como não vai estando há mto tempo.
Não sei (felizmente) dessa solidão. Mas sei o que seja a solidão apátrida, sem ser daqui, nunca sendo de lá, tentando a integração constante sem que ela jamais exista a 100%. Coisas simples como a falta de referências geracionais porque se cresceu num mundo outro, a formatação mental discrepante, coisas simples como sotaques denunciadores que se pensa não se ter. Não é uma solidão densa, mas não deixa de ser a solidão do Eu na sua diferença.
ResponderEliminarFaz falta textos destes (ou fazem falta??).
An
ResponderEliminarO seu texto é comovente. Tem toda a razão no que diz. Surpreendente é, que tenha 30 anos e uma cabeça e um coração tão sincronizados! Não é vulgar, mas eu conheço casos como o seu. Num outro post que escrevi, Domingo passado, abordei a "desatenção" que hoje existe entre as pessoas. É um outro lado da medalha de que falamos.
Conheço quem diga a sorrir " se morrer ao fim de semana, só sabem segunda feira quando a empregada chegar!".
Bela loira todos nós, afinal, sentimos um pouco disso, de não ser totalmente de nenhures. Elitismo? Talvez, mas nem por isso menos real...
ResponderEliminarA notícia é arrepiante e é-o de tal maneira que chega a parecer que foi uma montagem propositada para dar brado! Dois anos e só agora é que se deu pelo cheiro putrefacto? Não sei, mas, realmente, o cerne da questão aqui posta é A Solidão. Eu evito-a. Gosto de estar comigo mesmo, como a maior parte das pessoas, mas preciso de companhia para o jantar, nem que tenha de ir buscá-la aos empregados de algum restaurante onde eu seja mais assíduo. Já sofri com a solidão mas tentei ultrapassá-la com estes, chamemos-lhe... estratagemas? E por que? Todos nós temos amor-próprio e o instinto da perservação! Agora imaginem não um a um, mas tanto tempo apenas uma cadeira por amiga...
ResponderEliminarRaul,
ResponderEliminarQuem não passou, já, por isso? Nas mulheres é bem mais difícil, porque quando vão jantar sozinhas ainda são olhadas de soslaio...
Não será, também, por razões destas que são poucos os homens que ficam sozinhos?!
E já agora outra achega: que dizer do horror da solidão acompanhada? Quantos, para não ter a outra, acabam com esta nos braços?
Ahhhh o estigma da mulher que janta sózinha,ou vai tranquilamente beber um Bushmills, ou quiçá como as britânicas, beber um copo de vinho. ("Que bêbeda!!) Sinceramente esse estigma sempre me divertiu mais do que incomodou.
ResponderEliminarCada um sai de casa ao que vai, e ao que vai será sempre da sua conta.
Mais do que sentir esse estigma de ser mulher na situação será o de ser o "bicho" diferente.
E dou-lhe um exemplo que nada tem a ver com sexos.
A solidão pode manifestar-se simplesmente por ter um colega de trabalho que não sabe quem é o Secretário Geral do PS.
E sobre isto basta fazer 1+1.
Nome do Primeiro Ministro + De que partido é o tipo.
E não sabem. Não somam. Não raciocinam. É muito dificil.
A total alienação da realidade nestas pequenas coisas colocam alguns incrivelmente isolados, olhados de lado ("Aquele bicho só deve lêr o "Expresso" e o "Diário Económico não?!"
De inicio sente-se a frustração, depois disfarça-se com, como dizem os brasileiros "Eu sou ligado!"
E por fim é mesmo isso.
Estamos sós.
Sós com as nossas ideias sobre isto ou sobre aquilo.
E como a Helena referiu, e bem, alguns preferem camuflar isso com uma companhia permanente.
Preferem estar sós com companhia, doi-lhes menos.
Houve um tipo q disse qq coisa mais ou menos assim: "Odeio quem me rouba a solidão sem verdadeiramente me oferecer companhia!" ... Acho q foi Nietzsche
Oferecer companhia dá trabalho...
E como disse "Conheço quem diga a sorrir " se morrer ao fim de semana, só sabem segunda feira quando a empregada chegar!"."
Como conseguem sorrir??? Como??
Quando dei o meu grito do Ipiranga, senti-me tão feliz que durante 1 mês não pensei nisso. Depois veio a rotina banal do comum dos mortais.
E veio o pânico.
É assustador pensar q posso ter um ataque cardiaco e não conseguir pedir ajuda, finar-me e só 1 ano depois estranharem verdadeiramente, não os ouve? É assim: "Aquela fulana de tal, nossa amiga, companheira, meio diferente lá nas suas politiquices já não aparece HÁ DEMASIADO tempo... Que é feito dela? Ohhh, se calhar casou e mudou-se, não fui convidado p participar na sua vida (q se lixe!)
Os humanos estão assim, neste estado de decomposição.
A solidão acompanhada tive a sorte de nunca a ter tido, a outra, sim, tive-a.
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